Pesquisar no Blog

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Proposta de novos parâmetros para o diagnóstico de obesidade

O ano começou com muitas discussões sobre a publicação na The Lancet de uma proposta realizada por uma comissão internacional de especialistas, para que se considere, além do índice de massa corporal (IMC), outros parâmetros para o diagnóstico de obesidade. Além disso, os autores apresentam uma proposta para categorizar a condição em pré-clínica ou clínica. 

A Comissão da The Lancet elaborou um documento propondo que o diagnóstico de obesidade seja feito por meio de um dos seguintes critérios:

 

1.      Pelo menos uma medida corporal (circunferência da cintura, relação cintura-quadril, relação cintura-altura) associada ao IMC.

2.      Pelo menos duas medidas corporais, independentemente do IMC.

3.      Medição direta da gordura corporal através de exames como bioimpedância ou DEXA.

 

E novas categorias de obesidade seriam resumidas da seguinte forma:

1.      Obesidade pré-clínica:  pessoas com excesso de gordura corporal, mas que ainda não desenvolveram problemas de saúde, embora apresentem maior risco de desenvolver doenças como diabetes ou problemas cardíacos no futuro. Os pacientes seriam orientados a mudar o estilo de vida.

2.      Obesidade clínica: os pacientes nessa categoria seriam considerados portadores de uma doença crônica, onde o excesso de gordura prejudica os órgãos ou dificulta as atividades diárias. Os pacientes teriam indicação de receber tratamento específico para obesidade, além de mudanças no estilo de vida.

 

Diagnóstico de obesidade – o que mudou? 

Apesar da importância do IMC para o diagnóstico de obesidade a nível populacional, não possibilita avaliar características individuais, como a composição corporal e a distribuição da gordura corporal, fatores que têm implicação direta no estado de saúde de uma pessoa. 

Sabemos que, não só o excesso de gordura corporal, mas também o maior acúmulo de gordura visceral – aquela que fica ao redor, ou infiltra os órgãos - estão associados a um maior risco de doenças metabólicas, cardiovasculares, e até a alguns tipos de câncer, entre outras. 

Também é importante lembrar que todos os parâmetros utilizados para determinar se há excesso de gordura corporal devem ser avaliados levando-se em conta que os critérios diagnósticos nem sempre são bem definidos, e ainda podem sofrer influência de vários fatores, como etnia, sexo, idade, história do peso ao longo da vida, entre outros. 

Então, não há um número mágico, para qualquer que seja o parâmetro utilizado, que possa definir com precisão o diagnóstico de excesso de gordura corporal, especialmente se utilizado isoladamente.  

Uma avaliação mais completa, como a sugerida pelos autores do documento, permitiria uma correlação mais precisa com os riscos de saúde de cada indivíduo. Isso se torna ainda mais importante ao avaliar pacientes que apresentam IMC mais próximo ao considerado normal, pois pacientes com peso normal podem ter excesso de gordura corporal, com suas implicações clínicas, e pacientes com IMC mais alto podem ter maiores índices de massa muscular, o que não aumentaria os riscos de saúde atribuídos isoladamente ao IMC. 

Assim, aplicando os conceitos trazidos à discussão, temos mais ferramentas para evitar erros diagnósticos e confusões terapêuticas.  

 

Avaliando os riscos de saúde – categorizando a obesidade 

Realizado o diagnóstico de obesidade, a comissão da The Lancet selecionou 18, entre os mais de 200 problemas de saúde sabidamente associados à obesidade, para classificar os indivíduos como portadores de obesidade pré-clínica (onde ainda não haveria complicações decorrentes do excesso de gordura corporal), ou clínica (quando o indivíduo já desenvolveu ao menos 1 dos 18 critérios selecionados pelos autores).

 

O que o artigo muda na prática clínica, aqui e agora? 

A comissão de especialistas, por meio do documento publicado na The Lancet, ajudou a disseminar globalmente o conceito de que o IMC não deve ser usado como única forma de avaliação do excesso de gordura corporal. 

A proposta também reforça o fato de que, independentemente do IMC, alguns pacientes apresentam mais complicações do excesso de gordura corporal do que outros. Por isso, é importante exercer uma medicina personalizada, que leve em conta a avaliação global de saúde do paciente. Ou seja, o que realmente importa é saber como o excesso de gordura afeta a saúde de cada indivíduo, e oferecer um tratamento adequado para cada condição clínica. 

O documento tem papel informativo importante, chamando a atenção para o fato de que a obesidade é uma doença crônica e de difícil tratamento, capaz de levar a sinais e sintomas de disfunção orgânica, e/ou redução da capacidade para atividades diárias. A doença pode afetar a saúde física e mental dos indivíduos acometidos. 

Muita discussão ainda virá, mas é importante lembrar que os pacientes com obesidade enfrentam uma doença de difícil tratamento, e que pode trazer várias complicações à saúde. Saber identificar os pacientes de maior risco é de fundamental importância para a prevenção e tratamento da obesidade e das condições associadas.  

 

Dra. Daniele Zaninelli - médica endocrinologista, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – SBEM, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica – Abeso e da Câmara Técnica de Endocrinologia do CRM-PR.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados