Mesmo com avanços, mulheres ainda enfrentam barreiras para alcançar cargos de liderança em setores estratégicos como tecnologia e finanças
Apesar de representarem quase metade da força de
trabalho global, as mulheres continuam sub-representadas nos cargos de
liderança. Segundo o Fórum Econômico Mundial (2024), apenas 10% dos CEOs no
mundo são mulheres. No Brasil, a disparidade é ainda mais evidente. Embora
dominem setores como educação (70%) e saúde (65%), as mulheres representam
apenas 13% da força de trabalho em tecnologia e apenas 9% em finanças, conforme
dados do IBGE e da ONU Mulheres.
A desigualdade não é apenas uma questão de escolha
profissional ou falta de qualificação, segundo Juliana Velozo, vice-presidente
de Mercado para a América Latina. Para a especialista, as mulheres continuam
concentradas em empregos com menor remuneração e prestígio, enquanto os cargos
de decisão ainda são dominados pelos homens. "Sem contar a falta de
políticas efetivas de inclusão. Na prática as mulheres ainda enfrentam muitas
barreiras invisíveis. É preciso garantir que as mulheres tenham um ambiente
seguro para crescer e ter oportunidades reais de promoção e voz ativa nas
decisões”, defende.
Embora pesquisas comprovem que a diversidade de
gênero na liderança gera impactos positivos nos lucros das empresas, o mercado
avança a passos lentos. Um estudo da McKinsey & Company revelou que empresas
com maior presença feminina em cargos de alta liderança têm 25% mais chances de
lucrar acima da média. Além disso, um levantamento da S&P Global Market
Intelligence (2020) apontou que, entre 2002 e 2019, empresas
com CEOs mulheres tiveram desempenho financeiro 20% superior ao de seus
concorrentes liderados por homens.
Ruth Kaeski, fundadora do projeto Ela Empreende,
que apoia mulheres empreendedoras em comunidades periféricas, compartilha um
episódio recorrente: “Já passei por reuniões onde fui ignorada e só levaram
minha ideia a sério quando um homem repetiu. No começo, achei que o problema
era comigo, mas percebi que acontece com quase todas nós”, conta.
Para Ruth, a falta de referências femininas no topo
da hierarquia corporativa afeta diretamente a autoconfiança das mulheres. “Se
você cresce sem ver mulheres em cargos de liderança, aprende a duvidar do
próprio valor. Quando encontrei apoio em outras mulheres, entendi que não
precisava pedir permissão para ocupar meu espaço”, completa Ruth. A desigualdade
também se reflete nos salários. Segundo o IBGE, as mulheres ganham, em média,
22% a menos do que os homens no Brasil, mesmo ocupando os mesmos cargos.
Caminhos para equidade no topo
Especialistas defendem que as empresas precisam ir
além das boas intenções e implementar medidas concretas para promover a
equidade de gênero. Entre as ações importantes estão:
- Processos
seletivos mais inclusivos, com revisão de critérios mais justos;
- Programas
de mentoria e aceleração de carreira para preparar mulheres para cargos de
liderança;
- Critérios
claros e transparentes de promoção, baseados na competência e não em redes
de indicação fechadas;
- Mudança
na cultura corporativa, garantindo um ambiente seguro e acolhedor para a
ascensão feminina;
- Políticas
de equidade salarial, assegurando que mulheres recebam a mesma remuneração
que seus pares homens para funções equivalentes.
Juliana Velozo enfatiza que a equidade no topo não
é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia inteligente
para o crescimento econômico e inovação. “Se as mulheres já representam quase
metade da força de trabalho, por que ainda são minoria nas decisões? O Brasil
precisa superar esse atraso e criar oportunidades reais para que mais mulheres
ocupem posições de liderança e impactem o mercado de maneira significativa”,
completa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário