O nascimento de uma criança traz sempre muita alegria às famílias. Mas, com o passar do tempo, os pais percebem que lidar com o dia-a-dia dos filhos pode ser uma tarefa muito desafiadora. No cuidado cotidiano, surgem muitas dúvidas e conselhos contraditórios de parentes, amigos e vizinhos. A relação delicada entre sono e amamentação está entre os temas, envolvendo os laços de mãe e filho, que suscitam muitos questionamentos. “É preciso acordar o bebê para amamentar?" Todo despertar noturno é fome? É correto dar de mamar deitada?” são perguntas corriqueiras, principalmente das mães mais inexperientes.
“A amamentação é um momento ímpar na vida da mãe e da
criança. O contato físico e o vínculo são fundamentais para a relação mãe e filho”,
afirma o pediatra Gustavo Moreira, Médico e Pesquisador do Instituto do Sono.
Junto com a biomédica Monica Andersen, Diretora de Ensino e Pesquisa do
Instituto do Sono, ele aproveita a Semana Mundial do Aleitamento Materno,
celebrada entre 1º a 7 de agosto, para esclarecer o que é mito e o que é
verdade na relação entre o sono e amamentação.
Gotas de saúde e amor
O aleitamento materno é a forma mais completa de a mulher
nutrir e fortalecer os laços com seu filho. O leite materno é rico em proteínas,
carboidratos, gorduras, vitaminas, sais minerais e contém todos os nutrientes
que a criança precisa até os 6 primeiros meses de vida. Possui substâncias com
propriedades imunológicas que protegem o bebê contra diarreia, desidratação,
desnutrição, alergias e infecções no ouvido.
A amamentação também traz benefícios para a mulher.
Acelera o processo de o útero voltar ao tamanho original após o parto, reduz o
sangramento e previne a anemia materna. Também estimula a perda de peso,
protege contra as doenças cardiovasculares e diminui o risco de diabetes,
osteoporose e câncer de mama.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que até os 6 meses de idade a criança deve receber apenas o leite materno. A partir daí outros alimentos podem ser introduzidos na dieta do bebê. Ressalta-se que amamentação com leite materno deve continuar de forma complementar por 2 anos ou mais. Apesar da recomendação, a OMS revela que, no mundo, apenas 44% das crianças são amamentadas exclusivamente nos primeiros 6 meses de vida.
A Coleção Dona Ciência traz um gibi dedicado exclusivamente à amamentação
Sono dos anjos
Entre as queixas mais frequentes dos casais com filhos
recém-nascidos estão as noites mal dormidas. Mas, o aleitamento materno pode
não ser o motivo do sono fragmentado das crianças. É que, no primeiro ano de
vida, o bebê tem um ciclo vigília-sono diferente do adulto. Enquanto o adulto
apresenta sono monofásico nas 24 horas, o bebê tem um sono polifásico, ou seja,
dorme de 8 a 10 vezes nas 24 horas do dia. A criança típica com 1 ano passa a
dormir de 10 a 12 horas à noite, seguida por 2 cochilos diários.
Esse descompasso entre o sono do adulto e o do bebê faz
com que muitas mães fiquem privadas de sono, apresentando sintomas como
sonolência excessiva durante o dia, fadiga, mau humor, problemas de memória,
desatenção e pré-disposição para infecções. “A amamentação é uma fase da vida”,
argumenta a biomédica Monica Andersen.” Assim como o candidato do vestibular
passa um ano estudando - sem se encontrar com os amigos ou participar dos
almoços familiares --, a mulher que amamenta passa um período com o sono
insuficiente. Mas, é temporário”, complementa.
Agora chegou a hora de conhecer 7 mitos e verdades que
envolvem a amamentação e sono. Confira:
1 . Durma quando seu bebê dormir. VERDADE
Essa crença popular é verdadeira. A mãe deve aproveitar o
sono do bebê para dar pequenos cochilos. “A sincronia com o sono do bebê é
importante, porque a mulher precisa descansar para produzir o leite. O que não
pode é ela colocar o bebê para dormir e cuidar da casa, lavar a louça e
trabalhar”, ensina o pediatra Gustavo Moreira. Ele lembra que cochilar junto
com o bebê é mais difícil para mulheres que têm pouco apoio familiar, possuem
muitos filhos, têm filhos gêmeos ou com problemas de saúde. “Nos primeiros
meses de vida do bebê, a mulher que amamenta fica com débito de sono. Se ela
não colocar um pouco de horas de sono, ficará com a conta muito negativa”,
destaca a biomédica Monica Andersen.
