Por ser uma doença rara, muitos médicos não tem conhecimento suficiente
para detectá-la de forma precoce
Distúrbios do sono, dores nas articulações,
dormência e formigamento, dor de cabeça, hiperglicemia, elevação da pressão
arterial, distúrbios visuais, diminuição da libido, aumento da sudorese
noturna. Esses sinais e sintomas fazem parte do diagnóstico de diversas
doenças, mas dificilmente são relacionados ao estágio inicial da chamada
Acromegalia – uma doença rara, causada quase sempre por um tumor benigno, que
se encontra dentro do crânio, na região da hipófise.
O tumor, que produz excesso de hormônio do
crescimento (GH), pode atingir todas as faixas etárias, mas a grande maioria
dos pacientes são adultos. No caso de crianças e adolescentes, a
produção muito aumentada do GH induz ao crescimento estatural exagerado
(gigantismo), o que facilita o diagnóstico. Porém, em adultos, os
sintomas da doença evoluem lentamente ao longo de vários anos, o que dificulta
e retarda a detecção. Não é incomum, por exemplo, que pacientes relatem
alterações clínicas e laboratoriais por mais de 10 anos sem que tenham sido
diagnosticados e tratados adequadamente até então.
Assim, quando a doença é detectada, o paciente já
está em estágio avançado e apresenta sinais que chamam ainda mais a atenção,
como alterações faciais (crescimento exagerado do queixo e protuberância na
testa, por exemplo), crescimento exagerado de mãos e pés, doenças do coração,
diabetes mellitus e hipertensão arterial mais resistentes ao tratamento.
“Outra causa do atraso no diagnóstico é o pouco
conhecimento de muitos médicos acerca das particularidades desta doença – isso
porque, por ser rara, nem todo profissional tem a oportunidade de atender esse
tipo de paciente durante a formação médica”, comenta o endocrinologista Dr.
João Carlos Ramos Dias, da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Sorocaba
– PUC/SP.
Um exemplo disso são dados obtidos por um estudo
realizado recentemente em Sorocaba, liderado pelo médico, com pacientes que
estavam sendo tratados no Ambulatório de Neuroendocrinologia do Conjunto
Hospitalar de Sorocaba (CHS), em que apenas 25 pessoas receberam o diagnóstico
de Acromegalia nos últimos anos, o que equivale a menos de 30% do número mínimo
de casos prováveis na região. A estimativa é que existam,
aproximadamente, de 89 a 156 casos em Sorocaba e região, que abrange uma
população de pouco mais de dois milhões de habitantes.
Tendo essa questão em vista, com o objetivo de
expandir o conhecimento médico e atualizar especialistas sobre os avanços na
área, acontece a cada dois anos o Simpósio Internacional de Neuroendocrinologia
(SINE), que teve sua 19º edição realizada na última semana, em São Paulo. O
encontro contou com a participação de palestrantes nacionais e internacionais e
foi presidido pelo endocrinologista Dr. Evandro Portes.
O médico conta que “esse evento é muito
importante para atualizar os médicos sobre os fatores que propiciam o
desenvolvimento das doenças das regiões hipotalâmica e hipofisária, sobre as
últimas novidades de métodos diagnósticos disponíveis, e principalmente para
discutir as melhores práticas de tratamento”.
E completa: “O SINE é, sem dúvida, o local onde
profissionais de diversas regiões do país, que têm interesse
nessa área, trocam experiências e mostram resultados de trabalhos realizados no
Brasil, e disponibilizados para a comunidade
cientifica internacional por meio de publicações em revistas cientificas de
grande impacto. Doenças como a Acromegalia são amplamente debatidas para que
não sejam ignoradas, pois a estimativa é que aproximadamente 15.000 brasileiros
apresentem este problema de saúde e a maioria ainda sequer tem o diagnóstico”.
A divulgação não só para médicos, mas também para a
população de uma maneira geral, pode contribuir para o diagnóstico mais precoce
da doença, melhorando o resultado terapêutico. “Quanto mais informações as
pessoas tiverem, mais atentas vão ficar aos sinais e sintomas da doença, e
quando os identificarem, poderão procurar um endocrinologista para confirmar ou
não a sua suspeita. O diagnóstico precoce faz toda diferença na vida do
paciente”, explica.
De acordo com a Dr. André
Nebel de Mello, gerente médico da Ipsen, “além
da avaliação clínica, os principais exames que são feitos para confirmar o
diagnóstico da Acromegalia são os de sangue, que verificam os
níveis de GH e IGF-I (fator
de crescimento semelhante à insulina do tipo I),
e o de imagem, que é a ressonância magnética da região do crânio, onde se
encontra o tumor responsável pela doença, na maioria dos casos”.
Tratamento
“A Acromegalia não tratada piora muito a
qualidade de vida do paciente e reduz a sua expectativa de vida. O que
mais limita a vida dos pacientes são as doenças osteoarticulares, e as
principais causas de morte são as complicações cardio e cerebrovasculares.
Entretanto, com os tratamentos disponibilizados atualmente, tanto cirúrgico
como medicamentoso, que agem diretamente sobre o tumor e sua secreção hormonal,
é cada vez mais possível melhorar e até normalizar a qualidade de vida dos
pacientes, assim como aumentar a sua expectativa de vida para o esperado na
população geral”, explica Dr. André.
A tratamento de escolha é o cirúrgico. No
início da doença, quando o tumor é pequeno, pode ser totalmente retirado por um
Neurocirurgião experiente nesse tipo de cirurgia, levando o paciente à cura sem
a necessidade de nenhum tratamento complementar. Já em estágios mais avançados,
após a cirurgia, ou mesmo antes dela, os medicamentos se fazem necessários. Os
análogos da somatostatina, como a lanreotida, são capazes de inibir a produção
excessiva de hormônios no organismo, aliviando os principais sintomas da
doença, promovendo seu controle clínico e laboratorial.
“O diagnóstico precoce e o tratamento
adequado aumentam muito as chances de controle da doença ou mesmo de sua cura.
Lembrando que é necessário o acompanhamento de especialistas nesta área para
atingir estes objetivos”, finaliza o médico.
Ipsen
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