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Alesp/Divulgação |
Cidades importantes
como Bauru e São José do Rio Preto já enfrentam escassez. Sistema Cantareira
(foto), que abastece grande parte da Grande SP, está com 55% do volume útil e
opera na faixa de atenção
A seca e o calor já levam municípios a adotar ou prever
racionamento de água no interior de São Paulo. Cidades importantes como Bauru e
São José do Rio Preto enfrentam escassez de água para abastecimento. Em Bauru e
outras cidades, o rodízio já está em vigor.
Rio Preto vai decidir se adota a medida na terça-feira, 17/09.
Os incêndios agravam a situação, elevando o consumo de água, usada para a
limpeza da fuligem nas casas e no combate às chamas. Ao menos 53 municípios do
Estado estão em emergência devido à seca e aos incêndios, segundo a Defesa
Civil estadual.
No final de julho, eram dez cidades nessa condição. Com a
previsão de atraso na temporada de chuvas este ano, as prefeituras realizam
campanhas e impõem multas pelo desperdício.
Na quarta-feira, 11, Atibaia decretou emergência hídrica e
adotou o rodízio devido ao risco de desabastecimento. A cidade foi dividida em
três setores que recebem água em dias alternados.
Foram fixadas multas para quem lava carros, calçadas ou regar
jardins. Moradores foram convocados a denunciar desperdícios. "A medida
pretende mitigar os efeitos das secas e manter o sistema de abastecimento de
água com o menor prejuízo possível à população", diz o decreto.
Em Rio Preto, os 501 mil habitantes estão com risco de
racionamento. De janeiro até o último dia 12, choveu 47% menos do que no mesmo
período do ano passado. O município está há 153 dias sem precipitação
expressiva. E em agosto, sob influência dos incêndios, o consumo aumentou 3,09%
ante julho. Na Represa Municipal, onde é feita a captação, o Lago 1 está com 2
centímetros acima do vertedouro e o Lago 2, com 4 cm. O sistema opera no
limite.
"Devido à gravidade da situação, o Semae - Serviço
Municipal Autônomo de Água e Esgoto - precisou reduzir a captação de água na
Represa Municipal. O volume médio de captação na represa é de 450 l/s (litros
por segundo). Neste momento, a ETA está captando menos da metade, 220 l/s. Esse
é o limite da captação", informa a prefeitura.
Para compensar, foi aumentada a captação dos poços de 16 horas
para 22 horas, também no limite de operação. Segundo o Semae, caso não chova ou
o consumo caia nos próximos dias, o racionamento será inevitável. Na
terça-feira, 17, o comitê se reúne para decidir sobre o racionamento. O
superintendente do Semae, Nicanor Batista Jr., disse que a autarquia faz
campanhas de conscientização sobre economia de água.
Já o Departamento de Água de Bauru, que tem 380 mil habitantes,
iniciou na segunda-feira, 9, uma série de manobras na rede para se adequar à
queda drástica no nível do reservatório do Rio Batalha. Na quarta, o patamar do
rio atingiu 1m, mais de três vezes abaixo do ideal (3,20 m). Vários bairros
passaram a receber água de poços profundos para equilibrar a distribuição.
O racionamento teve início no dia 9 de maio, e hoje os bairros
ficam 24 horas com água e 48 sem. Em Vinhedo, o rodízio também perdura desde
maio. A multa para quem desperdiça é de R$ 663, valor que dobra em caso de
reincidência. Moradores reclamam que recebem água suja na retomada do
fornecimento, durante o rodízio. A Sanebavi, empresa de saneamento do
município, diz que a água retorna com muita velocidade e leva resíduos presos
na tubulação.
LAVANDO FULIGEM
O maior consumo de água para limpar fuligem das queimadas também
prejudica o abastecimento, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado
(Sabesp).
No fim de agosto, a companhia alertou sobre risco de falta de
água em Franca e Restinga, devido ao alto uso de água para esse fim.
Em Sorocaba, a prefeitura assinou decreto declarando emergência
climática no município. A norma prevê multa de até R$ 150 mil para quem for
flagrado colocando fogo em mato. Devido ao grande número de focos, o uso
de água para abastecer caminhões-pipa dos Bombeiros e da Defesa Civil para
combater incêndios tem causado risco para o abastecimento urbano.
Os incêndios que se espalham pelo interior, além de elevar o
consumo de água para a limpeza da fuligem e o combate às chamas, têm impacto
direto no abastecimento.
Em Marília, no domingo, 8, o fogo atingiu transformadores e
equipamentos do sistema de captação do Rio do Peixe, que abastece 50% da
cidade. A suspeita é de que uma queimada no terreno vizinho atingiu o local.
Até a manhã desta quinta, havia falta pontual de água.
