Novos tratamentos promovem uma melhor qualidade de vida aos pacientes
No
Brasil, as Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) atingem 13,25 em cada 100
mil habitantes, sendo 53,83% de doença de Crohn e 46,16% de retocolite
ulcerativa, segundo dados apresentados no “I Congresso Brasileiro de Doenças
Inflamatórias no Brasil (GEDIIB)”, realizado em abril, na cidade de Campinas
(SP). No mundo, essa condição atinge mais de 5 milhões de pessoas, segundo dados
divulgados pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP).
As DII
podem ser definidas como um grupo de doenças crônicas, que causam um processo
inflamatório no trato gastrointestinal. Representadas pela doença de Crohn e a
retocolite ulcerativa, as DII podem
ocorrer em qualquer idade, mas são mais comuns em adolescentes e adultos
jovens, entre 15 e 40 anos, tendo um segundo pico de incidência por volta dos
55 e 60 anos.
Segundo a
gastroenterologista e coordenadora clínica do Ambulatório de Doenças Inflamatórias
Intestinais do Hospital Felício Rocho, Carolina de Paula Guimarães Baía, a
doença de Crohn é mais comum em mulheres e tem caráter transmural, podendo
ocorrer em qualquer parte do trato digestivo, da boca ao ânus. “Já a
retocolite ulcerativa, parece acometer igualmente homens e mulheres e ocorre
apenas no reto e cólon (intestino grosso), com um processo inflamatório
restrito a mucosa e de ocorrência contínua”, explica.
Carolina
Baia destaca que de um modo geral, as doenças inflamatórias intestinais têm
maior incidência em países desenvolvidos, como os do norte da Europa, os
Estados Unidos e o Canadá.
De acordo
com a médica, nos últimos anos houve um aumento do número de casos em outras
regiões europeias, no Japão e em algumas regiões da América do Sul, como a
Argentina, Chile, Uruguai e nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. “Acredita-se
que essa preferência por países desenvolvidos esteja relacionada ao elevado
padrão de higiene. Existe uma teoria que defende que a falta de contato com
agentes infecciosos e parasitários na infância, faria com que o sistema
imunológico dessas pessoas se tornem incapazes de produzir respostas
imunológicas adequadas, o que contribuiria para o desenvolvimento da doença”,
esclarece.
Carolina
de Paula Guimarães Baía ressalta que os fatores ocasionadores das DII e a
maneira que os mesmos se manifestam, ainda são pouco compreendidos. Segundo
ela, alguns autores defendem que a flora intestinal pode estar envolvida no
processo de desenvolvimento da doença. “Outras causas observadas, é que
pacientes com este tipo de enfermidade, geralmente, têm um sistema imunológico
alterado e um intestino mais permeável à entrada de diversos microrganismos.
Fatores ambientais parecem estar envolvidos e vários já foram implicados, como
a dieta, o uso de contraceptivos orais, vacinas e infecções, mas o único que
tem o seu envolvimento comprovado é o tabagismo. O fumo parece predispor à
doença de Crohn e piorar o seu curso”, comenta.
As
doenças inflamatórias intestinais se caracterizam por períodos sintomáticos e
assintomáticos. Dentre seus principais sintomas estão a dor abdominal,
diarreia, emagrecimento, palidez, febre, perda de apetite e fraqueza. Os pacientes também podem apresentar manifestações
extra-intestinais da doença como dor e inflamação das articulações (artrite e
artralgia), aftas na boca, lesões de pele como eritema nodoso e pioderma
gangrenoso, alterações oculares e colangite esclerosante primária.
Na doença
de Crohn a sintomatologia é variável e depende do local acometido, com isso, se
a mesma ocorrer no estômago e duodeno, por exemplo, o paciente pode apresentar
apenas dor abdominal, náuseas e vômitos. “Caso a doença atinja o intestino
delgado e/ou grosso, os principais sintomas são a diarreia e a dor abdominal. A
inflamação também pode causar a formação de fístulas (canal patológico de
comunicação entre dois órgãos), a obstrução do intestino e quadros semelhantes
à uma apendicite aguda”, aponta.
No caso
da retocolite ulcerativa, os sintomas podem se
manifestar por meio de diarreia com presença de sangue e dor abdominal, sem a
formação de fístulas ou obstrução intestinal.
Por não
apresentar sintomas específicos e não dispor de exames direcionados para o
reconhecimento da doença, o diagnóstico das DII é um grande desafio. Carolina
Baia explica que o diagnóstico da patologia é realizado associando-se a
sintomatologia dos pacientes às alterações em exames laboratoriais de imagem e
em análises endoscópicas e histológicas. “É preciso considerar todas as
particularidades dos sintomas e alterações em exames dos pacientes, pois várias
outras doenças podem apresentar as mesmas características”, alerta.
Até o
momento, as DII não têm cura, mas dispõem de tratamentos que promovem uma
melhor qualidade de vida aos pacientes “O tratamento convencional envolve a
indicação de aminossalicilatos, corticóides e imunossupressores. Caso o
paciente não obtenha resposta satisfatória a todos estes métodos, é indicado o
uso de medicamentos biológicos. O tratamento cirúrgico também pode ser
necessário, mas geralmente só é realizado nos casos de complicações como
fístulas, abscessos, estenoses, perfurações, megacólon ou naqueles pacientes
refratários a todo arsenal terapêutico”, conclui.
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