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segunda-feira, 27 de julho de 2020

No Dia Mundial de Luta contra Hepatites Virais, Seconci-SP alerta sobre o diagnóstico precoce da doença

No mundo, nove em cada dez pessoas afetadas pela doença não sabem que a têm

 

Segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, entre 1999 e 2018, foram registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) 632.814 casos confirmados de hepatites virais no Brasil. Destes, 26,4% são referentes aos casos de hepatite A, 36,8% aos de hepatite B, 36,1% aos de hepatite C e 0,7% aos de hepatite D. Diante deste cenário, esta terça-feira, 28 de julho, é considerada o Dia Mundial de Luta contra Hepatites Virais e o Seconci-SP (Serviço Social da Construção Civil) aproveita a data para alertar sobre a importância do diagnóstico da doença.

De desenvolvimento silencioso, apresentando sintomas apenas em estados mais avançados da patologia, a hepatite é uma inflamação do fígado, que pode ser causada por vírus e bactéria, ou pelo uso excessivo de medicamentos, álcool e outras drogas, além de doenças autoimunes, metabólicas e genéticas. Segundo o gastroenterologista da entidade, dr. Moacir Augusto Dias, hoje, os tipos B e C afetam 325 milhões de pessoas no mundo e nove em cada dez portadores da doença não sabem que a têm.

“A hepatite é a segunda causa de morte entre as doenças infecciosas, atrás apenas da tuberculose. A orientação para prevenção e para o diagnóstico precoce é essencial para dar início ao tratamento, evitando uma possível evolução para estágios mais severos que causam sequelas irreversíveis, podendo até levar ao óbito”, explica.

 

Tipologias do vírus, tratamento e prevenção da doença

A evolução das hepatites varia conforme o tipo de vírus, denominados pelas letras A, B, C, D e E. Os vírus A e E são provenientes do contágio fecal-oral, geralmente relacionados a condições precárias de saneamento básico e água, de higiene pessoal e dos alimentos. Já os vírus B, C e D são transmitidos pela relação sexual desprotegida ou por compartilhamento de seringas, agulhas, lâminas de barbear, alicates de unha ou demais objetos que furam ou cortam.

Quando manifestados, os sintomas são confundidos com os de uma virose, como cansaço, febre, mal-estar, vômitos e enjoos. Às vezes, o paciente não desenvolve sintomatologia, mesmo portando o vírus. Icterícia (pele e olhos amarelados), acolia fecal (fezes mais claras) e colúria (urina mais escura) também são outros sintomas comuns da doença.

Atualmente, existem vacinas para os tipos A e B – sendo esta última também eficaz para o tipo D. Somente na China há disponível a vacina para a hepatite E. “Quanto às demais tipologias do vírus, a prevenção segue sendo o não compartilhamento de materiais, como alicates de unhas e seringas, uma correta higienização das mãos e alimentos antes do consumo, além do acesso a uma rede de esgoto adequada aos padrões de higiene”, explica o dr. Moacir.

A maioria dos pacientes diagnosticados no início da patologia não necessita de medicação, se restringindo apenas ao repouso absoluto, boa alimentação e hidratação. Quando a doença está em um estágio mais avançado, dependendo da hepatite, é necessário o uso de medicamento. “Quanto antes o diagnóstico, menor será a chance de o paciente desenvolver cirrose hepática e até mesmo um câncer no fígado, no caso dos tipos B e C. A hepatite C, por exemplo, a mais danosa, pode ser tratada com antirretrovirais, até a carga viral se tornar negativa”, completa o médico.

No Seconci-SP, trabalhadores que recorrem à entidade com sintomas da doença são encaminhados para avaliação clínica, além de realizarem o teste sorológico, que permite identificar a presença de todos os tipos de hepatite viral. Em caso de exame positivo, os especialistas direcionam o trabalhador ao tratamento mais adequado.


Mitos e verdades sobre o desvio de septo nasal

Problema é considerado comum, mas ainda gera muitas dúvidas entre pacientes

 

Você certamente conhece alguém que já teve de ser submetido a uma cirurgia para corrigir o desvio do septo nasal. Ainda que seja um procedimento comum, o problema ainda desperta muitas dúvidas em pacientes, inseguros em relação a possíveis cicatrizes, ao pós-operatório e à necessidade da cirurgia.

Para elucidar essas e outras questões, a otorrinolaringologista Cristiane Mayra Adami, do Hospital Paulista, elaborou o tira-teima a seguir, com os mitos e as verdades sobre o desvio de septo nasal:


MITOS

- Quem tem desvio de septo sempre deverá operá-lo

A cirurgia de desvio de septo é muito comum: oito em cada dez brasileiros apresentam o problema. No entanto, nem sempre o desvio de septo é sintomático. Ou seja, nem sempre o paciente sente o nariz entupido e a obstrução nasal. Consequentemente, não são todos os casos de desvio de septo que requerem intervenção cirúrgica. Essa avaliação deve ser feita por um médico otorrinolaringologista.

