Pode parecer
precipitado falar de um cenário futuro para a educação neste momento em que a
crise no segmento pode estar atingindo seu ponto mais crítico. Segundo dados da
UNESCO, até o dia 26/04/2020 mais de 90% dos alunos no mundo haviam sido
impactados pelo fechamento das escolas, algo nunca antes imaginado.
Vivenciamos, em um curtíssimo espaço de tempo, inúmeras adaptações nos
processos educacionais e administrativos e sabemos que há ainda muitas outras
por vir. Esse movimento, contudo, não deve ser interpretado como um ajuste
emergencial. Temos diante de nós a oportunidade de aproveitar todas as mudanças
que já estão em curso e criar a nova educação que queremos.
E por que essas
mudanças irão trazer impactos duradouros? Em primeiro lugar, a vacina para a
COVID-19 não estará disponível nos próximos meses e, em nosso primeiro
"novo normal" haverá um espaço de convivência mais limitado,
impactando diretamente o ambiente escolar. As ferramentas digitais, até agora
colocadas como elementos de apoio ao processo educacional, serão aliadas na
construção dessa nova rotina e permitirão que os estudantes retomem suas
atividades gradualmente e em segurança.
Além disso, a cada
extensão das medidas de isolamento há um aumento da carga horária a ser
reposta, uma vez que estão mantidas as 800 horas para o ano de 2020. Soluções
relacionadas apenas ao ajuste do calendário escolar certamente não serão
suficientes para recompor essa perda. O plano de retomada passará,
necessariamente, pela combinação das aulas presenciais com outras modalidades
de ensino e demandarão novas atitudes, dos professores, dos alunos e dos pais.
Essa mesma pressão de
mudança será observada no mercado de trabalho. A crise sanitária que vivemos
remodelará o modo como atuamos e demandará novos perfis de trabalhadores.
Aqueles que estiverem mais preparados para atuar no mundo VUCA (volátil,
incerto, complexo e ambíguo) serão mais bem-sucedidos que os demais. As
instituições de ensino precisarão responder a essa demanda muito rapidamente,
sob pena de se tornarem irrelevantes em um curto espaço de tempo.
Por último destacamos
a profusão dos cursos via EaD para os mais variados assuntos. Certamente muitas
pessoas estão percebendo, durante o período de isolamento, que não precisam de
uma sala de aula para avançar em sua formação.
Em suma, estruturas
que sustentavam o sistema escolar foram abaladas e as mudanças que já estão em
curso remodelarão a forma como os diferentes stakeholders (professores,
diretores, alunos, pais) percebem valor e se relacionam com o mesmo. Essa
experiência e suas conclusões serão a base sob a qual será construída a relação
da sociedade com o segmento escolar nos próximos anos.
Eis então que chegamos
à proposta desse artigo: a escola de 2025. Certamente ela utiliza novos modelos
pedagógicos e não centra todas as atividades de aprendizado unicamente no
professor. O corpo docente tem uma preparação diferenciada e entende seu papel
de mediador. Ele lança mão de recursos variados de aprendizado, domina
diferentes ferramentas tecnológicas e reconhece a importância da formação
continuada em um ambiente de constante transformação. As salas de aula são
laboratórios de aprendizagem onde os alunos "experimentam o
conteúdo", cada um conduzindo o seu aprendizado de acordo com os seus
interesses de modo ativo. Carteiras enfileiradas onde os alunos assistem
passivos à aula, sem poder falar ou se movimentar pelo espaço, já não faz parte
desse contexto.
Os processos
administrativos são mais enxutos e estão totalmente inseridos no contexto
digital. O home office é parte da rotina da equipe não por imposição, mas por
se tornar uma opção viável e econômica. Os conteúdos ministrados privilegiam os
conhecimentos tradicionais, matemática, português, história, porém em uma
abordagem interdisciplinar. As aulas de 50 em 50 minutos, em que as pessoas não
enxergam que há muita arte na matemática, já foram abolidas. Também há um
espaço relevante na grade curricular para o desenvolvimento das competências do
século XXI e há consenso da importância desses temas entre a comunidade
escolar. A família tem participação ativa na educação dos filhos, entende o
trabalho que está sendo desenvolvido na escola e consegue dar continuidade à
formação integral do indivíduo em casa. Cada aluno e cada família recebem uma
atenção personalizada, é possível inclusive que o aluno saia de férias da
escola em qualquer período do ano sem prejuízo na aprendizagem e garantindo o
cumprimento do currículo.
Já imaginou tudo
isso?! Como todo exercício de futurismo, há muitas hipóteses nos parágrafos
anteriores que podem se mostrar verdadeiras, outras serão refutadas. Parte será
amplamente implementada e outra parte, será conduzida em velocidade mais lenta
ou não será adotada por todas as instituições de ensino, em razão dos
obstáculos identificados. O que haverá em comum entre elas? Todas deverão ser
discutidas a partir de hoje, pois, em diferentes medidas, nada será como antes!
A crise já evidenciou a importância dos valores, atitudes e habilidades que
promovem o respeito mútuo e a coexistência pacífica. Mostrou também, o valor da
educação que contribui para a resolução dos desafios globais já existentes e
emergentes que ameaçam o planeta e provou que é impossível construir soluções
consistentes fora de um processo de colaboração.
Apesar de todos os
desafios impostos pelo isolamento social e dos problemas sociais e econômicos
que estamos enfrentando, nós temos a oportunidade de aprender com tudo isso e
de criar o nosso futuro, a partir desse aprendizado, garantindo um mundo melhor
para todos. Qual é a escola que vamos criar para 2025?
Ariane Melo -
consultora sênior na Falconi. Atuou no segmento de educação na iniciativa
pública e privada, com foco em reestruturação dos processos e melhoria dos
resultados educacionais.
Izabela Murici - Sócia
da Falconi . Graduada em Administração de Empresas pela UFMG,
pós-graduada em Finanças pela Fundação Dom Cabral e em Marketing pela UFMG,
Izabela ingressou na FALCONI em 2000 como estagiária na Gerência de Recursos
Humanos. Consultora desde 2002, atua como líder de projetos nos setores público
e privado. É também co-autora dos livros "Gestão para Resultados na
Educação", "Gestão Integrada da Escola" e "Como Melhorar As
Competências da Equipe Escolar Implementando a Matriz de Capacitação".
Falconi
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