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quinta-feira, 9 de junho de 2016

Neurocirurgião alerta sobre os perigos do traumatismo craniano




Os acidentes de trânsito são a principal causa do trauma cranioencefálico. Saiba quais são os riscos e as principais sequelas

 
 
Brasil é o quinto país no mundo em mortes por acidente de trânsito. De acordo com o Ministério da Saúde, de 2008 a 2013, o número de internações devido a acidentes de transportes terrestre aumentou 72,4%. Os acidentes de trânsito constituem a principal causa dos traumatismos cranioencefálico (TCE) no país. Em segundo lugar estão as quedas, no caso das crianças. 
Nos acidentes com motos, a maior parte do número de mortes também está relacionada ao TCE.  Logo, quando um traumatismo ocorre por acidente de trânsito, muitos órgãos podem ser lesionados. “Nesse processo, em que o paciente é cuidado na UTI, o mais importante é preservar a atividade cerebral. O inchaço cerebral que pode ocorrer prejudica a entrada de sangue no local. Por isso, os médicos costumam, por meio de medicamentos, reduzir a atividade cerebral da pessoa”, explica o neurocirurgião e professor de Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Feres Chaddad Neto.  

O trauma craniano também é um problema comum na infância e uma das principais causas de morte e de sequelas graves em crianças e adolescentes. As taxas de mortalidade podem chegar a quase 50%. “Quando a criança se envolve em um acidente, como um tombo, por exemplo, deve ser levada imediatamente ao hospital. O TCE é ainda mais grave em crianças do que em adultos, pois o crânio é mais fino e flexível, principalmente na região temporal.”
“Nos traumas cranianos podem ocorrer sangramentos ou inchaços no cérebro, o que pode levar a um aumento da pressão intracraniana. Este aumento é bastante grave", explica Chaddad Neto. "Por isso, é preciso estar atento ao surgimento de sintomas como letargia (estado prolongado de inconsciência), afundamento da moleira em bebês, irritabilidade, irregularidade respiratória e alteração da temperatura.”

Para o neurocirurgião, a observação das primeiras 24 horas é fundamental. Nos casos mais comuns são apresentados sinais como sonolência, náusea e vômitos, convulsões, pupilas de diferentes tamanhos, dificuldade na visão, formigamento ou marcha anormal, forte dor de cabeça, inquietação, alterações nos batimentos cardíacos e tontura. Em casos mais graves, há perda ou alteração da consciência, déficit de memória, crises convulsivas, vômitos persistentes, febre, dor de cabeça intensa e persistente e fratura de crânio.

Tipos de traumatismos
O TCE pode ser fechado ou penetrante (aberto). O trauma é fechado quando há exposição de estruturas do crânio, geralmente ocorre em acidentes automobilísticos, quedas e agressões. “No trauma fechado, a lesão é determinada pelo impacto e pela rotação da cabeça. Essa rotação, também chamada de deslocamento, leva a uma lesão estrutural de neurônios e vasos. Já no trauma aberto há exposição de estruturas do crânio e costuma ocorrer em ferimentos por arma de fogo e lesões por instrumentos perfurantes”, completa Feres Chaddad Neto.

O médico esclarece que também existem as lesões que se associam ao traumatismo. Elas podem ser tanto primárias, que ocorrem no momento do trauma sobre o couro cabeludo, por exemplo, quanto secundárias, que se iniciam após o trauma como hematomas, edema cerebral e alterações bioquímicas.
Para o neurocirurgião, as sequelas mais frequentes são amnésia temporária, dificuldade de atenção, confusão mental e dificuldade de adaptação psicossocial.

Traumatismos por arma de fogo
“Embora os acidentes de carro sejam a causa mais comum do TCE em adultos e as quedas em crianças, a lesão cerebral por projétil de arma de fogo é o mais grave dos traumatismos cranianos - 71% dos casos morrem no local”. Para Feres Chaddad Neto, a violência nos grandes centros urbanos está entre as principais causas desse tipo de lesão.

“Além da velocidade e da massa do projétil, outros fatores influenciam na gravidade da lesão que ele determina, tais como o seu diâmetro, as estruturas que ele atinge e a capacidade de fragmentar-se após a penetração. No crânio, os fragmentos ósseos podem ser arremessados para dentro e esses fragmentos também podem ficar retidos ou criar trajetos secundários dentro do crânio, o que torna a situação ainda mais complicada.”
De acordo com o neurocirurgião, o cérebro é uma estrutura delicada. “Apesar do crânio funcionar como uma proteção, um traumatismo pode ser algo bastante grave e levar à morte. Por isso, é necessário ficar bastante atento a acidentes, tombos e pancadas da cabeça. O ideal é sempre procurar assistência médica, nem que seja apenas para descartar a hipótese de um TCE”.



Feres Chaddad Neto - graduado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, com residência em Neurocirurgia pela mesma universidade. Fez especialização (fellowship) em Microcirurgia Vascular e para Tumor pelo Instituto de Ciências Neurológicas, mestrado e doutorado em Neurologia pela Universidade de Campinas (Unicamp), fellowship em Anatomia Microcirúrgica na Universidade da Flórida (EUA). Atualmente é professor adjunto de Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde é chefe da Neurocirurgia Vascular. É neurocirurgião em diversos hospitais no Brasil e no exterior.

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