O Brasil é o país que mais arrecada impostos no mundo, mas a
população sofre com a precariedade dos serviços públicos, que no país é um
monopólio e deixa seus únicos e principais clientes, o cidadão e as
organizações, sem opções. É o caso dos Correios, um serviço essencial previsto
na legislação e considerado de boa qualidade, mas que, atualmente, está em
greve parcial por melhorias nas condições de trabalho e outras reivindicações,
prejudicando milhões de brasileiros.
De acordo com a Presidência dos Correios, 5 mil carteiros estão
sem trabalhar, mas o sindicato da categoria diz que, no total, 60 mil
trabalhadores estão parados. Apesar da boa qualidade dos Correios, o cidadão,
cliente e usuário, “principal” valor para a organização, se vê tolhido, sem
prévio aviso, de um serviço essencial, sendo que é este cidadão que mantém a
instituição. O Governo, que arrecada e administra os recursos vindos de
impostos, deveria ser responsável pela qualidade e continuidade do serviço, mas
não o faz por falhas do sistema e de gestão na administração destes recursos.
Os profissionais contratados por instituições e empresas
públicas são agraciados, se comparados com os trabalhadores “normais”, já que
têm segurança no emprego, mesmo sendo CLTs; recebem excelentes benefícios se
comparados com a realidade nacional; possuem regalias, como permissão para
ausências ao trabalho, e outros benefícios. E quando não prestam o serviço da
maneira adequada, quem sofre é a população, que paga pelo serviço.
Quando uma greve acontece, como a dos Correios, os funcionários
continuam recebendo seus salários diretos e indiretos, na maioria das vezes,
fato que estimula uma paralisação. A verdade é que o funcionário público recebe
um tratamento superior, “nivelado por cima”, em relação aos trabalhadores
“normais”, e desrespeitam os cidadãos e organizações, seus clientes, quando
paralisam o serviço sem prévio aviso, “nivelando por baixo” o serviço prestado.
De outro lado, a Justiça do Trabalho e o Ministério Público do
Trabalho, deveriam zelar pelo cumprimento das obrigações, tanto em relação às
empresas como em relação aos funcionários dos Correios e seus representantes
legais, os sindicatos. As ações destas instituições, quando ocorrem, são
lentas, burocráticas e não punitivas, o que estimula a prática continuada de
ações similares.
Em resumo, o cidadão cliente, aquele que paga a conta, não
recebe o serviço correspondente e os demais responsáveis pela garantia da
prestação do serviço, não fazem a sua parte. Assim, a conta dos serviços
públicos no Brasil não fecha e quem a paga, para continuar sofrendo, é o
cidadão e as organizações brasileiras, que não têm sequer a certeza de que uma
simples correspondência familiar ou comercial chegará ao seu destino final.
*Heli Gonçalves
Moreira é fundador e sócio diretor da HGM Consultores, especialista em
conflitos coletivos e projetos de consultoria e treinamento nas áreas de
Relações Trabalhistas e Sindicais, Programas de Gestão Participativa, Negociações
Coletivas, entre outras. Também é negociador patronal e perito na administração
e solução de conflitos trabalhistas e estratégias empresariais para situações e
mudanças de alta complexidade e impacto.