Não passa um dia sem que algum leitor,
estarrecido ante o desastre político em curso no Brasil, me pergunte: "E
aí, qual é a solução?".
O Brasil que em 2014,
graças à vitalidade das redes sociais, começou a acordar para o flagelo
esquerdista que o acometera durante três décadas ao longo das quais comprara
gato por lebre, foi mudando de lado. Descrevo o processo como uma
"iluminação" que acendeu luzes para a destruição de seus valores,
para o assalto ao futuro do país, para a ruptura sistemática da ordem. Era imensa
a lista dos malefícios de natureza social e moral em curso, com outro tanto na
geração de riqueza e postos de trabalho. O braço festeiro gastador do Estado
conseguiu transformar em voo de galinha as extraordinárias oportunidades
proporcionadas pela primeira década deste século. Consolidara-se no país um
capitalismo de compadrio, padrinho de corruptos e corruptores.
Bolsonaro elegeu-se
portando bandeiras com forte ressonância popular. Era combatido pelos que
haviam construído passo a passo a realidade social, política e econômica a que
o país chegou no ano de 2018. Seus adversários falavam pelos cotovelos na mídia
militante, no ativismo judicial dos ministros do STF, nos partidos de esquerda
e no centrão desalojado de seu poder. Em consonância com seu modo combativo de
ser, o presidente passou a arrostá-los ostensivamente e varou o ano de 2019
perdendo quase todas, contra quase todos. Ele só tinha seus eleitores em seu
favor, representados, de forma visível, por aqueles que, nas redes sociais e
aos milhões, saíam às ruas para expressar seu apoio. E, ainda assim, nesse
tumulto, o governo, como tal, ia bem.
No carnaval, o coronavírus desembarcou no
país e o governo ganhou mais um adversário, invisível, a causar imenso dano
social e econômico. Não bastante isso, entra no mês de maio do segundo ano de
seu mandato num confronto de versões, em palco policial, contra seu ex-ministro
da Justiça e Segurança Pública.
Como conservador, tenho apenas uma resposta à
pergunta feita no primeiro parágrafo deste artigo. As instituições brasileiras,
um susto permanente, são de péssima alfaiataria e vestem um corpo social
desconjuntado. O sistema não é funcional, como estamos vendo pela enésima vez.
Tem sido dito em relação ao momento atual, "as instituições estão funcionando".
Há total razão em quem o afirma. Os males que estamos enfrentando são resultado
desse funcionamento. Esse é um dos estragos que elas fazem ao funcionar! Há
piores. Ou obrigam o governo a comprar maioria parlamentar ou a maioria do
Congresso e o STF protagonizam a governança do país. Todas as deposições de
presidentes - Getúlio, Jango, Collor e Dilma - aconteceram por falta de apoio
parlamentar.
Espero que o circo não tenha aberto a jaula.
Que a investigação iniciada sábado siga seu curso e que nela a prudência separe
o joio do trigo, o grave do fútil, e o bem do Brasil se sobreponha aos
interesses individuais em jogo.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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