O
termo fake news,
que até recentemente se apresentava como conceito novo para grande parcela da
população, tornou-se jargão comum em conversas cotidianas, sites e noticiários.
Dificilmente
encontraríamos hoje, ao caminharmos pelas ruas, alguém que desconheça do que se
tratam as famigeradas fake
news, ainda que sua definição exata seja imprecisa.
Não
se trata de mera mentira enluvada em uma roupagem jornalística. Já não é
novidade que o ramo do humor tem explorado tal vertente, com sites como o
Sensacionalista ou The
Onion, que se utilizam de inverdades para extrapolar um fato real
para a produção do riso, sempre com um leve viés de crítica ao veicular suas
“notícias”.
Apesar
de essa também poder ser uma de suas definições, sua utilização mais comum,
como exemplificado pelo Dicionário Cambridge, é apropagação de histórias falsas que aparentam ser
notícias, na internet ou outras mídias, usualmente criadas para influenciar
pontos de vista políticos.
Aqui
encontramos a principal e mais perigosa faceta das fake news.
Por
trás da propagação das referidas notícias falsas, quase sempre temos
determinados grupos que, por meio de sua veiculação, buscam alcançar objetivos
que dificilmente seriam atingidos sem a utilização de tal ferramenta.
É
da natureza da fake
news que um maior número de interlocutores seja atingido por
sua propagação, em um espaço curto de tempo, usualmente de forma passional o
suficiente para que a checagem posterior desse fato fique prejudicada.
Se
considerarmos que o alvo principal da propagação é a população média, dificilmente
um terceiro ou mesmo o próprio divulgador da fake news conseguirá operar uma
retratação eficiente depois da notícia chegar aos feeds ou causar algum
tipo de comoção. O estrago já terá sido causado.
E
o fenômeno das correntes, extremamente populares em redes como o Whatsapp e Facebook, auxiliam na
rápida e irrestrita propagação desse tipo de notícias, de modo que uma vez
lançada a um determinado grupo de pessoas, não necessita mais de qualquer
impulso por parte do criador do conteúdo, ganhando força e vida própria a cada
novo compartilhamento.
Muitos
acreditam que foi por meio da propagação de fake news que as eleições presidenciais
dos Estados Unidos da América foram definidas, uma vez que grande parte do
eleitorado norte americano teria acreditado na propagação de factoides
divulgados a respeito da candidata derrotado. Como exemplo, temos a absurda
notícia de que a candidata Hillary Clinton era apontada como líder de uma rede
de prostituição e tráfico infantil em 2016, operada no porão de uma pizzaria em
Washington: o Pizzagate, como ficou posteriormente conhecido.
No
Brasil, as fake news já
estão sendo colocadas em prática para as eleições presidenciais de 2018 e,
certamente, terão um impacto determinante em seu resultado. Os partidos
políticos já contam com o apoio de colaboradores cuja única função é a criação
desse tipo de notícia visando a promoção do candidato patrocinado ou a ruína
dos concorrentes.
O
atual poder executivo, atuando junto ao Congresso, visa conseguir o apoio da
população com a veiculação de notícias que propagam ideias de progresso e
melhora de nosso cenário político e econômico, como podemos verificar nas
propagandas governamentais que são exibidas pelas emissoras de rádio e
televisão, bem como outros meios de mídia impressa.
Com
isso, o descontentamento geral da população e do eleitorado é amenizado,
permitindo que o poder legislativo possa continuar votando projetos de leis
que, apesar de impopulares, são de interesse da aprovação de determinados
grupos e elites dominantes.
Como
exemplo, temos hoje propagandas governamentais que visam convencer a população
de que as reformas trabalhistas e da previdência seriam urgentes e necessárias
para a economia e progresso nacional. Por outro lado, pesquisas acadêmicas
sobre o tema não necessariamente corroboram com a tese propagada. Afinal, a
previdência é deficitária ou superavitária? Certamente você já se deparou com
essa questão.
Vivemos
em um estado que flerta cada vez mais com o Estado Orwelliano.
A
mídia tradicional e mesmo os meios mais modernos de comunicação (como o
próprio Facebook) têm
percebido o potencial lesivo das fake
news e incorporado em suas políticas institucionais o combate
às malfadadas práticas, como, por exemplo, a criação de departamentos de
checagem de fatos e de denuncias de conteúdo inverídico pelos próprios
usuários.
Resta
saber se todo o esforço do mundo será efetivo para reverter essa tendência a
ponto de reduzir ou eliminar eventuais consequências nocivas da propagação de
noticias falsas.
Sem
uma conscientização da população geral sobre a importância de ser cético e de
verificar todo fluxo de informações que nos bombardeiam diariamente, estaríamos
diante de um cenário muito mais catastrófico do que otimista, principalmente
com a ampliação do acesso à informação entre a população com baixa escolaridade
.
É
necessário aprendermos a duvidar, questionar, verificar e negar aquilo que nos
é imposto sem qualquer sorte de filtro. Precisamos ser esse filtro. Do
contrário, não somos muito diferentes do botão de compartilhar, que não permite
qualquer margem ou discussão, mas apenas a decisão do clique.
Breno
A. B. Nascimento - advogado especialista em Direito do Trabalho do escritório
Marins Bertoldi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário