Amamentar
em público. Bombear leite materno no trabalho. Sacrificar a vida social e
passar meses sem dormir quatro horas seguidas. Superar incontáveis mordidas,
mastites, beliscões e julgamentos. Tudo vale para alimentar a pessoa mais
importante do mundo. Só não precisava de tanto julgamento...
A Semana Mundial de
Aleitamento Materno (SMAM) acontece de 1º a 7 de agosto para promover e
incentivar a amamentação - são 120 países abraçando a causa.
Apesar de ser a
principal e melhor fonte de nutrição dos bebês, a amamentação é rodeada de
muitos mitos, dúvidas, aflições e medos. Muitas mulheres que vivenciam ou
vivenciaram esse momento se frustram por não contar com uma rede de apoio, com
pessoas próximas que saibam da importância fundamental da amamentação.
No Brasil, em 2020, mais de 54% dos
bebês com até seis meses não têm o leite materno como o único alimento - a Organização
Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento exclusivo nos primeiros seis
meses de vida. O índice está aumentando, mas ainda é baixo.
De acordo com a
Cartilha de Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, 13% das mortes em
crianças menores de cinco anos em todo o mundo poderiam ser evitadas com o
aleitamento materno. Suas substâncias são capazes de diminuir o risco de
alergias, diarréias, doenças respiratórias do bebê, entre outras.
Nesta semana de conscientização, é importante distinguir mitos e verdades sobre
o assunto. Quem fala sobre isso é a Dra. Danielle Lopez Pera, médica da Sami,
operadora de saúde digital com foco em PMEs e MEIs.
Aleitamento
materno - Mitos e Verdades
Quando o leite é
fraco, o bebê chora porque a amamentação não basta.
Mito. O leite humano é um
alimento completo para o bebê, contém todos os nutrientes com qualidade e
quantidade certas que ele precisa para crescer e se desenvolver. Nos primeiros
meses de aleitamento os bebês choram muito, pedindo leite com uma frequência
maior do que a esperada pela maioria dos pais, e isso dá a sensação de que o
leite materno não está sendo "forte" o suficiente. Mas não é isso. O
que ocorre é que o estômago do bebê é muito pequeno nos primeiros meses, assim,
cabe pouco leite a cada mamada.
O leite humano é uma
solução viva e, além de nutrir e prevenir doenças, também contribui para o
desenvolvimento do cérebro e da inteligência do bebê. Além disso, o leite
materno é melhor absorvido e tem uma digestão mais rápida que o leite de
vaca. Justamente por isso, bebês que são alimentados exclusivamente com o leite
materno mamam mais vezes que os alimentados com o leite de vaca.
Existem mães que
simplesmente não produzem leite.
Mito . A pouca produção de
leite, na maioria dos casos, é uma percepção da mãe relacionada à insegurança
sobre sua capacidade de amamentar. Do ponto de vista fisiológico, as chances de
uma produção de leite insuficiente ou uma contraindicação médica à amamentação
são raras. Então, do que depende o sucesso da amamentação? A posição e a
"pega" do bebê são fatores determinantes para a produção adequada de
leite, já que o maior estímulo à produção de leite materno é a sucção do
bebê. Isso mesmo, quanto mais o bebê sugar, mais leite será produzido. Outros
fatores também interferem nesse processo, como o volume de água consumido pela
mãe, por exemplo. O ideal é que uma mãe amamentando consuma, em média, de 2
a 3 litros de água ao dia.
Se a alimentação da
mãe for ruim, o leite materno será fraco.
Mito. Hábitos de vida
saudáveis trazem, sem dúvidas, benefícios tanto para a mãe quanto para o bebê,
mas essa não é uma condição necessária para manter uma boa qualidade ou um
estoque adequado de leite. O leite materno possui todos os elementos
necessários para o desenvolvimento do bebê. A recomendação é de que o bebê seja
amamentado até o sexto mês de vida exclusivamente com o leite materno. Nada de
chás ou água, combinado? Dos seis meses em diante, apenas o leite materno não
garante todos os nutrientes necessários ao crescimento e ao desenvolvimento da
maioria dos bebês. Suas necessidades aumentam e, portanto, precisam de outros
alimentos que complementam a amamentação. O leite materno, porém, ainda
representa uma importante oferta de nutrientes e anticorpos que ajudam a
criança a combater e se recuperar de episódios de doenças.
Algumas emoções atrapalham a produção de
leite.
