Há hoje uma insatisfação generalizada na sociedade. As pessoas não
aguentam mais, desconfiam de tudo e de todos. Demandam justas e necessárias
medidas mas, muitas vezes, ignorando o seu custo e o prazo necessário para sua
implantação. Eu não perfilarei ao lado de demagogos que a tudo “apoiam”. Por
respeito a mim mesmo e a todos, seguirei sempre alertando para os cuidados
necessários, alias a única postura que, efetivamente, é realizadora.
A insatisfação pode ser uma alavanca para mudanças. Mas será perigosa se
enveredar por descaminhos, por atalhos que a nada conduzem.
O que é um descaminho? É, por exemplo, diante de uma necessidade, propor
diminuir tributos ignorando que, ao cortar impostos, diminuímos os recursos
orçamentários e deveremos fazer cortes no setor público. Cortar gastos, óbvio e
necessário, mas também cortar investimentos e aí teremos que optar aonde e o
que cortar, uma decisão de todos!
Outra questão evidente é que não se pode tratar cada setor isoladamente.
A insatisfação surge contundente, concentra atenção e ignora o todo. Ter a
consciência de que qualquer medida tem impacto para os outros segmentos e um
custo que a todos atingirá.
Precisamos, com responsabilidade, identificar alternativas viáveis, os
recursos necessários e, principalmente, que programas estruturantes devem ser
adotados para soluções definitivas.
Muitos fazem coro àquilo às reivindicações, eu prefiro adotar o caminho
da sensatez, apresentar alternativas concretas.
Os interesses corporativos têm muitos padrinhos e mobilizações, mas o
interesse público não tem quem o apadrinhe e poucos por ele se mobilizam.
Debruçarmos também sobre as despesas é caminho fundamental. O momento é grave,
impõe soluções estratégicas.
Sobre o preço da política de combustíveis, particularmente a praticada
pela Petrobras o meu posicionamento é claro: nenhum saudosismo, nenhuma volta
ao passado, nenhum tipo de tabelamento ou artificialismo. Temos que enfrentar
este problema, reconhecendo que o preço é muito alto, estabelecer que a
flutuação dos preços dos combustíveis, deve respeitar uma banda de valor ou de
tempo para que aí a mudança possa ocorrer. Recuperar o sentido compensatório que
tinha CIDE – Combustíveis ao ser criada. Na Câmara dos Deputados – retiramos o
Pis/Cofins e oneramos outros setores. Tivemos consciência de que era necessário
equilibrar. “Não há nada grátis”. É importante que isso fique claro.
Dentro desta coerência, manifestei já a minha preocupação com relação à
proposta de tabelamento de frete que, alem de ineficaz, é desorganizadora da
economia.
Previsibilidade é uma palavra fundamental para poder organizar a vida
das famílias, e também planejar a vida de cada um dos segmentos da sociedade,
dos diversos setores econômicos.
Destaco neste episódio, a atuação objetiva e firme do governador de São
Paulo, Márcio França. Preocupado com o vácuo de respostas dos governantes,
tomou a frente buscando soluções que normalizassem a vida da população
paulista.
As lições são muitas. A mais grave delas é que temos um vazio de poder
enorme no Brasil. A presidência da República demonstrou não ter conhecimento da
situação, não ter discernimento suficiente para identificar a profundidade do
problema que se iniciava, e demorou a tomar iniciativas.
Quando o fez, foi no afogadilho de atender pontualmente reivindicações
ou buscando aplacar um problema político. Um vazio imenso de poder, um risco de
que crises institucionais possam acontecer.
Setores da população clamaram por uma intervenção militar e isto não
pode ser ignorado. Corresponde a uma vontade de mudar, a uma falta de
referências. Impõe-se que, de uma forma consistente, comecemos a construir
alternativas que tenham consistência e credibilidade. Fortalecer o debate de
qualidade para as próximas eleições, viabilizar candidaturas que preencham esse
espaço ou esse vazio de poder será comprometedor das instituições e da própria
democracia brasileira.
Arnaldo Jardim - deputado federal
PPS/SP
Site: www.arnaldojardim.com.br
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