O ano letivo nas escolas e faculdade está começando
e tenho certeza que esta pergunta virá por meio dos alunos e alunas ou pelos
meus colegas professores. Neste momento muito delicado em que muitas vidas
humanas foram retiradas e um sistema ecológico todo entrou e está entrando em
colapso, fica muito evidente a enorme preocupação com o controle, a legislação
e a gestão do impacto das ações empresariais no Brasil e no mundo.
Fiquei tentado em escrever ou comentar como muita
gente fez no começo deste triste momento de Brumadinho. Mas acabei acompanhando
e escutando muitas versões e argumentos, e vi muita gente que da noite para o
dia virou especialista em gestão ambiental, conhecedor de relacionamento com a
comunidade, mineração, geografia e topografia etc. Não que o conhecimento deva
ficar na alçada de somente um profissional, mas, temos que escutar, estudar e
entender os especialistas para emitir opiniões e circular informações nas redes
sociais que, ainda, muitas vezes, podem ser falsas. O aprendizado é muito
importante, mas não podemos transformar as informações em verdades universais
ou em hinos de torcida de time de futebol.
Já trabalhei em departamentos de responsabilidade
socioambiental e sustentabilidade de grandes empresas das áreas de alimento e
eletrônico, anteriormente, e fico muito preocupado em ser questionado se estes
departamentos são realmente sérios ou se servem somente como “marketing”. Um
exemplo, é que dentro destas mesmas empresas, muitos dos meus colegas colocavam
como o departamento que abraçava árvores e cuidava de crianças e adolescentes,
com um tom muito pejorativo.
Realmente, para trabalhar nestes departamentos
precisa ter muita resiliência para poder atender as várias demandas dos
públicos impactados pela empresa, sabendo que dentro destes públicos estão
também a comunidade e o meio ambiente.
Os interesses são muitos, partindo pelos acionistas
e as entregas de resultados; os clientes e consumidores, por serviços e
produtos de qualidade; os fornecedores, por pagamento em dia e entrega; os
funcionários pelas suas demandas diárias no trabalho, além de ter que prestar
atenção ao processo produtivo para que não se perca nada. E ainda existe a
gestão da comunidade do entorno e do meio ambiente em que está inserido. É um
olhar holístico que os gestores e acionistas precisam ter cada dia mais. O
olhar linear e a análise do real impacto de cada ação das corporações precisam
ser revista urgentemente.
A mentalidade dos novos gestores e acionistas
precisa passar pela efetiva ação e pensamento diário do tripé da
sustentabilidade: ambiental, social e financeiro. Este termo foi cunhado por
John Elkington, que publicou em junho de 2018 na Harvard Business Review que
está, inclusive, fazendo um recall deste termo.
Neste ano de 2019, o
conceito faz 25 anos e Elkington diz que precisa fazer uma afinação ou uma
melhoria como as montadoras fazem com os carros ou geladeiras quando vêm com
problemas. O visionário diz que daqui a 25 anos poderemos olhar para trás
e apontar que neste momento começamos colocar efetivamente a tríplice hélice na
criação de valor e no código genético do capitalismo, estimulando a
regeneração de nossas economias, sociedades e biosfera.
Se somarmos esta visão com os anseios desta
sociedade que está indignada com esta falta de foco das empresas, com as
questões ambientais e sociais, poderemos quem sabe transformar mais esta
realidade.
Além disso, tem muita gente trabalhando para
fortalecer e engrandecer outros movimentos como o do Capitalismo Consciente,
Empresas B, Negócios de Impacto Social, Finanças Sociais, Empreendedorismo
Social, entre outros. Movimentos estes, que estão tentando agregar nas
empresas, o real valor das questões ambientais e sociais, sem esquecer-se do
lucro. Mas não levando o lucro dos acionistas acima de tudo, de vidas, da
biosfera e de questões éticas.
Não podemos ser ingênuos e achar que empresas que
buscam seus materiais na natureza têm que ser extintas de uma hora para outra.
Ainda, para este tipo de sociedade, precisamos buscar a base dos nossos
produtos e serviços na natureza. Mas, não é possível que temos tanta
tecnologia, inteligência, pesquisa e tudo mais para fazer isso sem “machucar”
ou impactar tanto a biosfera e as pessoas. Temos nanotecnologia, inteligência
artificial, carros e drones andando sozinhos, exoesqueletos, robôs,
biotecnologia, vamos para Marte e para Lua, e não fazemos o básico de gestão,
arriscando vidas e a biosfera por um lucro grande e rápido.
Temos que repensar neste tipo de sociedade que
queremos. Temos que gerenciar não só no lucro, mas também nas outras duas
partes da hélice: social e ambiental. Temos que não esquecer de tudo isso que
aconteceu com estas famílias e pessoas que foram expostas e compartilhadas nas
redes sociais por milhares de pessoas. Não podemos esquecer os rios e as
milhares de plantas e animais que estão morrendo, e tomar uma atitude no nosso
dia a dia.
SIM, as suas decisões diárias podem afetar tudo!
Seja numa decisão na empresa que você trabalha, na escola que você estuda, ou
dentro da sua casa com a sua família.
E NÃO, a Responsabilidade Socioambiental não
morreu, ela se fortaleceu, pois agora o público em geral também começa a
entender o que uma empresa precisa cuidar além do seu lucro! A Responsabilidade
Socioambiental tem que estar na teoria e, principalmente, na prática do dia
dia!
Marcus Nakagawa - professor da ESPM; coordenador do
Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); idealizador e diretor da
Abraps; e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de
vida. Autor dos livros: 101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo
e Marketing para Ambientes Disruptivos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário