A
primeira coisa que costumo dizer para as pacientes que pensam em aumentar a
família é que temos que pensar nessa nova gestação como um todo, considerar
todos os critérios que envolvem esse "intervalo ideal" entre o
primeiro filho e o nascimento de uma nova vida.
Particularmente,
entendo que para definir este "espaço de tempo" é preciso ponderar
vários aspectos relacionados às condições familiares, profissionais,
psicológicas, sócio- econômicas e até a existência de doenças crônicas que
sejam fatores de risco para a mãe e para o bebê (hipertensão, diabete,
moléstias autoimunes etc).
O
estado gravídico, apesar de ser um fenômeno fisiológico, promove uma verdadeira
revolução no organismo da mulher, alterações estas exigidas para oferecer o
"máximo " em benefício do crescimento e nutrição do feto. Para que
isto seja alcançado, há uma sobrecarga em todos os sistemas da "máquina
humana" feminina. Os sistemas cardio-circulatório, respiratório,
hematológico, músculo-esquelético, neuro-endócrino trabalham a mais para garantir as duas vidas (mãe e bebê) e, por
isso, as mulheres devem checar se a saúde está em perfeita harmonia antes de
engravidar novamente.
Sem
dúvida, os aspectos psicológicos que envolvem este estado tão especial precisam
ser levados em conta no planejamento familiar. Será que agora é o melhor momento para gestar uma nova
vida?
Eu
estou bem comigo mesma para engravidar?
O
feto depende inteiramente da energia vital, física e emocional da figura
materna até chegar a sua nova realidade na terra.
Uma
vez chegado neste "nosso mundo de fora", mais demandas surgem na
rotina da nova mãe em consequência da mudança radical em suas rotinas:
adaptação à amamentação, surgimento de moléstias infantis, fadiga
pelas noites insones, descuido alimentar materno, disputa de atenção pelo
irmão(ã) mais velho(a) que dão razão para o mote popular "Ser
mãe é padecer no paraíso". Nesta fase do pós-parto, sobretudo nas
primeiras semanas, podemos dizer que a mãe está vivendo uma "crise
existencial" e em busca da adaptação a sua nova tarefa de criar.
É
desgastante para a mulher lidar com inseguranças, fantasias sobre "dar
conta do recado", sensação de solidão e desconfortos físicos. Dependendo
dos casos, essas situações podem levar a fadiga e até mesmo a depressão. A fase
de adaptações vai requerer um intervalo entre 6 a 9 meses para a recuperação
física, da anatomia genital e da fisiologia como um todo, a readaptação
emocional, sexual, conjugal, profissional e social.
Baseados
nestas premissas, embora anatomicamente a recuperação já esteja refeita,
recomendamos que haja um intervalo mínimo de 18 meses entre um parto e o
início de uma nova gestação. Este é também um período que dá condições para o
aleitamento materno ser mais prolongado, fator tão importante para a saúde
física e emocional do bebê. Tenho por hábito dizer que "peito de mãe não é
mamadeira" e nada substitui o aconchego do colo da mãe. Aleitamento
materno salva vidas!
Pesquisas
realizadas nos Estados Unidos com grande número de nascimentos, demonstram que
naquele país as mulheres têm um intervalo em torno de 2 anos e meio entre as
gestações. Não podemos esquecer que é nesta fase que o bebê está estruturando
sua personalidade como indivíduo e uma nova gravidez neste momento pode
dispersar o foco materno tão necessário para "chocar" adequadamente a
sua cria.
Por
outro lado, aguardar intervalos muito longos não são recomendáveis diante da
necessidade de uma nova adaptação de todos os aspectos acima mencionados. Além
disso, a idade muito distante entre os filhos gera demandas tão discrepantes
que a mãe terá bastante trabalho para equilibrar as atenções e
expectativas.
Cláudio
Basbaum - médico com especialização na
Universidade de Paris-França. Professor-Doutor em Ginecologia e Obstetrícia,
pioneiro da laparoscopia no Brasil (1967), Introdutor do Parto Leboyer
("Nascimento sem violência") e da técnica "Shantala"
(Massagem para bebês) no Brasil e defensor de técnicas menos agressivas à
mulher e ao bebê. www.claudiobasbaum.med.br/
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