Mestre em psicologia positiva e especialista em parentalidade, Adriana Drulla fala sobre a fase de inseguranças vivida pelos adolescentes e como os pais podem ajudá-los a superar os momentos ruins.
A cada ano, cerca de 800 mil mortes por suicídio
ocorrem no mundo, o que representa uma morte a cada 40 segundos. Entre os
jovens (15 a 29 anos), é a segunda causa de morte globalmente, segundo
estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Realmente, a transição da infância para a
adolescência representa um período crítico para a vulnerabilidade do
comportamento suicida. Para agravar, enfrentamos globalmente um momento de
pandemia, com o confinamento impactando diretamente a saúde mental de jovens e
adultos.
Uma pesquisa nacional do instituto Datafolha, em
parceria com a Fundação Lemann, o Itaú Social e a Imaginable Futures, vem
acompanhando crianças e jovens do ensino público ao longo do isolamento. A
falta de motivação, que em maio atingia 46%, chegou a 51% em julho, segundo os
responsáveis por 1.556 alunos entre 6 e 18 anos. O percentual dos que estão
tristes passou de 36% em junho para 41% em julho. No mesmo período, o de
irritados foi de 45% para 48%. E são 74% os que se sentem tristes, ansiosos ou
irritados.
Mestre em psicologia positiva e especialista em
parentalidade e estudos de compaixão e autocompaixão, Adriana
Drulla destaca que os jovens têm uma maior necessidade de
conexão social. A adolescência é uma fase de descoberta de si mesmo e de
formação da identidade, e para isso o grupo é muito importante. “Ao mesmo tempo
é uma fase de desenvolvimento muito sensível. Pesquisas feitas com diversas
faixas etárias mostram que, naturalmente, pessoas na faixa etária entre 14 e
17, por exemplo, tem mais chances de desenvolver depressão e ansiedade do que
em qualquer outra faixa etária, e a pandemia acentua isso”, revela Adriana.
A insatisfação não vem apenas como resultado da
diminuição de interações sociais. Os adolescentes estão vivenciando um período
de insegurança muito novo: preocupação com a saúde; com a situação do emprego e
da condição econômica da família; a questão da morte; a separação
repentina de amigos; a interrupção escolar; rotina bagunçada; dieta menos
balanceada e atividades físicas prejudicadas.
A recomendação para os pais é que acompanhem e
orientem seus filhos da melhor forma. “Primeiro, aceitando o sofrimento como
natural, ajudando a validar o sentimento do jovem que sofre. É importante que
ele se sinta ouvido e compreendido. E a partir desse lugar de
vínculo e apoio entenderem juntos, pais e filhos, se existe alguma atitude
possível para amenizar essa dor. Ver uma amiga apenas, tomando todo o cuidado,
ou então, marcar conversas de vídeo, pode ser uma saída”, completa a
especialista.
É importante que esse jovem tenha alguém que ele
confie para desabafar e para falar abertamente. O primeiro passo para ganhar a
confiança da criança, do jovem é validando seus sentimentos, acolhendo o que
ele está sentindo com empatia. Além dos pais, amigos também são importantes
para a elaboração de sentido.
“Os momentos de dificuldade são importantes porque
quando paramos o piloto automático podemos refletir sobre a nossa vida e adotar
valores e objetivos mais coerentes com a nossa felicidade. Quando as pessoas
conseguem encontrar sentido e propósito para além de si, elas superam as
dificuldades com mais facilidade. Esse é inclusive um dos grandes benefícios de
se fazer trabalhos sociais, por exemplo”, finaliza Adriana Drulla.
Adriana
Drulla - Mestre em Psicologia Positiva, pela Universidade da
Pennsylvania, é especialista em Compaixão e Autocompaixão. Estudou com Martin
Seligman, psicólogo fundador da psicologia positiva, e outros pesquisadores
referência neste campo nos Estados Unidos e no mundo. Formada em Conscious
Parenting por Shefali Tsabary, psicóloga referência em parentalidade e autora
do método que une psicologia, parentalidade e espiritualidade, é também
especialista em Mindfulness e Autocompaixão pela Universidade da Califórnia, em
San Diego (EUA) e pela USP.
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