Enquanto
o Congresso impede o governo de salvar a economia e moralizar o país,
importantes veículos e multidão de jornalistas se dedicam, quase
esportivamente, a tarefa cotidiana de responsabilizar o Presidente. E dane-se o
Brasil e os brasileiros!
O Impeachment e a Lava Jato criaram
condições para que o rumo da história mudasse e para que o Brasil retornasse às
mãos de seu povo. Pessoalmente, saí de trás do teclado, do microfone e do
vídeo, onde atuava havia várias décadas, e fui para a rua. Para espanto geral
dos familiares e meu próprio escândalo, fiz passeata, carreata, subi em carro
de som, discursei em todas as manifestações havidas em Porto Alegre. Jamais
fizera nada assim, nem mesmo quando fui candidato. Não era para mim, mas pelo
Brasil e sua gente que precisava ser libertada e ter sua dignidade restaurada.
Centenas de vezes, ao longo das últimas
décadas, com total senso de pregar no deserto, assim como denunciava os descaminhos
por onde a esquerda conduzia os povos, Brasil aí incluído, cuidei de denunciar,
também, o absurdo de um modelo institucional em que o governo, a administração
e órgãos do próprio Estado são moeda de troca para compor maiorias
parlamentares negocistas e custear suas negociatas. Questões institucionais,
contudo, nunca são levadas a sério no Brasil!
Nas eleições de 2018, o Brasil mudou de
mãos. O eleitorado brasileiro promoveu uma faxina no Congresso Nacional. A
vitória de Bolsonaro incomodou a esquerda no Brasil e no mundo, desencadeando
ódios cósmicos que estão em curso.
No entanto, para tudo deve haver
limites. E o que está acontecendo os excede totalmente. O irracional modelo
institucional brasileiro, ficha irreparavelmente suja, que nunca produziu bons
resultados levou apenas quatro meses para recompor um mal-intencionado Centrão
que quer governar o governo. Um Centrão que quer tirar o COAF (órgão criado
para combater crimes financeiros, lavagem de dinheiro e financiamento do
terrorismo) do Ministério da Justiça e restitui-lo ao Ministério da Economia
porque enquanto ali esteve hospedado a bandalheira correu solta.
Em nossa longa história, governos
criavam ministérios e espargiam recursos orçamentários para contentar partidos
que, de olho no butim, cresciam como moscas no bufê do poder. Bolsonaro reduziu
o governo a 22 pastas, não fez negócios com elas e não cessou de ser criticado
por isso. Agora, o Centrão quer recriar uma excrescência não federativa, o
Ministério das Cidades, que foi verdadeiro escritório de corretagem dos
negócios eleitorais dos piores congressistas. De contrapeso ainda exige a
recriação do Ministério da Integração Nacional. No primeiro, os parlamentares
fazem acordos com os prefeitos; no segundo, negociam com os governadores. E
todo jornalista de Brasília sabe disso!
Eu
nunca vi o Congresso Nacional determinar ao governo que, contra a vontade do
Presidente da República, crie ministérios para deleite de seus membros!
Diante desse quadro sinistro, que ameaça
o futuro da reforma da Previdência, que se contrapõe ao combate à corrupção,
que quer restabelecer as sinecuras sindicais e reintroduzir a contribuição
obrigatória, que a tudo quer adiar, obstruir e impedir, parcela significativa
da imprensa se dedica a criticar o Presidente. A ironia da coluna de amanhã é
mais importante que o futuro do Brasil e de seus desempregados. Imaginam,
talvez, ser maiores do que o buraco que, por exclusiva responsabilidade do
Congresso Nacional, se descortina, hoje, para o futuro do país. Talvez se
creiam, para sempre, na mesa das lagostas e dos vinhos finos.
O Brasil está em cabo de guerra.
Numeroso grupo de congressistas o quer tomar de nossas mãos. Querem governar o
governo. Não esmoreça, não abandone o posto, não largue a corda.
Percival
Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e
escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de
jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a
tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo
Pensar+.
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