Verdade. Caso a pessoa que
amamenta passe por situações de nervosismo, a produção de leite pode diminuir,
isto porque o hormônio adrenalina liberado em excesso bloqueia o hormônio
ocitocina, que é um dos hormônios que influenciam na amamentação. O estresse
pode influenciar na liberação de ocitocina, afetando a transferência de leite e
o vínculo entre a mãe e o bebê.
O bebê deve mamar em
horários específicos.
Mito.
Segundo o Ministério
da Saúde, a recomendação é de que o bebê possa mamar sempre que ele pedir o
peito, sem horários delimitados. E, ainda, para ajudar na amamentação, é
importante atentar-se ao bebê para que ele mame até se satisfazer por completo.
Existe um tipo de
parto melhor para o leite materno.
Mito. A via de parto não
altera a qualidade do leite materno. Alguns estudos afirmam que o parto normal
facilita o aleitamento na primeira hora de vida uma vez que, durante o
trabalho de parto, a produção de ocitocina para o aumento da contratilidade
uterina, estimula e ejeção do leite, facilitando assim o aleitamento.
Mamadeiras e chupetas
prejudicam o aleitamento?
Verdade . Ao sugar o peito, o
bebê precisa fazer um esforço muito maior do que o de mamar na mamadeira, por
isso, caso ele se acostume com a mamadeira ou chupeta, há o risco dele não se
habituar mais para mamar no peito. Além disso, o esforço dos músculos para ele
mamar no peito serão cruciais na mastigação e na fala.
As mães também se
beneficiam da amamentação?
Verdade. A amamentação auxilia
o retorno do útero ao seu volume normal ajudando assim na transição pós parto.
Amamentar também é um fator de proteção contra o câncer de mama e ovário. Ela
funciona, se seguir algumas características específicas, como método
contraceptivo nos primeiros seis meses de vida do bebê, chamamos isso de Método
da Amenorréia Lactacional (LAM). Para isso, é necessário que o bebê esteja em
aleitamento materno exclusivo (consumindo apenas leite materno 100% do tempo),
sob livre demanda (ou seja, dar o peito sempre que o bebê pedir) e, por último,
que a mãe não tenha menstruado ainda. Viu como amamentar é tudo de bom? Isso,
sem mencionar em todos os benefícios psicológicos de diminuição da ansiedade e
aumento da conexão mãe-bebê.
Se a mulher engravidar
tem que parar de amamentar.
Mito. Para a maioria das
mulheres a gestação não contraindica a amamentação. Sendo uma gestação de baixo
risco em uma mulher saudável, não há problemas em continuar amamentando. No
entanto, nos casos de gestações de maior risco, como na pré-eclâmpsia,
restrição do crescimento uterino ou ameaça de parto prematuro, suspendemos a
amamentação precocemente. Essa avaliação deve ser feita caso a caso, então é
importante conversar com seu time de saúde antes de tomar essa decisão.
Muita coisa que a mãe
come dá cólicas no bebê.
Mito. A "receita"
do leite materno é sempre a mesma e independe da alimentação materna. Uma
porcentagem bem pequena das proteínas circulantes na corrente sanguínea da mãe
pode chegar ao leite materno, sendo insuficiente para causar uma reação
intestinal no bebê, a não ser que ele já tenha sensibilidade a alguma proteína
específica. É o que acontece quando o bebê tem alergia ao leite de vaca, por
exemplo. Nesses casos, orientamos a mãe a restringir o consumo de leite e seus
derivados.
Mulheres com
mamoplastia não conseguem amamentar.
Mito. As mulheres com
mamoplastia não necessariamente terão problemas na hora de amamentar, no
entanto, as cirurgias mamárias têm sido elencadas como uma das causas
associadas à interrupção precoce da amamentação. Isso pode acontecer por
problemas na produção e ejeção do leite, pois, dependendo da técnica cirúrgica
utilizada, pode haver alteração da integridade e do funcionamento da mama.
Antes de optar pela cirurgia converse com seu cirurgião plástico sobre os
possíveis efeitos e riscos para a amamentação.
A amamentação envolve o corpo da mulher, sua
história de vida, sua relação com o parceiro(a), a família, e o contexto onde
vive. Não nascemos sabendo amamentar, é um ato a ser aprendido pelas mães e
pelos bebês. Converse com seu time de saúde desde o pré-natal sobre as suas
dúvidas, angústias, medos e inseguranças. E lembre-se que está tudo bem se
houverem desafios no meio do caminho.
Dra. Danielle Lopez
Pera
Sami
https://www.samisaude.com.br