A cirurgia de correção do septo nasal é indicada quando o paciente tem sintomas como a obstrução nasal ou sinusites recorrentes. Essa série de crises ocorre porque o septo é desviado de um jeito que fecha as entradas e saídas de secreção dos seios da face. O paciente começa a reter muita secreção e desenvolve a sinusite. Portanto, a indicação cirúrgica ocorre quando o desvio é obstrutivo e o paciente tem sintomas de nariz entupido, que dificultam sua respiração. O mandatório para a indicação é a sintomatologia do paciente ou algum desvio tão grave em crianças que possa causar uma deformidade facial.


- A cirurgia de desvio de septo deixa cicatriz

A cirurgia não requer corte externo e não deixa cicatriz. Atualmente, é muito comum a cirurgia através de vídeo endoscopia. O procedimento é feito pelo nariz, através das narinas. Por fora, sequer parece que o paciente passou por uma cirurgia.


- A cirurgia gera mudança na estética do nariz

Uma cirurgia de correção de desvio de septo, que é diferente de um procedimento estético, não muda a forma do nariz. Não há mudança externa, apenas interna para promover uma respiração melhor.


- O procedimento cirúrgico só pode ser feito em adultos

A cirurgia do desvio de septo pode ser feita em qualquer idade, dependendo da indicação e da deformidade que pode estar causando. Para a maioria das pessoas, recomenda-se operar após a fase de crescimento, ou seja, da adolescência em diante. A partir daí, já cessou o crescimento, o osso nasal já está definido. Podemos, então, fazer uma cirurgia e não tem risco de o desvio voltar depois. No entanto, a cirurgia é indicada para algumas crianças quando o desvio é tão grave que pode iniciar uma deformidade facial. Neste cenário, é melhor correr o risco de ter que operar novamente esse paciente lá na frente do que deixar essa criança crescer com alguma deformidade na face. Há casos em que se opera aos 4, 5 anos de idade, mas isso não é comum.


- Após a cirurgia, o paciente não precisa mais de acompanhamento médico

É muito importante ter um acompanhamento pós-cirúrgico nos anos seguintes, principalmente os pacientes que têm rinite alérgica e rinite à mudança de temperatura, pois é importante fazer uma manutenção deste nariz. O septo fica retinho, não entorta de novo, quando já se é adulto, a não ser que tenha um trauma, uma causa externa. No entanto, a mucosa do nariz precisa de cuidados.

O nariz não é só o septo nasal. Os cornetos, popularmente chamados de carne esponjosa, também são responsáveis pela obstrução nasal. Inclusive, é muito comum que o paciente faça a septoplastia junto com a turbinectomia, que seria a correção do septo nasal mais a remoção parcial dos cornetos. Quem tem rinite tem que cuidar dessa mucosa, porque ela estará sempre exposta ao que provoca rinite, podendo causar uma irritação, uma inflamação, um edema, um inchaço dessa mucosa, gerando desconforto.

Não é só operar e sumir. É muito comum que os pacientes operem, fiquem bem, sumam e não cuidem da rinite. Depois de um tempo, acabam voltando ao consultório, pois não fizeram a manutenção do nariz. É muito importante um acompanhamento com o otorrino nos anos posteriores para saber se está tudo bem, principalmente com o fator rinite.



VERDADES

- A cirurgia de desvio de septo utiliza anestesia geral

Sim, é um procedimento considerado invasivo, pois exige internação e anestesia geral. Por isso, é preciso realizar, antes da cirurgia, avaliação cardíaca, de sangue, de pulmão e do anestesista. No entanto, o período de internação é curto e não passa de 24 horas. Alguns médicos preferem que o paciente passe a noite no Hospital após a cirurgia, mas não é uma regra. É possível internar, operar e ir embora no mesmo dia.


- O desvio de septo pode voltar quando se opera muito cedo

Sim, pois a pessoa ainda não teve o pico de crescimento. O osso continua crescendo e pode continuar se desenvolvendo com o desvio. Tudo depende da real necessidade da cirurgia. Em casos extremos, opera-se mais cedo, porém já é avisado que futuramente poderá ser necessário operar novamente.


- O pós-operatório é muito essencial no sucesso da cirurgia

Os cuidados do pós-operatórios de uma cirurgia de desvio de septo são muito importantes. O sucesso do procedimento depende muito de um pós-operatório bem feito e respeitado, pois a região do nariz sangra com muita facilidade. É preciso fazer um repouso relativo, em que não haja esforço físico, já que os vasinhos do nariz estão cicatrizando e podem se romper, causando hemorragia.

Deve-se evitar também a exposição excessiva a temperaturas altas, ao calor, ao Sol e a comidas e banhos muito quentes. Isso deve ser feito nas primeiras semanas, pois a média de cicatrização de uma cirurgia do nariz é em torno de dois meses. É importante enfatizar também que é muito importante evitar qualquer tipo de trauma na região. Ou seja, evitar bater o nariz ou tomar uma bolada, por exemplo.

