A greve dos caminhoneiros
tomou o Brasil nas últimas semanas e provocou um impacto imenso em diversos
setores do país, sobretudo em sua atividade econômica. Independente de seus motivos,
e até mesmo dos acordos firmados e medidas tomadas, o que restam são as
consequências que irão afetar a população pelas próximas semanas.
Enquanto o governo cuida para
que serviços básicos sejam normalizados, o setor privado ainda deve sofrer um bocado
com diversos problemas ocasionados pelo período prolongado de paralisação.
Comércios e indústrias de todos os níveis sofreram com baixas de estoque,
perdas de vendas e problemas nas suas equipes, que muitas vezes trabalharam
incompletas.
Muito se evidenciou a falta de
combustível, porém a greve afetou o abastecimento de todos os itens. Uma crise
no abastecimento significa falta de produtos essenciais. Um exemplo é a falta
de entrega de produtos químicos nas estações de tratamento de água, o que faz com
que a população tenha o risco de ficar desabastecida de água ou tenha uma água
de qualidade inferior para consumo.
É uma época complicada para
ser gestor, pois se seguem semanas que demandaram uma postura atípica para
contornar o momento de instabilidade. Será preciso estratégia para lidar com as
inúmeras atribulações e, para isso, é preciso se apoiar em processos sólidos,
estratégias bem elaboradas e uma visão de ação assertiva, focada no que
realmente faz diferença para a empresa.
Um exemplo de uma visão
limitada, que na verdade prejudica mais do que ajuda, foi a dos empresários que
decidiram-se por simplesmente repassar o problema ao consumidor final,
aumentando preços para cobrir vendas que deixaram de ocorrer, ou mesmo para se
aproveitar do caos para obter um lucro abusivo.
O descaso com o cliente final
e um tratamento imediatista traz pouco lucro, e muito mais problemas em longo
prazo. Houve sim prejuízos, mas repassar a conta não é a forma mais inteligente
de lidar com o problema. Essas empresas ficaram com imagens marcadas, foram
taxadas de aproveitadoras - algo grave em um mundo cada vez mais conectado a
valores mais nobres na hora de dialogar com o cliente.
A busca por lucros maiores é
uma constante nas empresas, mas não de uma maneira que tenha aparência
desonesta. Há maneiras de diluir prejuízos. Muitos perderam mercadorias que
ficaram paradas. Outros perderam fontes de produção. Mas, jogar a conta para o
cliente, não é o caminho.
Uma postura de trabalho para
ajudar a população é muito mais proveitosa. É importante lembrar que as
mercadorias sendo vendidas a preços abusivos hoje foram adquiridas pelas
empresas ao custo normal de mercado, pois na época não havia desabastecimento.
Em alguns casos, nem existe motivo para repassar os custos.
Uma empresa bem estruturada
tem caixa para lidar com momentos curtos de crise, e essa preparação vem de
muito antes da greve. A empresa não pode ser vulnerável, pois vende confiança a
seu consumidor. Falta produto, mas não pode faltar bom relacionamento - e muito
menos ética.
É preciso agir com estratégia,
pensar em longo prazo. Ter essa postura de “estar ao lado da população”, atrai
mais clientes, fideliza os antigos e isso sim traz aumento de lucro e repõe o
caixa. Uma comunicação clara tem momento certo aqui. É uma oportunidade de
mostrar valores como idoneidade, transparência e cooperativismo.
Mesmo que haja a necessidade
de reajustar preços, ser honesto com o cliente e informá-lo, mostra que a
empresa sabe que está vendendo algo mais caro, porém a qualidade se mantém. É
uma questão de confiança. O relacionamento em longo prazo é o que irá remediar
o que ainda está negativamente impactado pela greve.
É preciso, também, aprender
com a situação. Essa greve deixou evidente a dependência que o país tem do
transporte rodoviário. Nesse sentido, vale a pena o empresário pensar em formas
alternativas de realizar a entrega de seus itens ou adquirir materiais de seus
fornecedores. Sabemos que ferrovias e hidrovias não são soluções plausíveis no
momento, pois o país está defasado em muito tempo nessas estruturas, mas há
algumas opções a serem exploradas.
Um exemplo é o de carros
elétricos. Talvez os custos iniciais de investimento ainda sejam altos, mas
fora isso, nada impede que empresas, que tenham um volume não muito alto de
itens para entrega, disponham de veículos elétricos para realizar esse
transporte. O importante é que os clientes estejam sempre informados sobre o
que está acontecendo. Essa comunicação aproxima a empresa do cliente e
demonstra confiança.
Assim, para quem quer lidar
com o impacto de ações desse tipo, vale a pena lembrar: estar preparado,
aprender com os erros e focar no cliente são as chaves para se obter sucesso na
adversidade.
Marcos
Guglielmi - treinador de
empresários, empresário e sócio fundador da ActionCOACH São Paulo.
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