A Federação Brasileira de Gastroenterologia esclarece essa conexão
e dá dicas para a prevenção
A relação entre diabetes e a saúde
intestinal é um campo de estudo que tem ganhando destaque crescente.
Atualmente, sabe-se que a microbiota intestinal desempenha um papel relevante
tanto no surgimento quanto na progressão do diabetes mellitus, principalmente
na diabetes tipo 2. Pesquisas indicam que a redução de bactérias benéficas,
além de outras alterações associadas à disbiose intestinal, afetam o
metabolismo da glicose e promovem um estado de inflamação crônica leve. Esse
ambiente, por sua vez, contribui para a resistência à ação da insulina e está
associado ao desenvolvimento da diabetes.
Além disso, hoje o
intestino é reconhecido como um grande órgão com funções endócrinas, capaz de
produzir importantes neurotransmissores e hormônios que influenciam no
metabolismo da glicose e ação da insulina. “O intestino assume um papel
tão relevante no fisiopatologia da diabetes, que as principais medicações
atualmente comercializadas para o tratamento da diabetes tipo 2, são
medicamentos que imitam a ação de hormônios liberados pelo intestino (como os
análogos do GLP-1)”, afirma a Dra. Marina Pamponet Motta, da Federação
Brasileira de Gastroenterologia.
Mas a relação entre intestino e
diabetes vai muito além disso. A diabetes pode causar uma variedade de
problemas intestinais, decorrentes de alterações metabólicas crônicas, mudanças
na microbiota intestinal e disfunções no sistema nervoso e motilidade
intestinal.
De acordo com a Dra Marina
Pamponet Motta, sintomas como desconforto abdominal, diarreia e obstipação, são
comuns nos pacientes com DM. Tais sintomas também são característicos da
Síndrome do Intestino Irritável (SII), um distúrbio gastrointestinal funcional
muito frequente. Segundo a FBG, embora a relação entre SII e DM não esteja bem
estabelecida, ambas condições podem coexistir num mesmo paciente e estudos
apontam que o estilo de vida, estresse e a dieta desempenham papéis importantes
no tratamento de ambas as doenças. Abordagens alimentares contribuem para
o controle dos sintomas em ambas as condições. No entanto, enquanto uma dieta
rica em fibras é recomendada para o controle glicêmico, ela pode,
paradoxalmente, agravar alguns sintomas da SII. “Por isso, é importante que o
acompanhamento do diabetes envolva o gastroenterologista e uma abordagem
multidisciplinar”.
Diabetes e doenças
gastrointestinais
No dia 14 de novembro é celebrado
o Dia Mundial do Diabetes, criado em 1991 pela Federação Internacional de
Diabetes (IDF) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para reforçar a
conscientização a respeito da doença e destacar a importância da prevenção.
Neste cenário, a FBG alerta sobre
as principais alterações gastrointestinais que acometem as os pacientes com
diabetes.
A neuropatia visceral
diabética é responsável pelos principais sintomas digestivos na DM. Ela é
casada pela dano aos nervos responsáveis pela motilidade do trato
gastrointestinal e os pacientes sob maior risco são aqueles portadores de DM de
longa data ou aqueles com o controle glicêmico irregular. Os sintomas
associados à neuropatia diabética são variados e estão relacionados ao órgão
predominante afetado.
Quando a motilidade intestinal
está reduzida, o paciente pode apresentar constipação. Além disso, essa
diminuição da motilidade intestinal, também permite o acúmulo e proliferação de
bactérias no intestino delgado, promovendo o supercrescimento bacteriano. Essa
proliferação bacteriana, por sua vez, promove sintomas como diarreia,
excesso de gases e distensão abdominal.
A gastroparesia diabética é uma
condição caracterizada pela redução da motilidade e do esvaziamento do estômago
devido a danos nos nervos. Os sintomas característicos são náuseas, vômitos,
empachamento e sensação de plenitude precoce. Esse atraso no esvaziamento pode
prejudicar ainda mais o controle dos níveis glicêmicos.
O controle da glicemia e a
abordagem terapêutica integrada entre as especialidades, visando a melhora da
saúde metabólica e digestiva, são essenciais para o controle dos sintomas
gastrointestinais do paciente com diabetes
Além disso, diversos medicamentos
utilizados para o controle glicêmico estão relacionados a eventos adversos com
sintomas gastrointestinais, ressaltando a importância do seguimento com o
gastroenterologista.
Como manter a saúde intestinal
De acordo com a FBG, pacientes
com diabetes devem seguir algumas dicas para melhorar a saúde intestinal, além
de manter a glicemia sob controle:
• Mantenha uma alimentação
saudável e diversificada, importante para manter a diversidade da microbiota
intestinal;
. Evite o consumo de alimentos
ultraprocessados;
• Consuma alimentos ricos em
fibras, como cereais integrais, feijões, frutas, verduras e legumes;
• O uso de alimentos fermentados
como iogurtes, coalhada e kombuchá ajudam no equilíbrio da microbiota
intestinal. Eles possuem bactérias benéficas (probióticos);
• Beba água e mantenha boa
hidratação;
• Prefira alimentos com gorduras
mono e polinsaturadas, as chamadas gorduras saudáveis, como azeite de oliva,
castanhas, abacate e peixes e evite fontes em gorduras saturadas e trans;
• Evite o consumo abusivo de
álcool;
• Pratique exercícios
regularmente. Estudos também mostram os efeitos benéficos da atividade física
sobre o equilíbrio do intestino.
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