A maioria
das mulheres considera a lombalgia como um “inevitável desconforto normal”
durante a gravidez. Apenas 50% das gestantes que sofrem com dores nas costas
procuram o aconselhamento de um profissional de saúde
Dor nas
costas será uma queixa de oito em cada 10 adultos em algum momento de suas
vidas. Mas para as mulheres que estão grávidas, estas palavras têm uma
ressonância especial. Mais de dois terços das mulheres gestantes sentirão dor
lombar e pélvica, durante a gravidez, geralmente no segundo e no terceiro
trimestres da gestação. As informações são de um estudo,
publicado no Current Reviews in
Musculoskeletal Medicine.
Para
muitas, a dor é tão forte que chega a interferir no sono, no trabalho e em
outras atividades da gestante. Em um estudo de 2004, um terço
das mulheres relatou que tiveram que parar pelo menos uma dessas atividades
devido às fortes dores nas costas.
Um dado interessante sobre este tema, segundo o estudo Pregnancy-related
low back pain, é que a maioria das mulheres considera a lombalgia como
um “inevitável desconforto normal” durante a gravidez. Apenas 50% das gestantes
que sofrem com dores nas costas procuram o aconselhamento de um profissional de
saúde e deste grupo, 70% delas vão receber algum tipo de indicação terapêutica.
Levando em
consideração a individualidade de cada mulher e de cada gravidez, a
identificação e o tratamento precoce do problema levará ao melhor resultado
possível. O tratamento conservador é o padrão ouro, incluindo fisioterapia,
cintos de estabilização, a estimulação do nervo, o tratamento farmacológico,
acupuntura, massagem, relaxamento e yoga. Em geral, a gravidez com dor lombar
relacionada tem um bom prognóstico, desde que o reconhecimento precoce e o
tratamento sejam feitos.
Há muito
debate e muitos trabalhos publicados sobre os fatores de risco para o
aparecimento de dor lombar durante a gestação. A história de trauma pélvico,
lombalgia crônica e dor lombar durante a gravidez anterior são os riscos mais
comuns e amplamente aceitos. 85% das mulheres que tiveram dor nas costas em uma
gravidez anterior desenvolverão dor nas costas em uma gravidez subsequente. O
número de gestações anteriores também parece aumentar o risco. Não é possível,
no entanto, prever quem vai sofrer de lombalgia durante a gravidez. Lombalgia
durante a menstruação é um fator de risco adicional para dor nas costas durante
a gravidez.
“As queixas
sobre dores na coluna durante a gravidez são justificadas pelo peso extra que a
gestante carrega. Algumas chegam a engordar até 20 quilos por gestação, quando
o recomendável é algo em torno de 9-12 quilos. Isso muda a forma como a mulher
se levanta e caminha, exercendo uma forte pressão sobre sua coluna, que
adicionada às alterações hormonais que fazem as articulações pélvicas ficarem
vacilantes, resulta em dor nas costas”, explica o neurocirurgião Cezar Augusto
Oliveira (CRM-SP 123.161).
As pílulas
anticoncepcionais e o intervalo de tempo desde a última gravidez não são
considerados como fatores de risco. A associação entre a idade da mulher ou
entre a alta carga de trabalho e dor lombar durante a gravidez também continua
não esclarecida.
A boa
notícia é que, para a maioria das mulheres, a dor nas costas desaparece após o
parto, geralmente dentro de seis meses. Mas a gestante não precisa esperar até
lá para obter algum alívio. Exercícios, acupuntura e outros medicamentos podem
aliviar as dores na coluna ou pelo menos torná-la mais suportável. E se a
mulher ainda está pensando em engravidar, pode tomar medidas para tentar evitar
a dor nas costas, começando a praticar exercícios físicos. Um estudo mostra que as
mulheres que têm uma vida sedentária, antes de engravidar, têm um risco
aumentado de dor nas costas.
“As
mulheres grávidas devem ser informadas sobre a importância de manter uma
postura adequada, ao fazer as atividades diárias, de modo que sua coluna não
fique sobrecarregada ou desalinhada. É também muito importante ensinar às
grávidas a levantar pesos sem forçar as costas, um hábito muito útil que
precisa ser observado durante toda a gestação. As mulheres devem ser
aconselhadas a usar cadeiras colchões e camas adequados. Elas também precisam
aprender técnicas para entrar e sair da cama, de modo que o corpo mantenha-se
em uma posição adequada e a coluna não sofra”, orienta o médico.
