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segunda-feira, 28 de maio de 2018

Vitamina D: reais benefícios e necessidades de prescrição


Reposição de vitamina D é cada vez mais comum em diversas especialidades médicas e gera controvérsia em debates médicos sobre a real necessidade de suplementação

Até o final de 2017, o Google registrou cerca de 13 mil artigos escritos nos últimos cinco anos sobre vitamina D em humanos. Deste material, 2.700 trazem como tema a suplementação da vitamina. O que antes era tema restrito na endocrinologia às doenças ósseas, como raquitismo, osteomalácia e osteoporose, hoje traz discussões de benefícios relacionados ao diabetes, doenças cardiovasculares, transcendendo para outras doenças e especialidades com esclerose múltipla, câncer, entre outros.
Para a endocrinologista Suzana Vieira, o rastreamento da deficiência de vitamina D é realizado de forma pouco criteriosa, pois em 2011 a Sociedade Americana de Endocrinologia definiu uma diretriz que recomenda que seja realizado apenas em pessoas com fatores de risco para tal deficiência, sendo a reposição recomendada para evitar quedas e fraturas ósseas. Isso porque a diretriz orienta que os níveis normais de vitamina D estariam iguais ou superiores a 30ng/mL; entre 20 e 30ng/mL caracterizariam insuficiência e nos casos de 250HD < 20ng/mL seriam compatíveis com a deficiência.
“Se olharmos esses números de referência, entre 20% a 100% dos idosos nos EUA, no Canadá e na Europa seriam deficientes em vitamina D, ou seja, a normalidade estatística seria a exceção, já que apenas 5% da população deveria estar fora da faixa de normalidade”, explica a endocrinologista. Isso reforça a ideia de que a suplementação esteja sendo feita de forma exagerada para diversos tipos de pessoas.
No Brasil, por exemplo, estudos do Departamento de Metabolismo Ósseo e Mineral da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) para o Programa Diretrizes da Associação Médica Brasileira (AMB) mostram que em São Paulo cerca de 85% dos idosos estão com valores inadequados de vitamina D, e trazem os mesmos índices inadequados também em mais de 90% dos idosos institucionalizados e em cerca de 50% da população de jovens saudáveis.
Aprofundando ainda mais sobre o benefício da suplementação em uma população específica, os estudos começaram a ser publicados avaliando a suplementação de vitamina D no risco de queda em idosos. “Um dos estudos traz como resultado os grupos que receberam doses maiores de vitamina D ou associada ao calcifediol e que conseguiram atingir os valores preconizados de 30 ng/mL, mas não melhoram significativamente a performance física e ainda foram associadas a risco de quedas maior quando comparadas ao grupo de dose baixa (respectivamente – 66,9%, 66,1% e 47,9%)”, explica a médica. 
Sendo assim, é preciso ampliar o olhar para além do exame complementar, considerando que o risco de fraturas em idosos, por exemplo, está ligado a diversos outros fatores como a idade avançada. “Dentro desses estudos, os especialistas destacam o exercício físico como a intervenção mais efetiva para prevenir danos relacionados às quedas, fraturas e lesões de quadril em idosos abaixo dos 80 anos. Outras intervenções associadas também foram úteis em reduzir incidentes, tais como como tratamento da visão e da osteosporose, avaliação do ambiente em que o paciente vive e suplementação de cálcio e vitamina D”, reforça Dra. Suzana Vieira. 
Essa avaliação do paciente e de suas reais necessidades é englobada pelo conceito de Slow Medicine, do qual a Dra. Suzana Vieira é colaboradora. “A decisão deve ser compartilhada. A chave da questão são os valores, as expectativas e as preferências do paciente. Nela estão envolvidos o ambiente de cuidados do paciente, sua família, vizinhos, amigos e outras fontes de suporte ou apoio”, premissas essas que vão de acordo aos princípios do movimento.
Recentemente, os valores de referência foram revistos, com diminuição do valor de normalidade a partir de 20ng/mL na população abaixo de 60 anos. No caso da vitamina D, se por um lado a nova faixa para normalidade terapêutica possa favorecer uma redução na prescrição dessa vitamina, por outro lado, a publicação de benefícios da vitamina que estão além do metabolismo ósseo estimulam um maior número de prescrições  da vitamina D.
É um outro ponto comum na área médica e que o Slow Medicine busca esclarecer, que é a possível evitar a Mercantilização da Doença (Disease Mongering, em inglês) envolvidas nesses casos. Segundo o Wikipedia, esse é o cenário em que aumentam-se as fronteiras da doença e agressivamente promovem-se campanhas de sensibilização para expandir o mercado para tratamento, entre elas, definir uma doença da qual um grande número de pessoas tem.
“Acredito que dentro desses números e do alarmante excesso de prescrições e de experiências prévias de modismos de outras vitaminas no passado, devemos considerar a busca das vitaminas das fontes naturais, seguindo a recomendação de que vitamina se compra na feira e não na farmácia e no caso da Vitamina D, de preferência, tomando um pouco de sol”, finaliza Dra. Suzana Vieira.


Dra. Suzana Vieira - graduada pela Faculdade de Medicina da UFPE possui Residência Médica e Doutorado em Endocrinologia pela USP.  Atua como endocrinologista no SUS e na Clínica Holus, onde também é diretora médica. É membro ativa da Endocrine Societycolaboradora do  Slow Medicine Brasi, apoiadora da iniciatival Choosing Wisely. Para saber mais sobre o seu trabalho, acesse www.drasuzanavieira.med.br e a página da @drasuzanavieira no Facebook.



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