 


Hospital Paulista de Otorrinolaringologia

Especialista fala como aspectos emocionais podem elevar os acidentes de trabalho

Com a pandemia, Dia Nacional da Prevenção ao Acidente de Trabalho será celebrado com novos desafios


De acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil ocupa a quarta posição no ranking mundial de acidentes de trabalho, atrás apenas de países como China, Índia e Indonésia. Esse ano, no Dia Nacional da Prevenção ao Acidente de Trabalho, 27 de julho, as empresas do país, principalmente os profissionais de segurança e saúde ocupacional (SST), têm uma responsabilidade ainda maior: além de atuarem no combate aos vírus, precisam manter a saúde e os aspectos emocionais de todo o time em dia, minimizando os riscos de ocorrências.

Segundo o levantamento do Observatório Digital de Segurança e Saúde do Trabalho, a cada 3 horas e 40 minutos morre um trabalhador em decorrência de acidentes de serviço. Os números da Previdência Social registram cerca de 700 mil casos de acidentes ocupacionais no país.

Resultantes de diversos fatores, o que ocupa lugar de destaque como causa de acidentes de trabalho é o fator humano, que compreende as características psicossociais do trabalhador, atitudes negativas para com as atividades prevencionistas, aspectos da personalidade, falta de atenção, entre outros comportamentos.

“O que algumas pessoas desconhecem é que os aspectos emocionais estão ligados diretamente à segurança dos colaboradores. Com a incerteza e medo do cenário atual, muitos ficam mais estressados e ansiosos, podendo influenciar no desempenho profissional, na capacidade de concentração, raciocínio e memória, aumentando o risco de acidentes”, explica a psicóloga Nayara Teixeira, gerente técnica na MAPA Avaliações.

Outro aspecto elencado pela especialista é que a ansiedade, medo e o estresse no trabalho também podem levar a problemas comportamentais, incluindo abuso de álcool e drogas. “Alguns transtornos provocam alterações cognitivas e neurofisiológicas, fazendo com que o colaborador apresente certa confusão em relação à realidade, inclusive na diminuição da percepção de risco e perigo iminente, contribuindo para o aumento de risco de acidentes”, ressalta a especialista.


Colaboradores que atuam nos serviços essenciais

Alguns setores da economia são essenciais para a sociedade e não podem parar, são os chamados serviços essenciais. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) ressalta a importância de se aumentar a conscientização sobre a adoção de práticas seguras nos locais de trabalho e o papel que os serviços de segurança e saúde ocupacional desempenham.

“Para esses colaboradores e empresários, a sobrecarga é ainda maior, pois, além da pressão sobre as incertezas mundiais, soma-se o medo de estarem expostos aos riscos no ambiente. Nessas empresas, a equipe de Segurança do Trabalho deve estar ainda mais alinhada e atenta sobre os aspectos físicos e emocionais”, explica a psicóloga da MAPA.


Identificado os riscos por meio de dados

Com o teste MAPA é possível fazer uma avaliação individual de cada colaborador, permitindo considerar suas características e competências de forma contextualizada, bem como os indicadores de risco de acidente. “Com o resultado, conseguimos visualizar, em indicadores, as características pessoais que podem prevenir ou contribuir, em menor ou maior grau, com o envolvimento do colaborador em acidentes”, comenta.

Segundo a psicóloga, os indicadores dizem respeito aos acidentes causados por um comportamento caracterizado como precipitado e/ou negligente, considerados os principais motivos causadores de falha humana. “Além disso, são verificadas estratégias de enfrentamento, que permitem aos colaboradores lidar com as adversidades do trabalho e se proteger da exposição ao risco”, finaliza Nayara.

 


MAPA


Olhar deve ser atento para combater a anemia entre gestantes e bebês

Estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que um terço das mulheres em idade reprodutiva no mundo estão anêmicas

 

O momento de distanciamento social pode ser útil para uma reflexão sobre os hábitos alimentares e um dos aspectos importantes é ficar atento a quantidade de ferro que é consumida, especialmente quando se trata de gestantes e bebês. Os dados mais recentes no Brasil mostram que a anemia atinge cerca de 20 a 30% das crianças. Há variações conforme a região do país e a causa mais frequente é a anemia pela deficiência por ferro. Por conta disso, a Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS) reforça a importância dos pais estarem atentos a isso.

“A anemia é um problema global que exige atenção desde o pré-natal com a gestante, durante o aleitamento materno e na alimentação complementar fortificada com o devido acompanhamento pediátrico. Além disso, promover o aleitamento materno exclusivo é importantíssimo e quando este não for possível, o uso adequado de fórmulas para lactantes e não o leite de vaca.”, explica o médico nutrólogo pediátrico e diretor da SPRS, Matias Epifanio.

O efeito da anemia acontece no crescimento podendo comprometer o desenvolvimento cerebral. Outros fatores são relacionados com habilidades cognitivas, capacidade motora e aspectos comportamentais. Em 2018, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicou uma diretriz sobre o consenso considerando mais que uma doença, uma urgência médica.

No Brasil os dados relacionados a anemia variam muito pelos aspectos regionais, mas a maior parte dos casos concentram-se em crianças menores de 3 anos e gestantes. O conceito da Organização Mundial da Saúde (OMS) para anemia é quando ocorre um desvio dois numerais abaixo do esperado, dos níveis de hemoglobina circulante no sangue. Os parâmetros são determinados conforme a idade e outros fatores como sexo, gestação, altitude, entre outros.

