Frescura,
fraqueza de caráter, falta de Deus. Quem já não ouviu estas descrições a
respeito de pessoas que sofrem de depressão? Provavelmente este transtorno é um
dos mais incompreendidos e mal vistos em nossa sociedade. Depressão é para os
fracos, desocupados, ateus.
Desmistificar
este distúrbio não é tarefa fácil. Nem por isso, devemos fugir de nossa
responsabilidade de esclarecer uma doença que tanto desencadeia sofrimento e
hoje é considerada o mal do século. Estima-se que hoje 15% da população padeça
deste mal.
O
que é, na verdade, a depressão? É uma tristeza profunda, acompanhada de
anedonia, ou seja, incapacidade de sentir qualquer tipo de prazer. O indivíduo
simplesmente perde a vontade de viver e frequentemente não quer se levantar da
cama, por não ter forças para enfrentar um novo dia. A sensação é de que nada
vale a pena. Viver não vale a pena. A morte é a única saída, a única solução.
Quem
sofre de depressão pode comer demais, ou não conseguir ingerir nada, pode
dormir demais ou sofrer de insônia e, nos casos mais extremos, pode tentar o
suicídio, não por fraqueza de caráter, mas sim por não encontrar outra saída
para o seu sofrimento. Somente a morte poderá livrá-lo de tamanha dor.
Indivíduos
com depressão normalmente padecem duas vezes. A primeira pela dor intrínseca da
doença. A segunda, por se acharem fracos, inúteis, incompetentes ao ouvirem
constantemente as frases: "Você precisa reagir. Não pode se entregar desse
jeito".
A depressão pode ser genética ou consequência de fatores ambientais. Pode nascer de uma perda, de um fracasso, de eventos que ocorreram na infância, falta de amor, bullying, estresse ou simplesmente devido a uma falha neuronal. Sim, a depressão pode ser física tanto quanto um câncer e, no entanto, ninguém diz que câncer é frescura ou falta de fé.
A
religião pode ajudar na luta contra a depressão? Sem dúvida. A fé, a confiança
em algo maior do que nós pode, sim, trazer efeitos benéficos para a nossa vida
e ajudar nas doenças. Mas não se deve nunca usar a religião para minimizar a
gravidade da situação ou desprezar a dor do outro. A depressão é real e cada
dia mais comum. O sofrimento é incapacitante e a ideia de tirar a própria vida
é habitual e recorrente.
Assustador? Sim e não. Com o tratamento correto, é
possível combate-la e levar uma vida normal. Medicamentos e/ou terapia são de
extrema importância e não devem ser vistos como algo vergonhoso ou indigno. Não
há nada mais digno do que a busca do próprio equilíbrio, da sanidade e da
felicidade.
Lucia Moyses - escritora, psicóloga e
neuropsicóloga. Acaba de lançar três livros "A Mulher do Vestido
Azul", "Não Me Toque" e "Um Copo de Veneno" da coleção
DeZequilíbrios - Composta por dez livros independentes entre si, a coleção
explora a mente humana e os relacionamentos pessoais. Cada volume conta um
drama diferente, envolvendo um distúrbio psiquiátrico, tendo como elo o
entrelaçamento da vida da personagem principal -, totalizando seis livros
lançados pela autora.
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