Cardiologista, especialista em estimulação cardíaca, da BP fala sobre o funcionamento dos aparelhos cardíacos e os cuidados necessários para evitar danos e interferências.
No Brasil, mais de 300 mil pessoas utilizam marcapassos, com
aproximadamente 50 mil novos dispositivos implantados a cada ano, de acordo com
o Censo Mundial de Marca-passos e Desfibriladores. Ao receber um marca-passo
cardíaco, é comum surgirem dúvidas sobre a vida cotidiana, como atravessar
detectores de metais ou usar o celular. “De fato, é preciso adotar alguns
cuidados, mas é possível ter uma vida normal sem grandes implicações”,
tranquiliza a cardiologista da BP – A
Beneficência Portuguesa de São Paulo, um dos principais hubs de saúde de
excelência do país, Cecília Monteiro Boya Barcellos, que é especialista em
estimulação cardíaca eletrônica artificial. “Não é o uso do aparelho que define
o que a pessoa pode ou não fazer no seu dia a dia e, sim, as condições clínicas
de seu implante”, aponta.
As
versões mais utilizadas do marca-passo são compostas por eletrodos instalados
no coração, interligados por fios a um gerador de pulsos afixado no peito,
debaixo da pele. O dispositivo geralmente é colocado abaixo das clavículas, por
isso a médica recomenda não praticar atividades físicas que demandem muita
carga nos músculos do peitoral, como musculação, crossfit, escalada e rapel,
para evitar danos nos eletrodos. “No entanto, um profissional pode orientar a
prática segura da maioria dos esportes”, diz a especialista. Pancadas no peito
raramente provocam danos aos geradores de pulsos, que são feitos de titânio,
mas a pressão que o incidente exerce pode provocar traumas e hematomas,
potencialmente levando a infecções. Por isso, deve-se evitar praticar esportes
de contato, ou fazê-los utilizando uma proteção sobre o gerador.
A
cardiologista da BP esclarece que o forno de micro-ondas e outros utensílios
domésticos, como o controle remoto e vídeo games, podem ser usados
tranquilamente, pois não interferem no funcionamento do dispositivo cardíaco.
Os detectores de metal em agências bancárias são seguros, mas a médica ressalta
que o metal presente no marca-passo pode acionar os sistemas de travamento,
então é importante avisar os responsáveis para não ficar preso nas portas. Com
a evolução dos smartphones, os riscos relacionados ao seu uso deixaram de
existir; Cecília recomenda apenas usar o celular na contralateral de onde o
dispositivo está implantado, para garantir uma distância mínima de 10
centímetros. Os exames de tomografia e mamografia, que utilizam feixes de
raios-x, também não oferecem perigo.
Embora
a maioria dos dispositivos seja compatível com ressonância magnética, a
avaliação de um especialista é crucial para programar adequadamente o exame.
Uma das contraindicações que Cecília faz é com relação aos imãs e grandes
campos magnéticos, que podem provocar interferências nos dispositivos. Por
isso, ela alerta que o portador não fique próximo de grandes caixas de som,
como as utilizadas em shows e eventos públicos, por exemplo. Além disso, a
médica aconselha quem trabalha com solda ou faz uso esporádico, redobrar
atenção e os cuidados, pois a soldagem pode provocar interferências no
funcionamento do marca-passo, embora raramente cause danos permanentes.
Para
quem é indicado
Dispositivos
como o marca-passo, cardiodesfibriladores e ressincronizadores são recomendados
para tratar quadros cardiológicos relacionados às arritmias, alterações no
ritmo das batidas do coração. Esses equipamentos controlam a braquicardia, que
ocorre quando o intervalo de batidas é mais lento que 50 por minutos, e a
taquicardia, quando a frequência é mais rápida que 100 batidas. Atualmente,
existem novas tecnologias nas quais o marca-passo é um sistema único implantado
dentro do coração, sem fios, indicado especialmente aos pacientes com
restrições à eletrodos. As versões mais modernas permitem ainda que as
informações contidas no gerador do dispositivo sejam transmitidas para
celulares, permitindo monitoramento remoto pelo médico. O menor marca-passo do
mundo, inclusive, foi implantado pela primeira vez na BP em 2021.
O
marca-passo é utilizado em pacientes com braquicardia e pode ser implantado em
qualquer fase da vida, inclusive em crianças ou bebês que nascem com bloqueio
atrioventricular congênito. Já os cardiodesfibriladores são indicados para
pacientes com arritmias ventriculares graves que já tiveram parada cardíaca ou
têm grandes chances de sofrê-la. O aparelho emite um choque interno para
reverter a arritmia. Por fim, os ressincronizadores são destinados a um quadro
específico de insuficiência cardíaca, associada a um tipo específico de
bloqueio cardíaco.
Todos
esses tipos de dispositivos demandam avaliação periódica por cardiologista
especializado para verificar a duração da bateria, a integridade dos eletrodos,
e realizar uma programação adequada a cada paciente na dependência de sua
doença (ou patologia). Em média, esses aparelhos duram de 7 a 10 anos, na
dependência de quanto e como estão sendo utilizados pelo coração. Os
equipamentos, que são chamados programadores, informam quando o momento da
troca está se aproximando para que esse procedimento ocorra da forma mais
segura possível. Na consulta, o especialista também pode efetuar vários tipos
de programação nos dispositivos, estabelecendo os ritmos da frequência cardíaca
para diferentes circunstâncias, incluindo programação para o dia ou noite, para
atividades físicas etc. No caso dos cardiodesfibriladores, é possível programar
para cada faixa de frequência um tipo específico de ação terapêutica
BP –Beneficência
Portuguesa de São Paulo
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