“A avaliação clínica em muitos casos não é suficiente. As vezes para uma detecção precoce é preciso um olhar da evolução da criança desde o pré-natal, alimentos complementares, vínculo de aleitamento materno, entre outros aspectos, finaliza Matias.

O consenso sugere a suplementação que todo recém-nascido a termo de peso adequado, deve receber do 3o mês de vida até os 24 meses de vida 1 mg de ferro elementar por quilo a cada dia. Há diferenciações se o bebê nasceu abaixo do peso ou pré maturo sendo indispensável a consulta ao pediatra para o correto acompanhamento.

As carnes e alguns órgãos, como o fígado, apresentam alta densidade e biodisponibilidade de ferro. Alguns vegetais também apresentam quantidades razoáveis de ferro, porém sua biodisponibilidade pode ser menor. Os elevados requerimentos fisiológicos de ferro na primeira infância tornam a criança especialmente vulnerável à anemia por deficiência de ferro durante os dois primeiros anos de vida. Neste sentido, atenção especial deve ser dada ao período de amamentação e à posterior fase de introdução de alimentos complementares, quando deverá ocorrer a introdução oportuna, correta e apropriada dos alimentos ricos em ferro.

 


Marcelo Matusiak


Imunidade coletiva ao novo coronavírus pode ser alcançada com até 20% de infectados, sugere estudo

 

 Estimativa foi feita por pesquisadores de Portgal, Reino Unido e Brasil com um modelo matemático que leva em conta o fato de que o risco de contrair a doença varia entre os indivíduos de uma população. A notícia é boa, mas não elimina a necessidade de medidas para conter o contágio, afirmam os autores (Gerd Altmann/Pixabay)

 

Um estudo publicado em 24 de julho na plataforma medRxiv, ainda sem revisão por pares, estima que o limiar de imunidade coletiva ao novo coronavírus (SARS-CoV-2) – também conhecida como imunidade de rebanho – pode ser alcançado em uma determinada região se algo entre 10% e 20% da população for infectada.

Caso a projeção se confirme na prática, os desdobramentos tendem a ser positivos em dois aspectos. Primeiro porque significa que é pequeno o risco de ocorrer uma segunda onda avassaladora da pandemia nos países que adotaram medidas para conter a disseminação da COVID-19 e hoje já registram queda no número de novos casos. Em segundo lugar porque indica ser possível para uma cidade, um estado ou um país alcançar o limiar de imunidade coletiva mesmo tendo adotado medidas de distanciamento social que ajudam a evitar o colapso do sistema de saúde e a minimizar o número de mortes.

“Nosso modelo mostra que não é preciso sacrificar a população deixando-a circular livremente para que a imunidade coletiva se desenvolva. Por outro lado, sugere que também não há necessidade de manter as pessoas em casa durante muitos e muitos meses, até que se aprove uma vacina”, afirma à Agência FAPESP a biomatemática portuguesa Gabriela Gomes, atualmente na University of Strathclyde, no Reino Unido.

O modelo matemático ao qual a pesquisadora se refere foi desenvolvido em colaboração com cientistas do Brasil, Portugal e Reino Unido. Entre os coautores do artigo estão o professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) Marcelo Urbano Ferreira e seu aluno de doutorado Rodrigo Corder.

“Temos trabalhado juntos com Gabriela Gomes há alguns anos usando essa abordagem para descrever a dinâmica de transmissão da malária na Amazônia brasileira, com apoio da FAPESP. Ela também já havia feito alguns estudos sobre tuberculose. O modelo que usamos é diferente dos demais, pois leva em conta o fato de que o risco de contrair uma determinada doença varia de pessoa para pessoa”, conta Ferreira.

Como explica Gomes, os fatores que influenciam o risco de um indivíduo contrair a COVID-19, por exemplo, podem ser divididos em duas categorias. Em uma delas estão os de ordem biológica, como a genética, a nutrição e a imunidade. Na outra se inserem os fatores comportamentais, que determinam o nível de contato com outras pessoas que cada um de nós tem no cotidiano.

“Isso tem relação com o tipo de ocupação, o local de moradia, os meios de deslocamento e até o perfil de personalidade. Uma pessoa que prefere ficar em casa lendo um livro tem um risco menor de se expor ao vírus do que quem sai com muita frequência e se relaciona com muitas pessoas”, diz a pesquisadora.

De acordo com Gomes, os modelos que estimaram o limiar de imunidade ao SARS-CoV-2 variando entre 50% e 70% consideram que o risco de infecção é o mesmo para todos os indivíduos.

“Temos visto que, no caso da COVID-19, quanto maior é o grau de heterogeneidade da população, mais baixo se torna o limiar da imunidade de grupo”, afirma Gomes.

Métodos de cálculo e políticas públicas

Medir em cada indivíduo de uma população cada um dos fatores que influenciam a suscetibilidade de contrair o novo coronavírus para então calcular qual seria o chamado “coeficiente de variação” – parâmetro-chave do modelo descrito no artigo – seria algo inviável. Por esse motivo, os pesquisadores optaram por fazer o caminho de trás pra frente.

