O cenário de inovação no Brasil se mostra cada vez mais desafiador. Dados do MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que seguem os parâmetros metodológicos da OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, para permitir uma comparação internacional, apontam que estamos em marcha ré. Enquanto isso, no Vale do Silício, nos Estados Unidos, o ritmo é de aceleração total.
Em vez de nos posicionarmos como eternos
vira-latas, é muito mais produtivo espiarmos o que dá certo por lá e pode ser
replicado por aqui. Um país com dimensões continentais como o Brasil,
certamente, tem muito a oferecer ao mundo. Obviamente, desde que sejam feitos
ajustes de políticas públicas, mas, principalmente, de mentalidade do
empresariado brasileiro.
Um dos abismos mais notórios entre o Brasil e os
Estados Unidos no que tange a inovação diz respeito à educação. Embora várias
referências na área, como Steve Jobs, Mark Zuckerberg e Bill Gates, tenham
abandonado as universidades, é preciso deixar claro que eles não são a regra, e
sim a exceção. Além disso, eles sempre buscaram se cercar dos melhores.
O Vale do Silício está rodeado pelas universidades
mais consagradas do mundo, como Stanford, Universidade da Califórnia e
California Institute of Tecnology (Caltech). Isso faz com que a região tenha
profissionais de altíssimo nível à disposição. No Brasil, também temos ótimas
universidades, embora elas ainda não sejam acessíveis a toda a população. Como
consequência, o número de doutores vem caindo substancialmente em nosso país. A
média despencou de 24,4 mil, em 2016, para 20,7 mil, em 2021, segundo o MCTI.
Para mudar essa trajetória, é preciso investir em educação, permitindo que
novos talentos surjam em nossos bancos escolares.
Outro aspecto bastante relevante é que os Estados Unidos
são uma nação formada por imigrantes. Por lá, é possível ver pessoas das mais
diversas etnias trabalhando juntas. Ao contrário do que possa parecer, as
barreiras existem e não são apenas de comunicação, mas principalmente de
cultura. Por isso, é comum os profissionais receberem treinamentos a fim de
compreenderem os pontos fortes e fracos de cada nacionalidade com o objetivo de
gerar um melhor resultado para todos. Brasileiros costumam ser vistos como
ágeis, criativos e resolutos. Características que podemos observar,
especialmente, nas pequenas iniciativas empreendedoras em nosso país.
Embora em proporção menor, o Brasil também dispõe
de muitos imigrantes. O número de estrangeiros vivendo por aqui aumentou 24,4%
entre 2011 e 2020, segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Atualmente, existem cerca de 1,3 milhão de imigrantes residentes no
país, principalmente uruguaios, venezuelanos e haitianos.
Por mais que seja uma parcela pequena da população,
cabe destacar que, devido à nossa ampla extensão geográfica, é possível notar
muitas diferenças culturais dentro do próprio país. A alta taxa de migração,
principalmente para os estados da região Sudeste, representam uma importante
oportunidade de troca entre os brasileiros.
Compor um mix com esses profissionais é fundamental
para formar times mais heterogêneos e capazes de inovar. Essa mistura evidencia
que diversidade está longe de ser uma questão apenas de gênero, classe social
ou orientação sexual, conforme muitas empresas vem pregando. Empresas diversas
são compostas por pessoas de lugares, hábitos, crenças e preferências bastante
diferentes.
Um terceiro aspecto que o Vale do Silício deixa
como lição ao Brasil é a capacidade de investir. Enquanto lá a ordem é ousar e
correr riscos, aqui, a máxima pede cautela. Com medo de construir o novo,
nossas empresas fazem investimentos tímidos em inovação, buscando manter uma
postura muito mais de seguidor do que de líder.
O investimento na área caiu de R$ 95,3 bilhões, em
2019, para R$ 87,1 bi, em 2020, de acordo com o MCTI. A queda mais
significativa foi na indústria, que reduziu seu investimento em R$ 9 bilhões.
Isso significa que, em relação ao PIB - Produto Interno Bruto, o investimento
total caiu de 1,21% para 1,14% no período. Com isso, não tem sido raro o
descontentamento de profissionais da área que se veem obrigados a conquistar
resultados exorbitantes com recursos cada vez mais pífios.
Contudo, ainda mais prejudicial que os baixos
investimentos é a falta de cultura e processos bem definidos para a inovação.
Desenvolver uma mentalidade que busca retornos no longo prazo e está preparada
para cometer erros calculados faz toda a diferença para quem pretende inovar.
Uma ideia é só uma ideia, se não for testada e a aprimorada ao extremo. E, elas
não costumam ter valor nenhum se não forem capazes de resolver um problema de
quem está disposto a pagar pela solução.
Felizmente, algum progresso vem sendo sentido neste
aspecto, especialmente com a publicação da ISO 56002, uma metodologia de padrão
internacional que apoia empresas de todos os portes e segmentos a estabelecerem
uma governança para a inovação, elencando importantes pilares de cultura,
direcionamento estratégico, riscos e principalmente métricas para acompanhar o
desempenho da companhia. Ao todo, mais de 600 empresas no mundo já adotaram
esse modelo, sendo dezenas no Brasil, com resultados cada vez mais expressivos.
Em suma, embora nosso país ainda não esteja no
nível do Vale do Silício, nada nos impede de nos tornarmos um grande polo de
inovação mundial no futuro. Ao investir em educação, diversidade, cultura e
processos, teremos todos os ingredientes necessários para exportar produtos e
serviços inovadores ao mundo. Criatividade, disposição e força de vontade nunca
faltaram por aqui. Afinal, o melhor do Brasil sempre foi o brasileiro.
Alexandre
Pierro - mestrando em gestão e engenharia da
inovação, bacharel em engenharia mecânica, física nuclear e sócio fundador da
PALAS, consultoria pioneira na ISO de inovação na América Latina.
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