2. Não tem problema cochilar enquanto amamenta. MITO
A mulher precisa estar acordada para amamentar. Se
cochilar, pode cair em cima do bebê e sufocá-lo. Sem contar que a criança,
quando está mamando, tem que respirar pelo nariz. Se cochila, a mãe pode perder
a pega e obstruir o nariz do bebê.
3. O estresse afeta a produção do leite. VERDADE
O estresse pode alterar o fluxo normal do leite materno,
porque induz o corpo a liberar algumas substâncias que diminuem a produção da
prolactina, um dos principais hormônios responsáveis pela lactação. “A mulher
com sono insuficiente e está muito estressada também irá produzir menos leite”,
explica o pediatra Gustavo Moreira.
4. Tudo bem amamentar deitada. MITO
Existem várias posições para o aleitamento materno.
Importante é sempre o bebê estar posicionado de modo que a cabeça fique acima
da barriga. Caso contrário, o leite pode voltar, assim que chegar ao estômago.
É o chamado refluxo, que pode provocar infecção no ouvido e no nariz. Depois de
mamar, a criança deve ser colocada com a cabeça sobre o ombro da mãe a fim de
arrotar, o que vai ajudar seu organismo a direcionar o leite para o intestino.
5. O bebê deve ser acordado para mamar? DEPENDE
A resposta varia caso a caso. Se a criança não está
ganhando peso, pode ser acordada para mamar. Se está com o peso normal, pode
dormir até despertar sozinha. A OMS recomenda a livre demanda, ou seja, que o
bebê mame quando estiver com fome. “Tem bebês que acordam de hora em hora,
outros que acordam a cada 3 horas e aqueles que ficam 5 horas sem mamar”, afirma
Gustavo Moreira. Em caso de dúvida, os pais devem recorrer à orientação do
médico.
6. Todo despertar noturno é fome? MITO
A fome não é o motivo exclusivo para o despertar noturno
bebê. Assim como os adultos, as crianças podem acordar no meio da noite e depois
voltar a dormir sem interferência dos pais. É o caso dos bebês que mamam bem,
despertam dali 1 hora e retomam o sono. Os pequenos podem acordar também devido
a causas externas, como fralda suja, calor, frio e roupas que reduzem a sua
mobilidade.
Nos primeiros 3 meses de vida, as crianças acordam a cada
2 ou 3 horas para mamar. Com o passar do tempo, elas conseguem fazer um jejum
mais prolongado. Algumas crianças acordam no meio da noite. Sem ter certeza do
que ocorre, muitas mães oferecem o seio ao filho “Aí a criança aprende que
todas as vezes que ela acordar e chorar vai ganhar a mamada”, esclarece a
biomédica Monica Andersen.
O pediatra Gustavo Moreira acha difícil para as mães
saberem quando a criança chora por fome ou para obter a atenção dos pais.
Embora não seja simples, a distinção não é impossível, mesmo porque existe uma
comunicação não-verbal entre mãe e filho. “Algumas mulheres conseguem decifrar
a intenção do bebê só pelo tom do choro, e quando e como a criança chora”,
explica o médico. Mas, para as mães inexperientes, essa distinção é muito
complicada.
7. A criança deve dormir de barriga para cima. VERDADE
A posição de dormir é fundamental para a segurança do bebê. Dormir de barriga
para cima evita a morte súbita, um evento trágico que ocorre de forma
inesperada principalmente nos primeiros 6 meses de vida. A criança tem que
dormir numa superfície rígida, de preferência, no berço no quarto do casal, a
fim de permitir a interferência rápida dos pais quando necessário. “O que não
pode é o bebê dormir na cama do casal, porque já há histórias de pais que
rolaram sobre a criança”, diz o pediatra Gustavo Moreira.
Coleção Dona Ciência
Para saber mais sobre a importância da amamentação leia o
fascículo 35 da coleção de gibis Dona Ciência, publicada pelo Instituto do
Sono, com apoio da AFIP - Associação Fundo de Assistência à Pesquisa. Clique aqui
e acesse o fascículo gratuitamente. A série foi idealizada pela Monica Andersen
para apresentar a Ciência, seus conceitos e descobertas para crianças e
adolescentes, de forma lúdica e simplificada.
Instituto do Sono faz parte da AFIP (Associação Fundo de
Incentivo à Pesquisa)
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