“Sabemos que se alterarmos o coeficiente de variação há um impacto na curva epidêmica projetada pelo modelo. Decidimos então fazer o reverso: usamos a curva epidêmica de países em que a epidemia já estava em fase avançada para calcular o coeficiente de variação”, explica Gomes.

A versão mais recente do trabalho se baseia em dados de incidência (número de novos casos diários) da Bélgica, Inglaterra, Espanha e Portugal. “Pretendemos em breve estudar os dados do Brasil e Estados Unidos, onde a epidemia ainda está em evolução”, diz a pesquisadora.

Segundo os autores, embora o coeficiente de variação seja diferente em cada país, de forma geral, o limiar de imunidade coletiva tende a ficar sempre entre 10% e 20% e isso é extremamente relevante para a formulação de políticas públicas.

“Em locais onde o limiar de imunidade coletiva já foi alcançado, a tendência é que o número de novos casos continue a cair mesmo se a economia for reaberta. Mas, caso as medidas de distanciamento sejam relaxadas antes de a imunidade coletiva ser alcançada, os casos provavelmente voltarão a subir e os gestores devem estar atentos”, afirma Corder. “Conceitualmente, após atingir a imunidade coletiva, a transmissão tende a se prolongar caso as medidas de controle sejam retiradas rapidamente”, alerta.

Segundo o relato de Gomes, em Portugal é possível observar duas situações distintas. A região norte, por onde o vírus entrou no país, foi bem mais impactada no início da pandemia e agora, mesmo com a economia reaberta, o número de casos novos permanece em queda. Já no sul, onde se localiza a capital Lisboa, os casos seguem tendência de alta.

“Por enquanto são surtos localizados, em bairros de Lisboa, que estão sendo localmente contidos por meio de testagem e isolamento de infectados. As pessoas só foram liberadas para voltar ao trabalho em Portugal após fazerem testes”, conta a pesquisadora.

Situação parcialmente semelhante ocorre no Brasil. A região de Manaus (AM), no Norte, aparentemente atingiu o pico da curva epidêmica em maio, quando houve o colapso do sistema de saúde. Depois disso, o número de novos casos tem caído mesmo com a economia aberta e as escolas retomando as atividades presenciais. Estudos sorológicos indicaram que em cidades como Manaus e Belém, no Pará, mais de 10% da população já tem anticorpos contra o novo coronavírus. Já a região Sul, que registrou um pequeno número de infecções no início da epidemia e onde o índice de soroprevalência na população estava em torno de 1% em maio, tem registrado um aumento no número de casos novos à medida que as atividades estão sendo retomadas. Diferentemente de Portugal, o investimento em testagem e rastreamento de infectados no Brasil ainda permanece aquém do considerado ideal.

Como ressaltam os autores do artigo, o fato de o limiar de imunidade coletiva ser menor que o inicialmente previsto não diminui a importância das medidas de saúde pública para conter a disseminação do vírus e reduzir o número de mortes.

“Se algum gestor defende a imunidade coletiva como política pública ele está equivocado. As medidas de controle são importantes para não sobrecarregar o sistema de saúde. Mas o novo entendimento da dinâmica de transmissão da COVID-19 que nosso modelo traz aponta para um cenário mais otimista”, diz Corder.

Na avaliação de Gomes, a adesão às medidas de isolamento tende a ser maior se as pessoas souberem que o sacrifício será necessário por um período mais curto. “Quando dizemos que a epidemia só será superada quando a vacina chegar, as pessoas começam a pensar em desrespeitar as normas, pois já não aguentam uma vida tão pouco sociável, com tantas restrições”, diz.

Próximos passos

Alimentar o modelo com dados do mundo real é a melhor forma de tornar suas simulações e estimativas mais realistas. Com esse objetivo, Ferreira pretende testar em um estudo de campo no Acre dois pressupostos usados nos cálculos do grupo: o índice de detecção da doença (a diferença entre o número real de infectados e o número de casos diagnosticados) e o tempo de duração da imunidade contra o SARS-CoV-2.

“No trabalho, consideramos que em torno de 10% dos casos reais são detectados pelos serviços de saúde e que a imunidade contra o vírus dura ao menos por um ano. Vamos ver se isso se confirma em uma população que acompanhamos já há alguns anos na cidade de Mâncio Lima”, conta o pesquisador.

O grupo do ICB-USP tem realizado a cada seis meses inquéritos domiciliares com uma amostra da população da cidade acriana situada na fronteira com o Peru. Além de aplicar questionários, os pesquisadores coletam amostras de sangue. A ideia é acompanhar como evolui a soroprevalência ao SARS-CoV-2 nessa população ao longo do próximo ano e observar por quanto tempo os anticorpos podem ser detectados no sangue. O trabalho conta com apoio da FAPESP (leia mais em: http://agencia.fapesp.br/32883/).
 



