A questão é: qual é o seu sentimento? Vamos sair
desta crise melhores ou piores do que estávamos? Algumas acreditam que a
solidariedade, praticada agora por muitos, permanecerá e nos ajudará a voltar
melhores do éramos e outros acreditam que ficaremos mais egoístas e que teremos
mais desigualdade e violência.
Não vale ser pessimista. Pois não acreditar que
vamos superar tudo isso é o primeiro passo para cruzar os braços e não
lutar. Negar que não haverá um amanhã, neste momento, chega a ser um
sentimento egoísta. As pessoas positivas, que acreditam, terão mais trabalho e
lutarão sozinhas. E no final, se der certo, será bom para todos. Mesmo para
aqueles que só contribuíram com a esperança.
Para ser mais justo com eventuais críticas ou
autocríticas, vou focar esta matéria no mundo corporativo, especificamente no
mercado de live marketing, no qual trabalho e sou empresário; portanto,
vou falar a partir do meu local de fala, das dores legítimas de quem tem
passado por toda esta crise, vendo a minha, assim como tantas outras agências,
com seus escritórios fechados, porém trabalhando como nunca, renegociando
eventos cancelados ou adiados, fazendo contas para sobreviver e tentando
reinventar o negócio para continuar existindo nos tempos pós-covid-19.
É claro que podemos criar este futuro a nosso favor
e garantir que o retorno seja melhor para todos. Mas para que isto aconteça
mais rápido temos que participar ativamente do processo de transformação.
Precisamos ter consciência de nosso poder de influência e agir a partir da
nossa baia no escritório, da nossa família, do nosso grupo de amigos, ou seja,
das pessoas que nos cercam.
Só ações afirmativas transformam. Por isso também é
importante ter consciência de como é a cara do Brasil de verdade que precisamos
incluir na economia. E, a partir do nosso mundo corporativo, abrir espaço para
as diferenças, criando ambientes seguros para que elas possam se manifestar,
influenciar a estratégia do negócio e nos proteger com suas diferentes
percepções da realidade.
Não vamos conseguir sair destas melhores, mais
humanos e justos mantendo nossa fácil e passiva condição de simpáticos à causa.
Para garantirmos a transformação dos ambientes de trabalho em locais mais
igualitários, mais justos e com menos assédio, precisamos nos transformar em
agentes de mudança e termos a coragem de nos manifestar sempre que alguma coisa
estiver no caminho contrário aos princípios de valor que acreditamos.
Esta é a nossa oportunidade de virar a chave, de
parar de funcionar a partir do paradigma da escassez e passar a enxergar o
mundo a partir do paradigma da abundância. Precisamos acreditar que tem para
todo mundo, pois é o caminho mais rápido para reconstruir um mercado mais
justo, produtivo e forte. Somos mais mulheres que homens, mais negros que
brancos, quase um quarto de nós tem alguma deficiência física. Mas
definitivamente não nos parece um problema que essa imensa maioria não esteja
representada no mundo corporativo.
Como empresário, e mesmo com todo acesso à
informação que tenho, fico surpreso e indignado em saber que quase a metade dos
brasileiros ativos está excluída do mercado formal de trabalho. Convivemos
diariamente com quase 50 milhões de brasileiros (46 milhões já cadastrados)
praticamente invisíveis aos nossos olhos. E, se não conseguimos enxergar, não
nos importamos. Se não nos importamos, não nos esforçaremos para incluir.
Nós fomos educados a pensar o mundo pela escassez.
Se nos organizarmos para incluir essas 50 milhões
de pessoas na economia, teremos mais consumidores para reerguer o mercado e
mais cidadãos contribuindo socialmente. Isso é abundância.
Vamos colocar de forma mais simples. As grandes
metrópoles sofrem diariamente com o trânsito, que chega a tirar das pessoas de
2 a 4 horas produtivas por dia. Alargamos avenidas, criamos novos viadutos,
implantamos rodízio de veículos e nada resolve o problema dos engarrafamentos.
Isso é pensamento baseada na escassez. A crise que estamos passando já
nos mostrou que boa parte dos trabalhadores, principalmente aqueles que lotam
as avenidas com seus carros particulares, consegue trabalhar com eficiência em
casa, ou de alguma outra forma remota.
Então por que devemos trabalhar todos nos mesmos
dias da semana, ou entrar e sair nas mesmas horas do dia? Isso é escassez.
Temos 5 dias por semana e 24 horas por dia para
otimizar os recursos de infraestrutura urbana de transporte. Isso é pensar com
abundância. A questão aqui não é dobrar o investimento escasso em mais
estradas e viadutos – nem espaço físico mais temos para isso. Precisamos, a
partir das necessidades das pessoas, reorganizar o uso do espaço coletivo das
ruas e avenidas da cidade.
Sob pressão, fomos educados a achar que não terá
para todo mundo, então, diante de crises regionais como a greve dos
caminhoneiros, ou globais como a covid-19, corremos para comprar mais do que
precisamos, estocando sem necessidade mercadorias tão necessárias a outras
pessoas. Ao tirar os produtos de circulação, elevamos os preços e excluímos
ainda mais as pessoas, principalmente as mais carentes e necessitadas. E assim,
seguimos sem pensar, girando a roda da escassez, sem perceber que seremos nós
os próximos a serem excluídos.
No mundo corporativo, no mercado de live
marketing, por exemplo, é comum ver grandes empresas globais
obrigarem suas agências a faturarem seus serviços em 90 ou 120 dias. Ou seja, o
elo mais frágil do negócio, para ter direito ao trabalho, precisa ter alto
capital e financiar toda a operação da grande empresa. Como é possível um
negócio ser bom para ambos os lados, quando um dos lados tem que pagar antes e
só receber 3 ou 4 meses depois? Isso é escassez.
Portanto, a questão aqui é: como queremos sair
desta crise? Entendo que a resposta é: melhores. Então, a partir de todo o
aprendizado que tivemos, do que gostamos ou não de ver, temos que reorganizar
nossa atitude, para construir o mundo melhor que queremos. E o caminho para
isso passa pelas necessidades das pessoas. Se colocarmos o ser humano no
centro, no foco da criação das soluções, certamente teremos mais chances.
Por isso é tão importante desenvolvermos primeiro
uma cultura de diversidade e inclusão no mundo corporativo. Todos os colaboradores
de uma empresa precisam entender que, se estiverem conectados à realidade e
protegidos por diferentes pontos de vista, eliminarão os pontos cegos e tomarão
as decisões corretas para a rápida recuperação dos negócios.
O ser humano é plural, e não singular. E assim
somos todos: colaboradores, clientes e parceiros. Por isso não cometa o erro de
pensar em um futuro melhor, sem estar em sintonia com os principais
interessados: as pessoas. E é por isso que cada vez mais temos que abrir
espaços e abraçar as diferenças. E se alguém ainda tiver dúvida e insistir
nesta recorrente pergunta, de por que temos tanto que falar em Diversidade e
Inclusão, é só responder: porque isso é a vida real, simples assim.
Ronaldo Ferreira Júnior - conselheiro da Ampro
(Associação das Agências de Live Marketing) e sócio-fundador da um.a
#diversidadeCriativa, empresa especializada em eventos, campanhas de incentivo
e trade - uma@nbpress.com.
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