Em 2004, circulou um polêmico relatório feito pelo
Fórum Econômico Mundial com a afirmação de que a estagnação da África foi a
maior tragédia econômica do século 20. O documento foi assinado por Elsa V.
Artadi, da Universidade Harvard, e Xavier Sala-i-Martin, de Columbia, e trazia
uma informação intrigante: em 1970, a África abrigava 10% dos pobres do mundo;
em 2000, essa taxa era de quase 50%. O crescimento econômico foi tão reduzido
que a maioria dos países ao sul do Saara estava em condições piores do que na
época em que eles se tornaram independentes.
O relatório atribuía o fracasso africano aos
seguintes fatores: conflitos militares; corrupção; desprezo pela lei; políticas
fiscais indisciplinadas; infraestrutura precária; e baixo investimento em
capital físico. E os autores declaravam: “Não deve haver dúvida de que o maior
desastre econômico do século 20 é a performance deprimente do crescimento no
continente africano”. O que isso tem a ver com o Brasil? Afora conflitos
militares, todos os demais fatores causantes do fracasso africano estão
presentes em nosso país.
Eis aí um cardápio de ingredientes que o Brasil
deve combater a todo custo, sob pena de não superar a pobreza e o atraso. O
Congresso Nacional, com 513 deputados e 81 senadores, deveria ser o foro
adequado para debates inteligentes e avançados sobre os problemas nacionais,
sobre o que está errado e quais reformas devem ser feitas para impedir que o
país caia na síndrome do fracasso africano. O diagnóstico feito pelo relatório
referido pode nos ensinar valiosas lições sobre o fracasso da África e quais os
caminhos para não incorrermos nos mesmos erros.
Infelizmente, o Congresso Nacional tornou-se um
valhacouto de mediocridades intelectuais e parlamentares desaparelhados para a
discussão inteligente dos grandes temas nacionais. Um homem sem cultura e de
parcos conhecimentos pouco tem a contribuir em uma discussão complexa na casa
de leis. Não conseguido a grandeza, o Congresso fica reduzido a questões
pequenas e comezinhas.
Desnecessário dizer que há políticos de alto nível,
capazes de um diálogo com sabedoria. Mas esses, convenhamos, são tão poucos que
eles somem no oceano de mediocridades. Não tem sido por outra razão que as
questões relevantes votadas no parlamento tenham origem no Poder Executivo. Se
um relatório de alto nível como esse do Fórum Econômico Mundial, rico em
informações sobre as desgraças de um continente inteiro, é ignorado pelas
elites políticas no poder mesmo sabendo que, em sua maioria, essas causas estão
presentes no Brasil, a conclusão é de que a maior parte dos parlamentares não
tem cultura e conhecimento para tratar de temas complexos.
O Brasil tem as principais condições para ser um país
rico e com bom padrão de vida. Mas a apatia e a inércia, inclusive de boa parte
dos intelectuais, diante das graves questões nacionais podem condenar o país a
permanecer na pobreza e no atraso. O detalhamento do que aconteceu com o
continente africano e a identificação das causas compõem um material de alta
utilidade para a compreensão dos problemas e das políticas fundamentais para a
superação do atraso e da pobreza. É lamentável que não utilizemos esse material
a nosso favor.
Durante décadas, vingaram teses afirmando que há
países ricos porque outros são pobres. Na América Latina, a cantilena entre os
políticos era a de que somos pobres porque os Estados Unidos são ricos.
Atualmente se sabe que isso é uma bobagem monumental, e gastamos tempo demais
culpando inimigos externos por nossos equívocos e nossa incapacidade de
entregar a nossos filhos um país sem pobreza e sem miséria.
José Pio Martins - economista, é reitor da Universidade Positivo.
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