Karina Toledo

Agência FAPESP

http://agencia.fapesp.br/imunidade-coletiva-ao-novo-coronavirus-pode-ser-alcancada-com-ate-20-de-infectados-sugere-estudo/33720/


Julho Verde - Pandemia causa aumento de casos avançados de Câncer de Cabeça e Pescoço


27 de julho é o Dia Mundial de Conscientização e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço. O Julho Verde é uma campanha que conta com o apoio da Organização Mundial da Saúde  e da União Internacional para o Controle do Câncer para informar e promover o conhecimento sobre os fatores de risco, tratamento e reabilitação do câncer de cabeça e pescoço. O movimento no Brasil une a ACBG Brasil, a Sociedade Brasileira de Cabeça e Pescoço e várias organizações para reforçar a melhor forma de conduta: a prevenção e o diagnóstico precoce.

“É necessário estar alerta aos sintomas anormais do organismo no dia a dia. É essencial num momento como esse divulgar como prevenir estes tipos de câncer, ressaltar a importância de realizar exames periódicos, como ultrassonografia, sangue, ressonância magnética, por exemplo, assim como dar continuidade às consultas médicas.”, orienta Leonardo Rangel, cirurgião de cabeça e pescoço, especialista pelo INCA, médico e pesquisador da UERJ.

A falta desses cuidados com a saúde por medo de se contaminar pelo vírus, vai colaborar com o aumento de todos os tipos de câncer, como já notificou um estudo realizado pelo INCA divulgado este ano. A estimativa aponta 37.120 novos casos em 2020, sendo que 43 mil surgem anualmente, resultando em 10 mil mortes. Com o isolamento social, a perspectiva é ainda mais crítica. De acordo com o Instituto Oncoguia, organização de apoio a pessoas com câncer, os óbitos causados pela doença podem crescer 20% até o fim de 2020 e até mesmo os tipos com alto índice de cura terão tratamento mais difícil. 

Um exemplo de câncer que pode ser descoberto cedo com exames simples e tem quase 100% de cura é o câncer de tireoide, o mais comum da cabeça e pescoço e o quinto tumor mais frequente em mulheres nas regiões Sudeste e Nordeste. 70% dos pacientes buscam ajuda com o estágio avançado.

“Os tumores de cabeça e pescoço têm características mais dependentes do tempo, que são as complicações que podem levar à morte do paciente, principalmente a compressão da via aérea. Os cânceres que surgem dentro da cavidade oral, ou da laringe, podem comprimir a via aérea e obstruir, gerando falta de ar, mesmo que os tumores não sejam tão grandes. Isso torna a detecção precoce fundamental, pois além de ter um prognóstico melhor, também evita outros riscos que os tumores mais agressivos podem causar além da insuficiência respiratória, como o sangramento dentro da árvore brônquica, mais abrupto. Com certeza, a demora do paciente ao tratamento e o medo de procurar atendimento médico nos primeiros sintomas vão criar um impacto nos tumores de cabeça e pescoço.”, alerta Dr. Leonardo.

NOVOS TRATAMENTOS E EQUIPE MULTIDISCIPLINAR - O tratamento de um câncer de cabeça e pescoço é complexo e requer acompanhamento e ajuda de uma equipe de profissionais, além do cirurgião de cabeça e pescoço. No Hospital Universitário Pedro Ernesto, os pacientes recebem apoio de especialistas em fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia, assistência social, enfermagem, odontologia e nutrição. "O trabalho da equipe e novos tratamentos minimamente invasivos, como a ablação por radiofrequência em nódulos de tireoide, vêm sendo implantados também no SUS, para diminuir os riscos aos pacientes e melhorar a qualidade de vida de quem é afetado pela doença”, finaliza Rangel.


A telemedicina pode se transformar na solução para ampliar o acesso ao atendimento médico no Brasil

As ferramentas tecnológicas, em especial a telemedicina, são vistas por especialistas como uma forma de potencializar e reverter aspectos negativos da gestão da saúde no Brasil

 


 

Em um mundo com cada vez mais presença digital, os serviços que não se remodelarem ficarão obsoletos. Seja na forma de estudar, trabalhar, comprar ou até mesmo receber o atendimento de profissionais de diversas áreas. Na medicina, esse fenômeno tecnológico tem acontecido nos últimos anos, mas por conta da pandemia do novo coronavírus, muita coisa acabou sendo acelerada pela necessidade de atender os pacientes de forma remota. O Brasil é um país de dimensão continental e muitas pessoas têm se beneficiado da telessaúde desde que ela foi autorizada em caráter emergencial em decorrência do Projeto de Lei 696/20, proposto pela Deputada Federal Adriana Ventura, com foco no tratamento da Covid-19.  

 

Essa liberação ainda não é definitiva, visto que esse tipo de atendimento só está autorizado enquanto a saúde pública estiver em colapso por conta da pandemia. Para Fábio Tiepolo, CEO e fundador da Docway, empresa brasileira de inovação com foco em saúde, todo o ecossistema precisa estar preparado para que a telemedicina funcione de forma efetiva no país. “Nosso foco na Docway é continuar investindo em inovação, disponibilizando novas tecnologias, e impulsionando nossos serviços dentro de diversos segmentos. Sendo assim, estaremos preparados para assumirmos as novas demandas que serão geradas quando a prática for oficialmente liberada no país”, enfatiza o CEO.

