Entre os desafios do setor mineral brasileiro, a implantação efetiva dos Princípios ESG (Ambiental, Social e de Governança) continua na mira da indústria. O conceito não é novo, já que substitui termos amplamente usados há mais de uma década, como Sustentabilidade e Responsabilidade Social, mas é um caminho sem volta, segundo os especialistas que participaram do painel “Sustentabilidade Ambiental, Social e Governança (ESG) na Exploração Mineral” do Simexmin 2021, nesta quarta-feira (11).
Geóloga e presidente da WIM Brasil/XR LAB, Patrícia
Procópio, do movimento Women in Mining Brasil (WIM Brasil), um movimento
mundial do setor que tem como objetivo principal promover um ambiente mais
inclusivo nas empresas de mineração para a questão de gênero. Atualmente, são
24 signatárias no país e um dos primeiros resultados dessa iniciativa é o Plano
de Ação Avanço das Mulheres na Indústria da Mineração Brasileira.
O próximo desafio é um diagnóstico do setor de
exploração mineral, para estudar possibilidades de incluir mais mulheres no
segmento. “Nosso propósito é ressignificar a exploração em relação à inclusão
de gênero, criar oportunidades e desenvolver novas novas lideranças femininas
na área, subsidiar, atrair e reter mais mulheres para a exploração mineral”,
frisa.
Jornalista, Relações Públicas e presidente da
Interatio, Rolf Georg Fuchs, sugeriu a mudança do termo “exploração mineral”
por “pesquisa mineral” porque a palavra exploração tem um significado negativo
na língua portuguesa. Ele também disse não há caminho de volta para os
Princípios ESG, que é fundamental para a melhoria da imagem e da reputação do
setor, principalmente na relação com gestores municipais e população.
“As comunidades estavam lá antes da chegada da
mineração e vão estar depois que a empresa encerrar suas atividades. Então, sem
aceitação social, o projeto não acontece. Ter uma comunicação com linguagem
adequada, clareza, tempo para alcançar familiaridade e confiança, atenção às
minorias e grupos sociais específicos, postura ética junto ao poder municipal,
entender as divergências e lutar pelas convergências são fundamentais”, aponta.
A adesão e efetiva aplicação aos Princípios ESG
também tem peso econômico para os negócios. Segundo a geóloga e pesquisadora do
Serviço Geológico do Brasil na Divisão de Geologia Econômica, Lilia Costa
Queiroz, o lançamento do índice de equidade de gênero da Bloomberg, Gender
Equality Index e a arrecadação de mais de US$ 21 bilhões em fundos ESG apenas
no primeiro trimestre deste ano comprovam que essa mudança também faz bem para
o faturamento.
“Hoje o setor tem um desafio maior que encontrar o
mineral. É preciso fazer isso de forma economicamente viável, sustentável e
harmônica com o ESG. Assim, a presença de mulheres nas minerações – o que hoje
está em um percentual de 13%, sendo que no mercado de trabalho o índice é de
44%, é ter um novo olhar sobre o negócio, em todas as áreas”, frisa.
Crimes e mineração
Mineração é desenvolvimento e riqueza, mas do ponto
de vista da segurança pública, também merece um tratamento especial. De acordo
com o geólogo e perito criminal da Polícia Federal (PF), Fábio Salvador, falta
aos Princípios ESG a palavra J, de Justiça porque o crime que permeia todos os
ambientes também está presente na exploração do ouro, na América Latina. Entre
eles, lavagem de dinheiro, financiamento de terrorismo, riscos e
vulnerabilidades variadas.
Assim, a PF desenvolveu o Programa Ouro Alvo, para
investigar de forma científica e técnica qual é o tipo de ouro que sustenta a
criminalidade no país. O órgão que tem o seu laboratório de geologia próprio
também estuda a criação de um selo GreenGold para certificar empresas
brasileiras que incluem boas práticas na governança dessa linha de produção.
“Hoje temos apreensões de ouro semanais de ouro
irregular comercializado. A evolução do preço do ouro a partir de 2020, associado
ao fenômeno da pandemia gerou um aumento muito grande nos preços nacional e
internacional do produto, o que atraiu mineradores irregulares criminosos que
se passam por mineradores artesanais ou garimpeiros. Se se confirmarem as
previsões de que o valor duplique, teremos seríssimos problemas de crime e
segurança pública e isso precisa ser controlado”, destaca.
Para esse projeto, a PF firmou um acordo de
cooperação técnica inédito com a Agência Nacional de Mineração (ANM), para
compartilhamento de informações e de atribuições. “A Agência tem sido
falha do ponto de vista da segurança pública e justiça há décadas, devido ao
sucateamento institucional e à falta de incentivo estatal para termos uma
Agência forte que possa cumprir com seu papel de fiscalizar a atividade. O
acordo que firmamos é um marco porque podemos trocar bancos de dados e atuar no
combate às ilicitudes da cadeia produtiva do ouro e propiciar que a ANM possa
superar a dificuldade de ir a campo para fiscalizar”, conclui.
Os mediadores foram a diretora de Sustentabilidade
da Nexa Resources, Thais Laguardia, e o diretor de Sustentabilidade e Assuntos
Regulatórios do IBRAM, Júlio Nery.
SIMEXMIN 2021 – Pela primeira vez em formato 100%
virtual, o IX Simpósio Brasileiro de Exploração Mineral é um evento da Agência
para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral (ADIMB), que congrega 54
organizações públicas e privadas do setor mineral brasileiro. Nesta edição, o
programa inclui 12 painéis com mais de 40 palestras realizadas entre 9 e 12 de
agosto. Com mais de 900 inscritos, o evento tem patrocínios de diversas
empresas do setor mineral. Todas as apresentações estarão disponíveis para os
inscritos na plataforma digital após a conclusão do evento. As inscrições no
SIMEXMIN 2021 podem ser feitas através do link
https://inevent.com/pt/ADIMB/SIMEXMIN2021/hotsite.php
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