Honoré de Balzac, escritor francês, expoente do
realismo na literatura moderna, publicou inúmeros romances, entre eles, “A
Comédia Humana”, que conta com 95 novelas e contos que retratavam a sociedade
francesa de sua época. Taurino do dia 20 de maio de 1799, Balzac morreu em
1850, pouco depois de completar 51 anos.
Entre tantas obras de destaque, nada foi tão
marcante que “A Mulher de Trinta”. O texto tornou-se famoso não somente pelo
seu valor literário, mas especialmente porque estabeleceu uma nova definição
para a mulher. Sem os recursos da medicina moderna e sem o livre acesso aos
procedimentos estéticos da atualidade, a mulher balzaquiana encantava por sua
maturidade psicológica. Esse era o seu poder de atratividade, diferente das
mulheres mais novas, que deveriam ser românticas e exalar ingenuidade, conforme
os padrões vigentes.
A visão de Balzac sobre as mulheres de trinta e
poucos anos reflete o comportamento e os valores de um período no qual as
mulheres existiam para casar-se, reproduzir e cuidar dos filhos. Se elas
tivessem acesso à educação formal, o que não era regra para os costumes da
época, era algo digno de nota, já que os índices de analfabetismo eram
infinitamente superiores aos de hoje. Ser mulher significava ser jovem e
imatura. Ser atraente significava ser uma menina. Todo o encanto feminino
estava sob esse paradigma.
Foi por esse motivo que “A Mulher de Trinta” marcou
tão profundamente a sociedade a ponto de “balzaquiana” tornar-se um termo que
praticamente define um estereótipo de mulher loba, em pleno processo de
transformação. Ao dar vida a uma personagem que experimentava, aos trinta anos,
um relacionamento extraconjugal que lhe rendeu a primeira grande paixão, Balzac
mostrou que havia muito mais nuances psíquicas sob o corpo feminino do que se
falava até o momento. A balzaquiana era quente: sexy sem ser vulgar.
Hoje, em plena era do smartphone e das redes
sociais, a mulher depois da primeira Revolução de Saturno – fenômeno
astrológico que acontece por volta dos 30 anos – parece muito mais nova do que
a balzaquiana original. Com hábitos de vida mais saudáveis, proteção solar
adequada e acesso a mais recursos médicos, a balzaquiana atual começa a pensar
se quer ou não ter filhos, algo completamente impensável antigamente. Primeiro,
porque ter filhos não era uma questão de escolha e, segundo, porque esse era
praticamente seu único propósito de vida, muito diferente de hoje em que as mulheres
tem aspirações diversas, na carreira e na vida pessoal. Com nível educacional
muitas vezes superior ao dos homens e com a sexualidade cada vez mais
desvendada, as mulheres de trinta e poucos estão avançando na carreira e
amando. Sim, amando livremente, pois graças à educação sexual aprenderam que
seus corpos merecem prazer e suas individualidades precisam ser
respeitadas.
Mas engana-se quem acha que não existam mais tabus
a serem tocados no campo da sexualidade nas diferentes faixas etárias. Se, no
passado, eram as mulheres de trinta e poucos as que tinham um destino
estabelecido a ser ressignificado, hoje são as mulheres de 50 que precisam
enfrentar essa barreira.
Também mais educadas e com pleno acesso à
informação, as chamadas “cinquentonas” atualmente enfrentam o que, para muita
gente, ainda é tabu. Casadas e com filhos, divorciadas ou mesmo solteiras por
opção, elas muitas vezes têm de lidar com a ideia de que é preciso ser jovem
para ser sexy. Ainda que com muito menos marcas de tempo do que suas
antecessoras de outras gerações, as mulheres de meio século de hoje ainda se
comparam cruelmente com celebridades e influenciadoras digitais em busca da
forma perfeita. Como se a estética fosse referência para alguma coisa. Quanta
perda de tempo.
Mas em meio a tudo isso existe um tabu ainda maior
que, muitas vezes, encontra argumentos pseudocientíficos. Ainda há muita
ignorância sobre os efeitos da menopausa na sexualidade feminina. Isso porque,
mesmo que as mudanças hormonais possam causar alguns desconfortos nas mulheres
de cinquenta e poucos, diversos estudos científicos mostram que o desejo sexual
nem sempre é alterado. E mais: os fatores preponderantes para uma eventual
diminuição na libido estão muito mais relacionados a questões sociais e,
especialmente, psicológicas do que a fenômenos fisiológicos propriamente.
É preciso então que façamos com a mulher de
cinquenta o que Balzac fez no passado com a mulher de trinta. É hora de dar mais
liberdade para que as cinquentonas encontrem inspiração para viver o novo,
quebrando antigas crenças. Afinal, em um mundo que nos traz uma nova revolução
tecnológica por minuto, é preciso perceber que a vida começa aos cinquenta. E
viva as novas balzaquianas de cinquenta e poucos anos!
Virginia Gaia - sexóloga com abordagem holística,
estudiosa de religiões e mitologia, astróloga e taróloga.
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