Regulamentação do uso de celulares em escolas requer diálogo sobre danos à saúde e à socialização dos jovens
Projeto de
Lei sancionado hoje, 13/01/25, restringe o uso de celulares nas escolas, o que
demanda equilíbrio entre avanços pedagógicos e desafios tecnológicos, afirma
pesquisadora da área de Educação da Unit.
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva sanciona nesta segunda-feira (13) o
projeto de lei que restringe o uso de celulares e dispositivos eletrônicos em
instituições de ensino da educação básica, abrangendo escolas públicas e
privadas. A medida, aprovada pelo Congresso Nacional em dezembro, determina que
o uso dos aparelhos seja permitido apenas em atividades pedagógicas, de
acessibilidade ou em casos excepcionais, como condições de saúde. Especialistas
e educadores destacam que a regulamentação exige equilíbrio entre os riscos do
uso excessivo de telas e o potencial pedagógico da tecnologia.
Um dos
temas que têm gerado muitos debates entre pais, filhos, educadores e
especialistas é a proibição do uso de celulares em salas de aula,
principalmente nas escolas de ensino Infantil, Fundamental e Médio. Projetos de
lei neste sentido já foram aprovados e viraram leis estaduais em 21 estados
brasileiros.
Essas
iniciativas refletem uma preocupação crescente com os impactos negativos do uso
indiscriminado de dispositivos eletrônicos no ambiente escolar, buscando
equilibrar o acesso à tecnologia com a necessidade de manter a concentração e o
bem-estar dos estudantes.
Entre as
justificativas, estão a diminuição da dependência excessiva que crianças e
adolescentes vêm desenvolvendo em relação ao uso de telas, o que é apontado
como causa de transtornos e doenças mentais como depressão, ansiedade e outros
problemas. A regra também seria uma forma de proteger esse público contra
abusos e ataques de hackers e criminosos, bem como restringir o acesso a
conteúdo considerado impróprio, como pornografia, drogas, violência, linguagem
imprópria e apostas eletrônicas. Por outro lado, os contrários à proibição
acreditam que ela seria um retrocesso para os estudantes, num momento em que a
tecnologia e a conectividade estão se integrando cada vez mais às práticas
pedagógicas e ao mercado de trabalho.
Na
perspectiva da professora e pesquisadora Alana Danielly Vasconcelos, do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Tiradentes (PPED/Unit),
as questões que relacionam Educação e Tecnologia demandam uma análise mais
profunda do que a simples dicotomia de proibir ou liberar. “Na verdade, o que a
gente precisa é compreender o papel da tecnologia na sociedade contemporânea,
porque ela muda a nossa forma de vida, o modo como a gente interage e como a
gente se comunica. É também uma linguagem que essas crianças e esses
adolescentes possuem na sociedade atual”, opina.
Ela defende
que os estudantes e professores podem lançar mão de celulares, tablets ou
smartphones para acompanhar as aulas, pesquisar informações complementares e
executar as atividades relacionadas ao conteúdo ministrado em sala de aula. Por
outro lado, deve-se tomar cuidado para que o aparelho não se torne um fator de
distração. “O professor em sala de aula precisa estar ali com uma formação
adequada para utilizar esse recurso como um apoio pedagógico, para que ele não
se torne uma distração do processo de aprendizagem. A gente sabe que de fato
existe o bullying virtual, a falta de concentração… e isso tudo são problemas
reais que afetam a criança e o adolescente quando ele leva esse recurso
tecnológico para a sala de aula sem essa orientação pedagógica adequada”,
observa Alana.
Educação e orientação midiática
Um dos
caminhos traçados no âmbito educacional para o uso dos celulares e aparelhos é
o da educação midiática, na qual as pessoas são ensinadas a lidar com os
conteúdos das mídias tradicionais e on-line, filtrando a veracidade de cada
conteúdo e utilizando-o de forma ativa e crítica, seja no ambiente presencial ou
no digital. Este tipo de educação pode inclusive ajudar na superação de algumas
dificuldades e desafios encontrados na realidade atual da educação brasileira,
como as deficiências em leitura, interpretação e feitura de cálculos simples.
“A gente
precisa ter um trabalho forte de fazer uma educação que prepare esses
estudantes, independentemente da idade que eles tenham, para serem
participantes ativos e críticos seja no ambiente presencial ou no ambiente
digital. Eu acredito que o trabalho precisa ser direcionado para uma
perspectiva de uma educação midiática, em que se entenda que o problema não é
só a tecnologia em recurso, mas [a forma] como ela é utilizada”, diz a
professora, destacando ainda que a educação midiática é um fator que precisa
ser levado em conta nas políticas públicas voltadas à educação.
O caminho
para lidar com o uso de celulares por crianças e adolescentes, diminuindo a
dependência do uso de telas, passa por um maior diálogo e alinhamento dentro
das famílias, com os pais e responsáveis orientando diretamente os filhos e
estabelecendo regras e limites. Para Alana, a família é muito importante nesse
contexto. “Não adianta só a gente legislar para proibir esse uso sem que a
gente tenha também o diálogo com as famílias. Porque se a gente não contar com
o apoio da família, de nada adianta todo um esforço educacional de trazer a
perspectiva da melhoria da educação colocando um equilíbrio na utilização
desses recursos digitais e consiga de fato trabalhar melhor a aprendizagem. É
preciso que as frentes que estão nessa discussão se lembrem de dialogar com a
família, porque faz ela parte do processo de aprendizagem”, alerta a
professora.
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