 

O Diretor Corporativo de telessaúde da operadora de planos de saúde Hapvida, José Luciano Cunha, afirma que é difícil dissociar a economia do impacto social que a telemedicina pode proporcionar na vida das pessoas. “Segundo dados do IBGE de 2019, temos mais de 72% da população brasileira conectada à internet, além de cada vez mais sinal de redes 2G e 3G nas regiões rurais. Isso acaba auxiliando na troca de informações entre o paciente e o profissional, pois a telemedicina não é apenas uma troca de mensagens, mas sim uma troca de informações entre os dois e essa tecnologia facilita o acesso à saúde”, explica Cunha.

 

Só por este motivo, já é importante analisar o quanto seria benéfico se os órgãos públicos conseguissem incluir a telemedicina como um serviço de saúde comum no país. Assim como uma consulta tradicional, a teleconsulta também precisa de uma infraestrutura adequada e profissionais habilitados para realizar esse tipo de atendimento. “Todo o ecossistema precisa estar preparado para a telemedicina, em especial a teleconsulta. O profissional deve se preocupar com segurança de dados, com a postura durante o atendimento, com a maneira que deve falar com o paciente, pois em uma teleconsulta existe a barreira física e tudo precisa ficar muito claro”, ressalta Tiepolo.

 

Muitos acreditam que a telessaúde é regulamentada em todo o mundo e que apenas o Brasil está atrasado, mas se enganam. “Nos Estados Unidos, o maior crescimento no setor foi nesse momento, devido à pandemia, afinal, eles também tinham problemas regulamentares, e agora, acreditam que a telemedicina veio pra ficar, mas ela já existia antes”, comenta Cunha. A telemedicina deve ser encarada como um recurso que vem para somar. “Além disso, é uma excelente ferramenta para viabilizar os sistemas de saúde e otimizar o tempo médico, gerando benefícios para todos os envolvidos e colocando o Brasil em linha com as boas práticas adotadas por outras nações”, completa Tiepolo.

  

Sexting: a crescente tendência sexual em meio à pandemia

A tecnologia como aliada no período de isolamento social traz o sexting (sexo virtual) como opção para manter o prazer - melhorar os relacionamentos - e evitar o contato físico

 

Desde o início da quarentena, práticas e rotinas se estabeleceram para que pudéssemos nos adequar ao “novo normal”, reinventando todos os pilares da vida, e, portanto, na vida sexual não seria diferente. Num período em que o principal cuidado é manter o distanciamento, inclusive os contatos físicos, a sexóloga Carla Cecarello faz observações sobre a mudança do comportamento sexual na vida de diferentes tipos de pessoas. “Essa mudança foi realmente interessante, por mostrar que as pessoas estão usando mais a criatividade, tentando buscar novas práticas para ter prazer para si mesmas ou para a relação. Muitas vezes os casais estavam tão acostumados um com o outro, que caiam na mesmice. Já para os solteiros, que não tem uma parceria fixa, mostrou a importância de criar novas oportunidades”.

Sabemos que os benefícios do sexo são muitos, não importa como sejam. De acordo com a sexóloga do C-date (www.c-date.com.br), o sexo estimula a dar e receber amor, melhora a parceria e a cumplicidade entre o casal. Além disso, tende a reduzir consideravelmente o humor depressivo, melhora a auto estima, o ânimo, a disposição e a qualidade de vida. Por outro lado, a falta das relações sexuais tem o efeito contrário. Pode causar uma queda da auto estima que, por exemplo, “faz a pessoa pensar não ter o porquê ou o para quem se insinuar ou se mostrar, o que gera um descuido maior”. Outras consequências são o humor comprometido (a irritabilidade, falta de paciência e o nervosismo) e a diminuição da vontade de se relacionar. “O desejo sexual vem da prática com uma boa frequência. Então, sem isso a vontade começa a diminuir. São consequências que se instituem aos poucos no comportamento da pessoa, completa Carla Cecarello.

Porém, na ausência do sexo, qual a melhor saída? “Uma boa saída é a pessoa começar a se masturbar, utilizar acessórios, ler contos eróticos, assistir filmes de conotação erótica (que não precisam necessariamente ser filmes de conteúdo pornográfico), isso tudo contribui para manter a mente recheada com essas informações e, consequentemente, se manter viva para o sexo”.

Outra alternativa encontrada para manter a mente e a imaginação sexualmente ativa durante a quarentena é o sexo virtual, ou o sexting. A sexóloga do C-date, Carla Cecarello, pontua os principais cuidados com a prática do sexting e o que ela não indica.

Não mostrar o rosto: “Bom, a primeira coisa é não mostrar o rosto porque isso realmente pode trazer sérias consequências. A pessoa vai ser muito exposta, mostrar o rosto, o corpo, uma performance sexual ou se masturbando, pode comprometer trabalho, relacionamentos e assim por diante. Então, eu vejo que esse é o primeiro cuidado.”

Não compartilhar sua localização: “Se a pessoa está em sites ou aplicativos de relacionamento, o ‘marcar encontros’ é difícil. Como agora as coisas estão retornando aos poucos, encontros em lugares públicos são difíceis e muitas pessoas têm marcado encontros dentro de casa, e isso é perigoso, requer muito cuidado, além de poder ocorrer até mesmo abusos. O correto seria esperar tudo retornar, não compartilhar dados como nome e localização”.