Como a
gravidez impacta a coluna?
O que torna
a gravidez um motivo para o aparecimento de dores nas costas? “Geralmente, são
múltiplos fatores: o novo peso que a mulher grávida carrega no ventre desloca o
centro de gravidade do seu corpo, o que exerce mais pressão sobre a parte
inferior da coluna. A fim de equilibrar a nova carga (o bebê), muitas mulheres
modificam sua postura, o que aumenta ainda mais a pressão na parte inferior das
costas. Para piorar as coisas, os músculos do estômago se estendem durante a
gravidez. Resultado: os músculos da região lombar precisam trabalhar mais e
mais para suportar o peso do tronco”, explica Cezar Augusto Oliveira, que
também é membro da Sociedade Brasileira de Coluna.
As
alterações hormonais também podem contribuir para a dor nas costas. Na
preparação para o parto, um hormônio chamado relaxina, produzido pelo corpo lúteo e pela placenta, produz um amolecimento das
articulações pélvicas e das suas cápsulas articulares, o que dá a flexibilidade
necessária para o parto, pois
provoca o remodelamento do tecido
conjuntivo, o que diminui a união dos ossos da pelve e alarga o canal de passagem do feto. O hormônio tem ação
importante no útero, por
distendê-lo à medida que o bebê cresce. “Normalmente, as articulações pélvicas
ajudam a sustentar a coluna vertebral. Quando ocorre esse relaxamento, durante
a gravidez, pode ocorrer também dor e inflamação e não apenas na pelve, mas
também em toda a parte inferior das costas”, explica o médico.
Outro
possível “culpado” é o útero em expansão. À medida que o útero cresce, ele
pressiona determinados vasos sanguíneos, especialmente quando a mulher está
deitada à noite. Esta pressão reduz o fluxo de sangue rico em oxigênio para a
pélvis e para parte inferior da coluna, causando dor.
Maneiras de
aliviar a dor
Independentemente
do que está causando a dor na coluna da gestante, existem medidas que podem ser
adotadas para obter alívio. “Vários estudos mostram que os melhores resultados
vêm de exercícios que fortalecem o abdômen e a parte inferior das costas, da
hidroginástica, da acupuntura e do uso de almofadas de apoio, durante a noite.
Mas essas não são as únicas opções terapêuticas. É muito importante destacar
que a gestante precisa avisar o médico que a acompanha se a dor nas costas
persistir. Dor nas costas que não vai embora pode ser um sinal de trabalho de
parto prematuro, uma infecção ou de outros problemas sérios”, recomenda Cezar
Oliveira.
Veja, a
seguir, as outras dicas para aliviar a dor na coluna das grávidas:
- O
uso de um banquinho ou de um suporte para as costas ao sentar evita a
fadiga muscular. Usar uma cadeira que suporte a coluna e/ou tentar colocar
um pequeno travesseiro atrás da parte inferior das costas para apoio extra
ajuda a aliviar a dor;
- A
educação da mulher grávida é muito importante, para que ela aprenda a
ficar de pé, andar ou curvar o corpo sem causar estresse extra sobre a
coluna ou fadiga muscular;
- As
mulheres também devem ser incentivadas a evitar andar prolongadamente ou
ficar em pé por muito tempo;
- Na
linha de um programa de tratamento individualizado, a massagem pode ser
útil, bem como a acupuntura. Alguns estudos defendem que a acupuntura pode
ser um complemento à gestão da lombalgia durante a gravidez;
- Aulas
de hidroginástica aliviam a pressão sobre a coluna. É importante também
incluir atividades físicas suaves como caminhar e nadar na rotina diária
da gestante;
- A
massagem nas costas também é um recurso que pode ajudar a aliviar a dor
nas costas durante a gravidez;
- Dormir
de lado, mantendo um ou ambos os joelhos dobrados também ajuda. A pesquisa
mostra que o uso de um travesseiro para apoiar o abdômen, especialmente
durante o último trimestre, pode fazer uma diferença real. Um travesseiro
em forma de cunha parece funcionar melhor. Além disso, é recomendado
colocar outro travesseiro entre os joelhos durante a noite;
- Usar
sapatos com saltos baixos e bom suporte também ajudam. Cintos de apoio à
maternidade podem aliviar a dor, tornando as articulações pélvicas mais
estáveis;
- Uma
almofada de aquecimento para aplicar calor na área dolorida também pode
ser indicada.
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