Para oncologista, além das doenças associadas ao
tabaco, vício ainda aumenta em 45% chances de quadros graves de Covid-19
Apesar de o número de fumantes no Brasil ter
caído nos últimos anos, [segundo o IBGE, em 2019, cerca de 12,6% da população
com 18 anos ou mais, era usuária de produtos derivados de tabaco, enquanto em
2013 esse percentual era de 14,7%.], um dado alarmante escancara outro
problema: entre os que continuam fumando, 34% declararam a um levantamento da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocuz) terem aumentado o consumo durante a pandemia. Ainda de acordo com o estudo, este crescimento está
associado à deterioração da saúde mental dos tabagistas, com piora de quadros
de depressão, ansiedade e insônia.
Segundo a oncologista clínica Daiana
Ferraz, que faz parte do corpo clínico da Cetus Oncologia [clínica
especializada em tratamentos oncológicos com sede em Betim e unidades em Belo
Horizonte e Contagem] esse é um cenário muito preocupante, já que a nicotina é
altamente viciante. “Ao ser absorvida, ela [a nicotina] atinge o cérebro entre
7 e 19 segundos, liberando substâncias químicas para a corrente sanguínea que
levam a uma sensação de prazer e bem-estar. Essa sensação faz com que os
fumantes usem o cigarro várias vezes ao dia. Nesses momentos de turbulência e
incertezas que estamos vivendo, ele [o cigarro] acaba se tornando uma válvula
de escape, infelizmente perigosa, cujos danos são silenciosos e podem
prejudicar o organismo durante anos sem que o usuário perceba. Sendo assim,
evitar o tabagismo ou suspendê-lo o mais precocemente possível favorece
diretamente a prevenção e os riscos relacionados”, enfatiza.
Os riscos do cigarro, conforme aponta
a médica, são muitos. O tabaco, em suas diferentes formas, [cigarro, charuto,
cachimbo, narguilé, cigarro de palha, dispositivos eletrônicos para fumar, etc]
contém mais de 4,5 mil substâncias tóxicas. Destas, 90 são comprovadamente
cancerígenas. “Além de estar associado ao câncer de pulmão, ele pode aumentar as chances de o fumante desenvolver
ainda câncer de bexiga, esôfago e tumores de cabeça/pescoço, que envolvem
laringe, orofaringe e cavidade oral. Isso sem falar de Acidente Vascular
Cerebral, diabetes, hipertensão, impotência sexual e doenças respiratórias como
bronquite, asma e pneumonia”, completa.
Ainda segundo Ferraz, neste momento de pandemia, a associação cigarro X coronavírus é
extremamente perigosa. Para comprovar, ela cita um estudo da Sociedade
Paulista de Pneumologia e Tisiologia que, segundo o qual, fumantes têm 45% mais
chances de desenvolver quadros graves Covid-19, caso
sejam contaminadas pelo vírus respiratório. “Isso acontece porque os fumantes
apresentam aumento expressivo da ECA2, enzima bastante presente nos pulmões,
que permite ao coronavírus se conectar para infectar as células”, explica
Daiana.
Tratamento do tabagismo
Em Belo Horizonte, o Programa de
Controle do Tabagismo da Secretaria Municipal de Saúde está presente nos 152
Centros de Saúde da cidade. O tratamento começa com palestra sobre o programa,
e segue com avaliação clínica, sessões de terapia individuais ou em grupo e
oferta de medicamentos, caso seja necessário.
Para garantir assistência ao usuário, neste
momento de pandemia, o tratamento tem ocorrido de maneira individual e com
encontros de aconselhamento online. Os interessados devem procurar o centro de
saúde próximo à residência para mais informações. “Parar de fumar sempre vale a pena em qualquer momento da vida,
mesmo que o fumante já esteja com alguma doença causada pelo cigarro. Segundo
estudos do Instituto Nacional do Câncer (INCA), após 20 minutos sem uma
tragada, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal. Depois de duas
horas, não há mais nicotina circulando no sangue. Passadas
oito horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza e no prazo de 12 horas a
um dia, os pulmões já funcionam melhor. Já após três
semanas, a respiração se torna mais fácil e a circulação melhora”,
enumera a oncologista da Cetus.
Daiana ainda acrescenta que após um ano livre do
vício, o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido à metade e depois
de uma década sem fumar, a chance de a pessoa
sofrer infarto será igual ao daquelas que nunca fumaram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário