Condição atinge cerca de 3% das mulheres
O exame físico
direcionado ao aleitamento é crucial para detecção de anormalidades. As
mulheres que apresentam alguma alteração no complexo aréolo papilar devem ser
orientadas sobre as possíveis dificuldades e o manejo precoce é fundamental
para o sucesso do aleitamento, garante a médica ginecologista, obstetra e
mastologista Mayka Volpato, coordenadora da Comissão de Aleitamento Materno da
Sociedade Brasileira de Mastologia-SP (SBM-SP) e co-autora do livro Doenças Mamárias na Gravidez e Lactação, lançado em maio.
Um problema que pode ocorrer nessa fase é o mamilo invertido, que,
congenitamente, atinge aproximadamente 3% das mulheres. Embora a maioria dos
casos seja esporádico, alguns estão associados a distúrbios genéticos
hereditários e são causados por uma falha de tecido subjacente em proliferar e
projetar a papila do mamilo para fora.
O que é mamilo
invertido
A aréola contém fibras colágenas densas e uma fina camada de músculo contrátil
onde a papila se projeta da área central.
Na papila normal, a contração do músculo areolar resulta na projeção do
mamilo. A retração da papila ocorre quando as forças contráteis dos
músculos areolares são incapazes de superar a tensão entre os ductos centrais e
a pele do mamilo, o que é chamado de mamilo invertido, explica a dra. Mayka.
A inversão do mamilo adquirido é comumente associada ao alargamento de ductos
mamários, que leva a doenças como a mastite, ou ainda causado por outras
infecções mamárias. Também pode ocorrer no pós-operatório de cirurgias
mamárias, biópsias, câncer ou uso de piercing.
É importante salientar que a correção cirúrgica do mamilo invertido lesa e
causa fibrose em toda a árvore ductal e por isso não se pode prever o sucesso
do aleitamento, alerta a dra Mayka.
Retração do mamilo x
inversão do mamilo
Embora os termos
"inversão do mamilo" e "retração do mamilo" sejam
frequentemente usados como sinônimos, há diferença, explica a dra Mayka:
- A retraçãodo
mamilo ocorre quando apenas uma parte do mamilo é puxada para dentro
porque está presa por um único ducto, resultando em uma aparência de
fenda.
- A inversãodo
mamilo ocorre quando todo o mamilo é puxado para dentro.
Os tipos de mamilo invertido
e sua graduação:
- Grau I–
O mamilo é facilmente puxado para fora com um leve aperto da pele
areolar. A projeção do mamilo é bem mantida por vários minutos, mas
depois o mamilo reverte para um estado invertido.
- Grau II–
Manipulação forçada é necessária para puxar o mamilo para fora, e a
inversão ocorre rapidamente. A maioria dos pacientes com inversão do
mamilo tem essa característica.
- Grau III–
Não há projeção do mamilo, e a papila está enterrada abaixo do nível da
pele. Apesar da manipulação máxima, o mamilo não pode ser puxado para
fora e é descrito como invaginado.
Durante o pré-natal, o diagnóstico, a informação e o planejamento do pós-parto
são os itens mais importantes a serem abordados para tratar da situação. Não há
muito que fazer para melhorar os mamilos semiplanos, planos e invertidos. Os
exercícios, uso de conchas com base rígida e os dispositivos de sucção não
auxiliam nem mudam o curso do aleitamento e, portanto, devem ser desencorajados
nessa fase.
Como amamentar
As consultoras de amamentação ou enfermeiras do banco de leite são peças
fundamentais para ajudar as mulheres com mamilos invertidos, pois auxiliam na
exteriorização da papila e no melhor posicionamento de bebê.
As mães devem ser estimuladas a testar várias posições para avaliar na qual o
bebê melhor se ajusta - em geral as posturas invertida e cavaleiro são as mais
favoráveis, pois a mulher tem maior liberdade e acesso para ajuste da mama
durante a amamentação.
Para resolver a inversão, deve-se tentar "rolar" o mamilo com os
dedos para induzir o mamilo a se projetar. Alternativamente, pode-se usar
um dispositivo de sucção especial (corretor de mamilo) imediatamente antes da
mamada e com cuidado para não machucar ou causar dor e desconforto.
Como último recurso, pode ser utilizado o intermediário de silicone, mas é
importante deixar claro que o protetor fornecerá ao bebê maior estímulo
sensorial, facilitando a pega, mas levará à diminuição da produção láctea,
possibilidade de traumas no centro da papila, além da confusão de bicos e baixa
ingesta láctea pelo recém-nascido. Deve ser retirado assim que o bebê consiga
abocanhar a mama e manter a pega.
Informação é
fundamental
Dessa forma, é fundamental quo médico do pré-natal avalie as mamas, rastreie os
demais fatores de risco primário ao aleitamento (hipoplasia mamária, obesidade,
uso crônico de medicação ou suplemento, cirurgia mamária prévia ou trauma,
violência doméstica, diabetes, resistência insulínica, síndrome metabólica) e
ofereça informações para o manejo das possíveis intercorrências.
Se o obstetra julgar necessário e houver possibilidade, a paciente pode
ser encaminhada, durante a gestação, a uma consultoria de amamentação
para alinhar as expectativas e planejar condutas.
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