Segundo a médica Mariana Bruno Siqueira, da Oncologia D’Or, o tumor pode comprometer a saúde mental dos pacientes, principalmente os mais jovens, solteiros, que tiveram o diagnóstico tardio ou apresentam histórico pessoal ou familiar de transtornos psiquiátricos.
A
proximidade da morte e as possíveis sequelas do tratamento – como disfunção
erétil e incontinência urinária - são os principais temores expressos pelos
pacientes com câncer de próstata no consultório, como observa a oncologista
clínica Mariana Bruno Siqueira, da Oncologia D’Or Rio de Janeiro e pesquisadora
do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino. A esses receios, somam-se outros medos
como a possível redução da libido, ondas de calor e perda de massa muscular
quando o tratamento prevê o bloqueio de testosterona.
Não por acaso, entre 15% e 18% dos pacientes com câncer de próstata sofrem de depressão1, muito acima dos 4% encontrado na população em geral de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)2. “Portanto, esses pacientes têm um risco que pode chegar a quatro vezes maior de evoluir com depressão em relação ao encontrado nos homens em geral”, afirma a médica. Os principais sintomas são falta de interesse pela vida, distúrbios de sono, fadiga, letargia, baixa autoestima, perda de apetite, dificuldade de concentração e problemas motores.
Durante a campanha Novembro Azul é importante destacar que a disfunção erétil e
o câncer de próstata são os principais temas
associados à saúde masculina, como revelou um estudo3 realizado pela
Universidade de Boston e o Albany
Medical College, nos Estados Unidos. O trabalho científico constatou que a
disfunção erétil e o câncer de próstata foram os temas mais pesquisados
no Google sobre saúde masculina durante cinco anos naquele país. Os cientistas
levantaram dados do Google Trends
referentes a pesquisas de 2014 a 2019.
Saúde mental
O
câncer de próstata é o segundo tipo de tumor mais comum nos homens, ficando
atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Segundo o Instituto Nacional do
Câncer (INCA)4, 74 mil casos da doença serão diagnosticados este
ano, em especial em homens com 50 anos ou mais, negros, obesos ou com histórico
familiar da enfermidade. Se identificado de forma
precoce, este tipo de tumor tem até 90% de chances de cura.
Diversos
fatores contribuem para aumentar o risco de depressão em pacientes com câncer
de próstata. Pesquisadores da Queen’s University5, no Canadá,
constataram que homens mais jovens, fumantes, que fizeram uso do álcool, têm
baixa performance sexual e histórico pessoal ou familiar de depressão são mais
propensos a desenvolver esse transtorno psiquiátrico.
O
universo pesquisado envolveu 2.263 homens com idade
média de 68 anos. Cerca da metade deles tinha câncer de próstata localizado de
alto risco, 7% apresentavam histórico de doença metastática e 11% tinham
diagnóstico clínico de depressão ou ansiedade.
Segundo o estudo, o risco de depressão foi três vezes maior em
fumantes e homens que faziam uso do álcool, quatro vezes maior em pacientes com
histórico de ansiedade e depressão e cinco vezes maior em indivíduos incapacitados
para o trabalho. A cada dez anos menos, a probabilidade deste transtorno
apresentou um aumento 38%. Em pacientes com câncer de próstata de alto risco,
essa probabilidade cresceu para 49%.
Pesquisadores da Universidade
Dalhousie6, no Canadá, avaliaram a saúde mental de 6.585
homens, entre 49 e 69 anos, dos quais 3,9% foram diagnosticados com câncer
próstata, 11,3% com histórico de outras formas de câncer e 84,9% sem essa
condição. O risco para ansiedade de depressão foi entre 2,05 a 2,45 maior em pacientes
com câncer de próstata do que nos homens previamente saudáveis.
Tratamento
A oncologista clínica Mariana Bruno Siqueira, afirma ser muito importante os profissionais envolvidos no tratamento investigarem os fatores de risco e sinais da depressão. Quando identificados, os pacientes podem ser medicados e acompanhados em conjunto com a psiquiatria e a psicologia. “Aliás, desde o diagnóstico, esses pacientes devem ser avaliados pela equipe de psicologia. Depressão, ansiedade e medo têm tratamento e a melhora dos sintomas e do estado geral do paciente com uso de medicações e o apoio psicológico é visível”, pondera a médica.
Para
ela, os aspectos mentais e emocionais são essenciais no processo do tratamento
e chances de controle da doença. Alguns estudos já avaliaram que pacientes que
apresentam sintomas depressivos têm prognóstico desfavorável e menor chance de
sucesso com o tratamento. “Mas é importante frisar que, na maioria das vezes,
não conseguimos controlar nosso estado emocional, principalmente diante de uma
doença com tantos estigmas. O mais importante é pedir e aceitar ajuda nestes
casos. Com apoio e tratamento adequados podemos reverter essa situação”,
conclui Mariana Bruno Siqueira.
Oncologia D'Or
Referências
- Watts S, Leydon G, Birch B, et al.
Depression and anxiety in prostate cancer: a systematic review and
meta-analysis of prevalence rates.. BMJ aberto. 2014;
- Who. Disponível em Link
- Hanna
el al. Erectile dysfunction and prostate diseases are the predominant
Google search terms amongst men’s health topics. 2021. Springer Nature.
- Estimativa
2023 : incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer. Rio
de Janeiro : INCA, 2022.
- Gagan
Fervaha, MD, PhD et al. Psychological morbidity associated with prostate
cancer: Rates and predictors of depression in the RADICAL PC study. 2020
Canadian Urological Association.
- Gabriela
Ilie et al. Symptoms of anxiety and depression in adult men in Atlantic
Canada with or without a history of prostate cancer. Pycho Oncology 2020.
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