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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Cultura não preventiva e utilização não consciente são os fatores que encarecem os planos de saúde

Mais de 70% dos funcionários de empresas consideram o plano de saúde o principal benefício que recebem. Não é incomum que pessoas aceitem trabalhar até por salários mais baixos, apenas para terem direito ao convênio médico, já que depender da saúde pública é praticamente inviável por diversos motivos já conhecidos. Mas, o alto custo do serviço acaba se tornando um pesadelo tanto para quem não tem o benefício e precisa contratar de forma particular, como para o empregador, que tem este item como o de maior custo em sua folha de pagamento, além das próprias operadoras, que disponibilizam, comercializam e administram os planos de saúde, mas que pagam caro, principalmente pelos procedimentos hospitalares.

Do ponto de vista econômico, podemos citar alguns fatores que encarecem o serviço, por exemplo, o que se conhece por “inflação da saúde”, índice que mede os custos das operadoras, e que no ano passado subiu mais de 18%, isso sem falar nos reajustes autorizados pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Sobre esses aspectos há pouco ou nada que possa ser feito para reduzir os valores.

Mas, há uma questão de comportamento sociocultural, que envolve todos os personagens deste tema, e que pode ser considerada um motivo crucial para os altos preços dos planos de saúde: a falta de conscientização da importância de uma política de prevenção a doenças, e que seja levada a sério por todos os envolvidos: pacientes, empregadores, operadoras e até mesmo os hospitais e profissionais da saúde.

Imaginemos o seguinte cenário: Se ao invés de procurar o pronto-socorro várias vezes por ano para ser atendido por causa de crises alérgico-respiratórias, o paciente fosse uma única vez ao alergologista, ele certamente sairia de lá com pedidos de exames para investigar o motivo da doença e com uma indicação de tratamento para o mal crônico. Ainda que isso não trouxesse cura imediata, certamente preveniria tantas crises e, consequentemente, diminuiria as idas ao pronto-atendimento, o que contribuiria sensivelmente para uma diminuição de custos, além, é claro, de atingir o mais importante, que é a melhora da saúde do paciente. 

Esse comportamento multiplicado milhões de vezes impacta visivelmente os custos dos procedimentos. Os atendimentos em prontos-socorros costumam ser os mais onerosos. Os médicos generalistas muitas vezes solicitam uma quantidade de exames até maior do que o necessário, já que precisam se cercar de dados para, então, encaminhar o paciente ao especialista adequado ou simplesmente medicá-lo paliativamente para amenizar a crise. E quando o paciente se sente melhor, normalmente não procura o especialista, e acaba voltando ao pronto-socorro na próxima crise.

De alguma maneira, há um pensamento geral e equivocado sobre a utilização dos serviços dos planos de saúde que pode variar na forma, mas são iguais na essência. Funcionários que recebem o benefício, pensam: “é de graça, então posso usar bastante”; pacientes privados pensam: “estou pagando, então posso usar bastante”; empregadores pensam: “já que ofereço plano médico, meus funcionários podem usar bastante”; médicos pensam: “já que o plano médico cobre, vou pedir vários exames”, e assim cria-se um ciclo vicioso que só faz encarecer o mercado.

Uma ação efetiva de conscientização da importância de ações de prevenção de doenças, aliada a uma reeducação na forma de utilizar os serviços, certamente resultaria, a médio prazo, na redução dos valores cobrados pelas operadoras de planos de saúde.

Os planos de saúde funcionam de forma semelhante às seguradoras. Quanto maior o risco de sinistro, mais alto o valor da apólice. No caso dos convênios médicos, se a demanda dos pronto-atendimentos e pedidos de exames for grande, isso reflete diretamente no alto custo dos serviços.

Se por um lado o acesso a serviços de saúde de qualidade no Brasil é insuficiente ou pouco acessível, por outro, os avanços científicos têm aumentado consideravelmente a expectativa de vida. As pessoas estão vivendo por mais tempo, mas sem uma cultura de prevenção a doenças, envelhecem com pouca qualidade, adoecem mais, utilizam os serviços médicos com maior frequência e, por isso, não apenas pagam mais caro devido à sua faixa etária, como também alimentam a cadeia comportamental que onera o sistema.

No Fórum de Saúde promovido pela Câmara Americana de Comércio recentemente em São Paulo, este tema foi abordado pelo diretor presidente da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), Leandro Fonseca. Ele apontou a inadequação na gestão de saúde entre as operadoras dos planos, dizendo que das 900 empresas do país, 125 respondem por 80% dos beneficiários e, em sua opinião, os consumidores realizam muitos exames sem necessidade por falta de orientação.

Como a maioria dos usuários de planos de saúde são funcionários de empresas que oferecem este benefício, se os empregadores implantarem programas efetivos e contínuos de prevenção a doenças, não apenas estarão investindo em melhor qualidade de vida dos seus colaboradores, como estarão construindo uma mudança fundamental no sistema financeiro da saúde privada no país.




Marcus Vinícius Gimenez - médico cirurgião cardíaco formado pela UNIFESP e CEO do Consulta do Bem, plataforma/app que oferece uma ampla rede de serviços particulares de saúde, pagos por uso e a preços econômicos, e que conta com mais de 2 mil clínicas, quase 30 laboratórios e cerca de 10 hospitais cadastrados e em expansão diária.

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