O termo “educação” está amplamente relacionado à
família, ao estado e à sociedade, cada um com diferentes funções e objetivos:
educar para a vida, para as necessidades do mercado ou para a criação de uma
consciência social, científica, cultural e histórica. Contudo, o papel da
escola e o dos pais ou responsáveis parecem estar cada vez menos definidos.
É dentro dos colégios que as crianças têm um espaço
de desenvolvimento e aprendizagem, conforme um currículo pré-estabelecido, mas
moldável, em que o conhecimento produzido historicamente pela humanidade é
passado de professor para aluno, em forma de ciência. As instituições de ensino
devem priorizar, ainda, a socialização e a prática de atividades cognitivas
para o desenvolvimento pessoal da criança.
Já a família sempre foi encarada como instituição
base. É o ambiente inicial de socialização, transmissão de valores,
significados e crenças. Um conjunto de vínculos importante na construção
individual e social do ser humano. Os pais ou responsáveis devem prover mais do
que o sustento material e a proteção do bem-estar. Eles são peças fundamentais
na promoção do afeto, na formação do caráter e da personalidade da criança,
compartilhando aspectos morais para a construção de um cidadão. Contudo, as
mudanças percebidas, principalmente na última década, mostram casos de
terceirização da responsabilidade - quando a família entrega todo o papel da
educação para a escola.
Falta de tempo, excesso de permissividade ou
simples ausência de interesse. Esses são alguns dos fatores que fazem com que
pais e responsáveis sejam passivos no processo educacional. As escolas já
perceberam a tendência e vêm trabalhando com os professores o olhar voltado às
necessidades trazidas pelos alunos, que vão além da academia. A transferência
de responsabilidade também se dá pela falta de habilidade para lidar com as
emoções das crianças. Às vezes, os pais não sabem como cumpir essa importante
tarefa e a entregam nas mãos do professor. Contudo, as escolas não podem
assumir este papel, da mesma forma que não devem se ausentar dessa importante
tarefa. A solução para esse dilema é que a escola trabalhe como parceira, para
manter um equilíbrio e ajudar as famílias a encarar a responsabilidade na
formação da criança.
Autor do livro “A criança terceirizada”, o pediatra
José Martins Filho afirma que a ausência dos pais abre espaço para que
algumas crianças sejam educadas pela mídia televisiva e pela internet, o que
não é recomendado. Entre as consequências apontadas pelo autor, a curto e longo
prazos estão crianças sem vínculo parental e com baixa autoestima. A criança
terceirizada também costuma ter a agenda cheia, viver entre escola, creche ou
cursos, sem tempo livre para brincar, o que anula a fantasia da infância.
Outras consequências apontadas pelo pediatra são a falta de limites, problemas
de comportamento e o desenvolvimento de crianças mimadas, que não sabem ouvir
um “não” e querem que todas as suas vontades sejam satisfeitas
imediatamente.
A definição do papel dos pais e da escola é o passo
inicial para definir o que cada uma das esferas têm a trazer para a criança.
Educação pedagógica e familiar são complementares e mescladas e devem ser
abertas para sugestões, mas mantendo sua autonomia. É por meio do apoio, da
responsabilidade e da experiência que se assegura uma formação com habilidades
sociais, comportamentais e intelectuais bem desenvolvidas, para o crescimento
de um cidadão.
Fabiula Gonçalves Galina - gestora do Ensino Fundamental II do Colégio Positivo Júnior.
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