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quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Nem sempre andar nas pontas dos pés tem relação com o autismo

Marcha na ponta dos pés sem relação com outras condições deve ser investigada


Apesar de as pesquisas apontarem que 20% das crianças no espectro autista costumam andar nas pontas dos pés, nem sempre esse comportamento tem ligação o autismo e pode ocorrer em crianças com desenvolvimento típico.
 
A condição é chamada de marcha em pontas idiopática, ou seja, cuja causa não pode ser determinada.
 
Segundo Walkíria Brunetti, fisioterapeuta especializada em fisioterapia neurológica, a maioria das crianças caminha na ponta dos pés quando aprende a andar. “É um comportamento muito comum e natural e pode se prolongar até por volta dos três anos de idade nas crianças com desenvolvimento dentro do esperado”.  
 
“Uma característica muito importante da marcha na ponta dos pés idiopática é que a criança é capaz de apoiar a planta do pé no chão, mas não realiza esse movimento. Vale reforçar que essa condição é diferente da marcha na ponta dos pés que afeta crianças com doenças neurológicas, como a paralisia cerebral ou ainda com doenças neuromusculares”, aponta a especialista.


 
Aflição e aversão
 
Atualmente alguns estudos sugerem que a marcha na ponta dos pés idiopática pode ter ligação com problemas no processamento das informações recebidas pelo sistema tátil.

Em outras palavras, quando o bebê aprende a andar ele passa a sentir e a processar as informações captadas pela sola dos pés. Algumas crianças desenvolvem reações exageradas a texturas, temperatura e outras sensações táteis.
 
“Quando isso ocorre, essas crianças tiram a sola do pé do chão e passam a caminhar na ponta dos pés para reduzir essa sensação desconfortável. Na verdade, a marcha em pontas é uma estratégia da criança para reduzir a área de contato da sola dos pés com os estímulos. A sensibilidade pode variar de acordo com o tipo de superfície. Em geral, areia, grama, tapetes e superfícies ásperas podem desencadear esse comportamento”, aponta Walkíria.


 
Sem força
 
Outra causa da marcha na ponta dos pés idiopática pode ser a pouca ativação e força nos músculos abdominais e glúteos (músculos inferiores). Como resultado, a criança usa os músculos da panturrilha para se impulsionar para frente ao caminhar e faz isso ao tirar a sola dos pés do chão.


 
Quando procurar ajuda?
 
“Como falamos, andar na ponta dos pés é um comportamento esperado durante a aquisição da marcha. Contudo, se é um movimento frequente durante o dia a dia, com duração superior a três meses e sem relação a outra condição de saúde, é preciso sim procurar um especialista”, ressalta Walkíria.
 
Em 2021, o CDC (Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos) publicou uma atualização dos marcos do desenvolvimento com a finalidade incentivar a intervenção precoce de déficits no desenvolvimento infantil. Isso acende um alerta para que os pais fiquem atentos à aquisição da fala, marcha e demais marcos de acordo com a faixa etária.
 
Isso é importante porque uma criança que desenvolve a marcha na ponta dos pés cria um padrão que pode ser difícil de mudar se a intervenção ocorre tardiamente. A correção da marcha precoce evita problemas futuros nos membros inferiores.
 
A repetição do movimento pode causar dores nos pés, nas pernas, causar quedas e tropeços frequentes bem como causar dificuldades na hora da criança praticar esportes.
 
“A posição incorreta do calcanhar durante a marcha pode levar ao encurtamento do tendão de Aquiles, dos músculos da parte de trás do joelho e na cadeia muscular ada coluna. A criança também vai desenvolver um padrão de marcha que leva o tronco para frente e isso altera a postura”, diz Walkíria.


 
Antes dos 3
 
“Até os três anos de idade, as conexões no cérebro são mais adaptáveis, Essas conexões, também chamadas de circuitos neurais, são a base para o aprendizado, o comportamento e a saúde. Com o tempo, essas conexões se tornam mais difíceis de mudar”, explica Walkíria.
 
Uma das técnicas da fisioterapia é corrigir a marcha por meio da criação de estímulos para que a criança comece a processar as sensações de forma mais organizada. “A terapia consiste no uso de recursos como cama elástica, rampas, balanços, túneis de tecido, escorregadores e caminhadas em diferentes superfícies”, conta a especialista.  
 
Dependendo das alterações musculoesqueléticos, também é feito um trabalho de fortalecimento e alongamento, bem como a correção da postura durante a caminhada.


 
Em casa também
 
A terapia deve ser reforçada pelos pais em casa. “Os pais podem usar materiais simples que todo mundo tem casa, como arroz e grãos em geral, slime ou gelatina, tapetes, toalhas etc. A ideia é fazer um circuito e colocar a criança para caminhar nesses materiais”.
 
Há também atividades como a pintura dos pés com tinta para deixar pegadas em uma cartolina ou similar. “Precisamos pensar em recursos lúdicos para motivar a criança a participar do tratamento. Todo incentivo é bem-vindo”, finaliza Walkíria

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