Às vésperas da COP 27, Médicos Sem Fronteiras e CICV alertam para necessidade de ação urgente em regiões já fragilizadas
As mudanças climáticas não são
uma ameaça distante. Esta crise está afetando drasticamente pessoas vulneráveis
em todo o mundo. A mudança do clima está provocando consequências devastadoras
especialmente para as pessoas que vivem em situações de conflito e para aqueles
que não têm acesso aos cuidados básicos de saúde.
Médicos Sem Fronteiras (MSF), o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e o Movimento da Cruz
Vermelha e do Crescente Vermelho estão trabalhando em estreita colaboração com
comunidades em países onde a convergência das mudanças climáticas, conflitos
armados e emergências de saúde é uma realidade sombria. Dos 25
países mais vulneráveis às mudanças climáticas e menos preparados para se
adaptar, a maioria também está passando por conflitos armados.
Em muitos desses locais, as pessoas não têm acesso aos cuidados básicos de
saúde. Quando choques climáticos ocorrem em países com poucos alimentos, água e
recursos econômicos, as condições de vida, a saúde e os meios de subsistência
das pessoas são ameaçados.
A Somália tem sofrido um ciclo irregular de secas e
inundações nos últimos anos, agravando uma situação humanitária já terrível,
ainda mais complicada por três décadas de conflito armado. As pessoas têm tempo
limitado para se adaptar porque os choques climáticos são graves e muito
frequentes.
As organizações humanitárias também têm respondido
às inundações no Sudão do Sul e em todo o Sahel; ciclones devastadores em
Madagascar e Moçambique; e à seca severa no Chifre da África. A crise climática
agrava as crises sanitária e humanitária.
Como agentes humanitários, estamos preocupados com
a atual realidade e as projeções para o futuro. Testemunhamos secas, inundações,
pragas de insetos e mudanças nos padrões de chuva que podem comprometer a
produção de alimentos e os meios de sobrevivência das pessoas. Assistimos a
eventos climáticos mais extremos e mais poderosos, como ciclones, que destroem
a infraestrutura de saúde essencial. Notamos mudanças nos padrões de doenças
mortais, como malária, dengue e cólera. Conflitos e violência aumentam a
necessidade de assistência médica de emergência, ao mesmo tempo que limitam a
capacidade dos estabelecimentos de saúde.
Todas essas situações estão ocorrendo em um mundo
que aqueceu 1,2 graus acima das temperaturas da era pré-industrial, à medida
que testemunhamos como as pessoas mais vulneráveis do mundo estão sofrendo as
consequências de um problema majoritariamente causado pelas nações mais ricas
do mundo. O aquecimento adicional levará a consequências desastrosas, a menos
que sejam tomadas medidas urgentes e ambiciosas de mitigação e que seja
mobilizado apoio adequado para as pessoas e países mais afetados para que
possam se adaptar aos crescentes riscos climáticos.
“Atualmente, as necessidades
já estão superando a capacidade de resposta. Trata-se de uma crise de
solidariedade que agora está dando lugar a uma crise moral. O mundo não pode
deixar as pessoas que sofrem as consequências mais trágicas sem apoio”, disse
Stephen Cornish, diretor-geral de MSF na Suíça.
O apoio financeiro e técnico deve chegar às pessoas
que mais precisam, o que não está acontecendo na escala que deveria. O
compromisso do Acordo de Paris de aumentar o apoio aos países menos
desenvolvidos não reconhece que um número significativo deles também é afetado
por conflitos e deve ser priorizado. Até o momento, não foram cumpridas
promessas para reduzir as emissões de carbono e apoiar os países que sofrem os
maiores impactos.
“Estamos testemunhando os efeitos agravantes dos
crescentes riscos climáticos e conflitos armados do Afeganistão à Somália, do
Mali ao Iêmen. Nosso trabalho nesses lugares ajuda as pessoas a lidar com a
crise climática. Mas os atores humanitários não podem responder sozinhos à
multiplicidade de desafios. Sem um apoio financeiro e político decisivo aos
países mais frágeis, o sofrimento só vai piorar”, disse Robert Mardini,
diretor-geral do CICV.
Apelamos aos líderes mundiais
para que cumpram os seus compromissos do Acordo de Paris e da Agenda 2030 e
garantam que as pessoas vulneráveis e afetadas por conflitos sejam
adequadamente apoiadas para se adaptarem a um clima em alteração. Devemos
encontrar coletivamente soluções e garantir o acesso a financiamento climático
adequado em ambientes desafiadores. Deixar as pessoas para trás não é uma
opção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário