A jornalista arregala os olhos, tranca
os lábios e sacode a cabeça em sinal negativo. “Diga, moça, você verá que não
dói”, insisto eu. Mas ela persiste na recusa. Eu volto: “Ao menos diga que o PT
e o Partido Comunista Cubano são responsáveis por isso que você está
descrevendo”. Nada. Palavra alguma, também, sobre comunismo, sobre Lula, sobre
Fidel. Na voz daqueles analistas, a ditadura venezuelana parecia um desses
vulcões simpáticos que posam para fotografia de turistas e, subitamente,
começam a cuspir fogo vindo do nada.
Aliás, durante todo o programa entretive
esse diálogo mental com a apresentadora enquanto ela e seus colegas se
revezaram em merecidas e pesadas críticas à ditadura venezuelana, hoje com
Maduro, ontem com Chávez, mas ignorando as causas do que está em curso naquele
país.
Aprendamos,
pois, com Aristóteles e esclareçamos o que o mutismo dos analistas escondeu. O
velho grego ensina haver quatro tipos de causas para que as coisas existam.
Elas são materiais, formais, eficientes e finais. Assim, a causa material do que acontece na Venezuela, sua substância,
chama-se comunismo. A causa formal, que determina sua essência,
talvez por saltar aos olhos, era o único tópico reconhecido pelos analistas:
ditadura com apoio militar. As causas
eficientes, aquelas que explicam como a coisa tomou a forma atual, eram as
que a moça, em meu diálogo mental, se recusava a admitir: o Foro de São Paulo,
o regime e o governo cubano, o apoio do petismo quando governou o Brasil, e
mais Lula, Fidel e Raúl Castro. E a causa
final, razão de existir, é a manutenção de um grupo político no poder por
tempo indeterminado, evoluindo na direção do partido único, que submeta a si
todas as instituições do país.
Longe
de mim a ideia de ensinar a moça a ajudar na sua missa diária. Quem realmente
dirige o rito sabe o que está fazendo, tem seus motivos e quaisquer outros
ficam fora de cogitação.
Minha
intenção, por outro lado, é muito prática. Ao mostrar o que a moça estava
omitindo, assim como o bebê que tranca os lábios ante uma colher de sopa de
potinho, estou aproveitando o noticiário destes dias para revelar as terríveis
consequências das ações dos agentes malignos que se congregaram no Foro de São
Paulo no longínquo ano de 1980.
O
Brasil petista, o protagonismo de Lula nas eleições venezuelanas, os
“financiamentos” a fundo perdido proporcionados pelos governos brasileiros e os
cambalachos a eles relacionados foram causa eficiente da tragédia
venezuelana. Esconder estas realidades
da opinião pública, calar a respeito delas e jamais mencionar o Foro de São
Paulo, é também ocultar parte das causas da crise em que nosso próprio país foi
jogado.
Percival Puggina - membro da
Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular
do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo;
Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do
grupo Pensar
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