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sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Conselho Regional de Farmácia de SP repudia proposta do governo federal de liberar venda de medicamentos em supermercados

Se colocada em prática, medida poderá ocasionar uma série de problemas incluindo aumento do risco de intoxicação e impactos na regulação sanitária

 

A respeito da notícia veiculada de que o governo federal pretende liberar medicamentos em supermercados para supostamente reduzir inflação de alimentos, o CRF-SP tem a declarar que:

A venda de medicamentos em supermercados pode gerar impactos negativos significativos na saúde pública, segurança dos pacientes e regulação do setor farmacêutico. A seguir, apresentamos uma análise desses impactos com fundamentação e referências:

 

1. Uso inadequado de medicamentos (automedicação)

A venda de medicamentos em supermercados pode aumentar o consumo indiscriminado, especialmente de medicamentos isentos de prescrição (MIPs). Isso ocorre porque a ausência de orientação adequada por profissionais qualificados (farmacêuticos) favorece a automedicação e o uso incorreto.

• Impacto: Risco de interações medicamentosas, efeitos colaterais graves e mascaramento de doenças mais graves.

- Referência: Arrais, P. S. D., et al. (2016). “Prevalence of self-medication in Brazil and associated factors.” Revista de Saúde Pública, 50(13).

Este estudo destaca que a automedicação é uma prática comum no Brasil e que sua amplificação pode ser um risco caso os medicamentos estejam disponíveis em ambientes não controlados.

 

2. Ausência de acompanhamento profissional

Diferentemente das farmácias, supermercados não contam com a presença obrigatória de farmacêuticos. Isso compromete a orientação sobre a dosagem correta, possíveis interações medicamentosas e contraindicações, especialmente para populações vulneráveis, como idosos e crianças.

• Impacto: A falta de aconselhamento pode levar a erros de uso e agravamento das condições de saúde.

- Referência: Vigilância Sanitária. (2009). “Resolução RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009.”

Essa resolução estabelece que o comércio de medicamentos deve ocorrer em farmácias ou drogarias, sob supervisão de um farmacêutico, para garantir a segurança do paciente.

 

3. Risco de banalização dos medicamentos

A venda em supermercados pode promover a percepção de que medicamentos são produtos comuns, como alimentos ou cosméticos, diminuindo a conscientização sobre seu uso responsável.

• Impacto: Isso pode levar à redução da percepção de risco, aumentando casos de intoxicações e uso inadequado.

- Referência: Nascimento, R. C., & Carvalho, R. S. (2021). “Medicamentos não são mercadorias comuns: riscos da liberalização da venda de medicamentos.” Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, 57.

O artigo reforça que medicamentos devem ser tratados como produtos que exigem regulação rigorosa devido aos seus potenciais riscos.

 

4. Impacto na regulação sanitária

Supermercados não possuem infraestrutura para armazenar medicamentos adequadamente, o que pode comprometer a qualidade dos produtos devido a variações de temperatura, umidade e exposição inadequada.

• Impacto: Diminuição da eficácia terapêutica e aumento do risco de efeitos adversos.

• Referência: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A Anvisa estabelece que medicamentos devem ser armazenados sob condições específicas para garantir sua qualidade e segurança, algo difícil de ser monitorado em supermercados.

 

5. Prejuízo ao setor farmacêutico

A comercialização em supermercados pode impactar negativamente as farmácias locais, que têm como diferencial o atendimento especializado. Além disso, pode haver concentração do mercado em grandes redes de supermercados, prejudicando pequenas farmácias.

• Impacto: Desvalorização do papel do farmacêutico e possível fechamento de pequenos estabelecimentos.

- Referência: Silva, R. M., & Oliveira, J. P. (2020). “Impactos econômicos e sociais da venda de medicamentos em supermercados.” Revista de Gestão e Políticas Públicas, 10(1).

Este estudo discute como a comercialização em supermercados pode afetar negativamente a economia local e o acesso à assistência farmacêutica.

 

6. Aumento do risco de intoxicações acidentais

A disponibilização de medicamentos em prateleiras de fácil acesso, sem controle ou supervisão, pode aumentar o risco de intoxicações acidentais, especialmente em crianças.

• Impacto: Mais casos de hospitalizações por uso acidental de medicamentos.

- Referência: Oliveira, M. J., et al. (2016). “Perfil das intoxicações medicamentosas em crianças no Brasil.” Cadernos de Saúde Pública, 32(3).

O estudo demonstra a necessidade de medidas preventivas para reduzir o acesso acidental de medicamentos por crianças.

 

Conclusão

A venda de medicamentos em supermercados apresenta riscos à saúde pública, comprometendo a segurança no uso de medicamentos, a supervisão profissional e a regulação sanitária. Esses problemas reforçam a importância de manter a venda de medicamentos em locais devidamente regulamentados, como farmácias, sob a supervisão de farmacêuticos.
 



CRF-SP - Entidade responsável pela habilitação legal do farmacêutico para o exercício de suas atividades, o Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP) é a maior entidade fiscalizadora de estabelecimentos farmacêuticos do país, com mais de 72 mil fiscalizações anuais em farmácias, drogarias, hospitais, indústrias, laboratórios, transportadoras, cerca de 80 mil profissionais inscritos e mais de 35 mil estabelecimentos registrados no Estado.
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