CANTAREIRA EM ATENÇÃO
O Sistema Cantareira, que abastece grande parte da Grande São
Paulo, está com 55% do volume útil total e opera na faixa de atenção, segundo o
Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). A
faixa de alerta começa quando o sistema opera abaixo de 40%. No fim de agosto,
o volume útil total era de 57%, enquanto em julho estava com 62%. No início de
setembro de 2023, o Cantareira operava com 73% do volume útil.
Desde maio, o Cantareira é alimentado com a água proveniente da bacia do Rio
Paraíba do Sul, captada na Represa do Jaguari. Atualmente, são captados 7,5
metros cúbicos por segundo. Conforme o Cemaden, o sistema está classificado em
situação de seca hidrológica variando de moderada a severa. Além do Cantareira,
a região metropolitana conta com outros seis sistemas de abastecimento, mas
alguns estão em situação mais crítica.
O Rio Claro tinha 26,9% do volume útil nesta quinta, enquanto a
Represa de Guarapiranga estava com 40%. Na média, o volume armazenado total dos
sistemas era de 52,8%, mas com operação negativa, ou seja, maior saída do que
entrada de água.
O cenário afeta também bacias hidrográficas importantes para o
abastecimento público. Nesta quinta (12/09), o Rio Piracicaba, que abastece
Piracicaba e Americana, estava com vazão 60% abaixo da média para setembro,
segundo o Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ).
Na área urbana de Piracicaba a situação é mais crítica, com vazão de apenas
18,3 mil litros por segundo, um terço da média histórica (55,3 mil litros).
O Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae) capta de 300 a 400
litros por segundo, mas a má qualidade da água causa queda na oxigenação e
dificulta o tratamento. Isso ocorre, diz a prefeitura, porque alguns municípios
à montante de Piracicaba não tratam seus esgotos. O nível baixo causa
mortandade de peixes. A cachoeira, atração turística, se transformou em fios de
água entre as pedras. Em Porto Ferreira, o Rio Mogi Guaçu, no ponto de
captação, está com 0,73 metro, quando o mínimo necessário para a captação é de
meio metro.
"Diante do cenário de atenção pelo nível do manancial e,
especialmente, com as altas temperaturas, que têm gerado aumento no consumo de
água, a concessionária destaca que o uso racional do recurso por parte da
população é um importante aliado para atravessarmos o momento mais crítico da
estiagem este ano", disse a BKR, responsável pelo abastecimento.
SEM RACIONAMENTO
A Sabesp informou que o Sistema Integrado Metropolitano operava
nesta quinta-feira, 12, com 52,8% do volume total, e se mantém na média dos
últimos cinco anos, que ficou em 52%.
"O sistema é composto por 7 mananciais, o que possibilita
abastecer áreas diferentes da metrópole com mais de um sistema, conforme a
necessidade", disse, em nota.
A companhia destacou os investimentos realizados desde a crise
hídrica de 2014/15 para tornar o sistema mais robusto. "Não há
racionamento neste momento nos 375 municípios operados pela Sabesp, mas, como
mostram a severa estiagem e as altas temperaturas que afetam o país, a
Companhia ressalta que o uso consciente da água é essencial em qualquer época."
CHUVAS PODEM ATRASAR
Conforme o Cemaden, a previsão meteorológica indica um provável
atraso no início da próxima estação chuvosa, o que resultará na prolongação do
período de estiagem nos rios de todas as regiões do país, com exceção da região
Sul.
O provável atraso é devido ao maior aquecimento do Oceano
Atlântico na região da América Central, favorecendo chuvas mais intensas que o
normal nessa região, o que acarreta diminuição das chuvas sobre a maior parte
da América do Sul, incluindo o Brasil.
Como resultado, a situação de seca deve persistir ou até se
agravar na maioria das bacias hidrográficas do país. Ainda segundo o Cemaden,
as causas da seca na região Sudeste, que inclui São Paulo, resultam de uma
combinação de fatores como o déficit de chuvas na estação passada, devido a uma
atuação mais intensa do fenômeno El Niño. Em consequência, não houve a recarga
dos aquíferos, mantendo os rios abaixo dos níveis esperados.
Também houve antecipação da estação seca no Estado, com chuvas
escassas desde o mês de maio. Essa situação deixou o solo e a vegetação
extremamente secos, criando um ambiente favorável para a propagação de grandes
incêndios.
O órgão vinculado ao Ministério da Ciência Tecnologia e
Inovações destaca situações que atuam no longo prazo, como as mudanças
climáticas, que geram aquecimento progressivo da atmosfera, produzindo
sequências mais longas de dias sem chuva, e as mudanças no uso do solo, com a
substituição de áreas de floresta por campos dedicados à agricultura e pecuária
- o que resulta em redução da umidade ambiente e, consequentemente, das
precipitações.
Estadão Conteúdo