Especialista
explica como essa condição pode atingir atletas e como agir em caso positivoDivulgação
Um erro muito comum é
acreditar que a trombose é uma condição que atinge somente pessoas de mais
idade ou com saúde debilitada. No entanto, a realidade mostra que coágulos de
sangue anormais, também conhecidos como trombos, podem acontecer em
qualquer pessoa, independentemente de idade ou condição física. Uma classe que
pode ser atingida são atletas que, apesar de boa condição
física e laboratorial, se veem frente a outras condições
adversas que podem levar a uma trombose venosa ou arterial.
Primeiramente, é preciso
entender o que é esse estado e quais são seus possíveis malefícios. Uma
trombose acontece quando um trombo interrompe a circulação de uma
veia ou artéria, comprometendo a irrigação e a função regular daquele órgão ou
tecido. Embolia pulmonar, AVC e infarto do miocárdio são apenas algumas das
doenças decorrentes dessa condição – que
pode levar, em casos extremos, à morte.
As causas da
trombose podem ser diversas, no entanto, a simples prática esportiva,
dependendo da modalidade pode ser um fator de risco, como explica a Dra. Joyce Annichino, hematologista
e professora do departamento de clínica médica da Unicamp. “O esporte, apesar de
ser uma prática positiva, pode levar a lesões da veia como
no trauma ocasionado por uma bolada durante uma partida de
futebol, ou pela repetição de movimentos dos braços,
como no caso do basquete, handebol e natação. Lesões
musculoesqueléticas ou estiramentos musculares podem criar um edema
local, que, por sua vez, podem comprimir a veia, levando
à trombose”.
Foi o que aconteceu com a
jogadora de tênis americana Serena Williams em 2010. Uma série de pequenas
lesões foram responsáveis por carregar coágulos de sangue ao seu pulmão - o
que, infelizmente, acabou levando-a a um caso sério de embolia pulmonar que a
tirou das quadras por quase 12 meses. “É difícil afirmar exatamente
uma única causa para formação de um trombo em um atleta.
Podem ser lesões, viagens aéreas muito longas em que a pessoa
fica sentada por horas, muito tempo de imobilização por conta de contusão”,
afirma a médica.
No entanto, a doutora reforça
também que não há motivo para pânico já que nem tudo leva a trombose.
É importante ficar atento a lesões que, apesar dos tratamentos, não
melhoram ou ainda pioram. “Imagina que você teve um estiramento e
está com dor. Você pode fazer uma compressa, tomar um anti-inflamatório. Mas,
se depois de dois, três dias, apesar dos cuidados não
houver qualquer melhora, ou ainda, o quadro piorou, é
bom procurar um atendimento para ver a necessidade de fazer um
ultrassom e descartar a trombose”, explica.
Doping
“A competição esportiva é
muito positiva, mas muitos valores equivocados chegam ao atleta com a
premissa de vencer a qualquer custo”, explica a Drª Joyce. “E, com isso, muitas vezes, eles não medem esforços na hora
de utilizarem medicamentos e hormônios para tentar aumentar a performance. Com
isso, acabam se expondo a um risco grande”.
Nesse sentido, existem
substâncias que poderiam estar associadas à trombose arterial, especialmente os
esteroides androgênicos, que são os derivados de
testosterona. Miocardiopatia, arritmia, infarto e derrame são
apenas algumas das consequências do uso da testosterona. “Uma outra
coisa usada por ciclistas é a eritropoietina, que estimula a produção
das hemácias, que associada a outros fatores, como a
desidratação, pode, em alguns casos, aumentar o risco de infarto”,
completa a doutora. Alterações no colesterol e aumento da pressão arterial são
outros fatores induzidos por essas substâncias e que podem levar à trombose.
Fator
desencadeante e tratamento
Um fator muito importante
para pacientes com trombose venosa é tentar se lembrar de
qual pode ter sido o fator desencadeante desse quadro; ou se não
houve nenhum fator - a chamada de trombose espontânea. E
muitas vezes as lesões esportivas são esquecidas como fatores
desencadeantes. “Isso muda toda a conduta que a gente vai ter com esse
paciente. Porque se consideramos uma trombose espontânea, o paciente em
muitos casos terá que tomar anticoagulantes pelo resto da vida. Mas se
houve um fator desencadeante, isso muda tudo. A gente geralmente vai
tratar por três a seis meses”, esclarece.
Além disso, o paciente que
está em uso de anticoagulantes deve evitar a todo custo se
expor, durante o tratamento, a situações de risco de sangramento.
“Se um atleta, profissional ou não, teve uma trombose, nos três primeiros
meses não pode se expor a nada de alto impacto, porque o risco hemorrágico
é alto. Os três primeiros meses são críticos após uma trombose”, finaliza.
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