Não exagerar: “Apesar de ser um movimento importante, a prática da masturbação, como tudo, as mensagens e vídeos de maneira excessiva, pode fazer que a pessoa se isole, não queira buscar relações ou até mesmo desenvolva comportamentos patológicos”.

Para quem nunca se aventurou em algo diferente a dica para ter um bom momento é começar aos poucos e perceber o que gosta para elevar o autoconhecimento. Segundo Carla Cecarello “pode, por exemplo, ir em busca dos contatos que tem, geralmente um flerte, alguém em quem já tenha interesse ou até mesmo entrar em sites de relacionamento e conhecer pessoas com um perfil próximo. Pode começar com um bate papo, depois partir para mandar fotos de determinadas partes do corpo ou mensagens picantes e, então, vídeos. Tomando os cuidados que citei anteriormente essas são dicas que podem tornar esses momentos bastante agradáveis”

As principais novas tendências para aproveitar o sexo virtual são “primeiro, a prática masturbatória que mudou: as pessoas estão buscando muito mais o próprio prazer; o uso de acessórios ganhou frequência nos relacionamentos, em casais que não estavam acostumados; e a fantasia, através do sexo virtual, ganhou espaço entre casais: a incitação por vídeos, mensagens com duplo sentido, telefonemas com tons de voz diferentes são práticas interessantes que passaram a existir e contribuíram bastante para o estímulo da imaginação”, complementa a sexóloga do C-date.

Vivemos o momento de reinventar a vida das mais diversas formas e nos habituar as novas possibilidades que encontramos na geração da tecnologia. Portanto, sites e aplicativos como o C-date entendem essa necessidade, inclusive, no sexo. Conhecer novas pessoas, manter a vida sexual ativa com sofisticação e entusiasmo pode ser uma nova experiência incrível, tudo tem uma nova cara e é o momento certo para aproveitar.


Anda divagando muito na quarentena? Saiba os prós e contras

“A divagação é o domingo do pensamento”, disse o filósofo Henri-Frédéric Amiel. Quando deixamos de prestar atenção em algo e nos permitimos divagar (“mind wandering”, divagação ou devaneio da mente), algumas áreas cerebrais especificas são ativadas, constituindo a chamada “rede de modo padrão” (“default mode network”). Seria algo como o ponto morto no câmbio do carro. O motor está ligado, mas o carro está parado.

“É impossível não pensar em nada, mas existe, sim, a possibilidade de os pensamentos fluírem sem uma direção especifica”, afirma Dra. Vera Garcia, psiquiatra de adultos e da infância pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ, com MBA de Gestão em Saúde pela FGV e Observership no Jackson Mental Health Hospital, da Universidade de Miami.

Segundo ela, dentro de certos limites, o cérebro humano tem capacidade de fazer o sistema ligado à atenção e à rede de modo padrão funcionarem em paralelo. “Eles não são mutuamente excludentes. Muitas vezes, estamos concentrados em algo e, ao mesmo tempo, nossa mente está divagando, seja de forma consciente ou não. Por exemplo: estou trabalhando e, ao mesmo tempo, pensando no que preciso comprar no supermercado”.

Na realidade, o cérebro é programado para funcionar por um certo período de tempo, durante o qual estamos acordados. O descanso principal do cérebro ocorre quando dormimos. “Nesse período, ele se refaz, organiza e consolida memórias. Quando estamos em um momento de lazer, por exemplo, não costumamos nos concentrar em algo que demanda muito do cérebro. Com isso, a possibilidade de divagações passa a ser mais possível”, diz Vera Garcia.

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade da Califórnia e do Instituto Max Planck sugere que fazer tarefas simples, que estimulam a divagação, pode ajudar a encontrar novas soluções para problemas. “De fato, permitir que a mente flua aumenta a produtividade, principalmente durante as tarefas repetitivas. Quando divagamos, o cérebro ativa regiões relacionadas ao planejamento, possibilitando focar, com mais precisão, em objetivos e projetos futuros”.

 

O lado negativo da divagação

No entanto, a divagação pode prejudicar o rendimento de algumas atividades, principalmente as intelectuais, como estudo ou trabalho. “A possibilidade de deixar o cérebro divagar durante o período de trabalho depende muito da atividade que a pessoa desempenha, mas há quem se distraia com qualquer coisa. Estes devem ficar mais atentos nos momentos em que a concentração é fundamental”, aconselha a psiquiatra.

Além disso, neste momento de pandemia, a concentração também é crucial. “Não há espaço para distração quando estamos na rua. Temos que estar atentos o tempo todo com a máscara, a distância entre as pessoas, a higienização, em não levar as mãos à boca, ao nariz e aos olhos. É um estado de alerta constante e fundamental”, lembra Vera.


Mas, de acordo com Vera, se você é daqueles que, quando necessário, consegue foco total no que está fazendo, não há nada de mal em tirar umas pausas para divagar um pouco, desde que consiga finalizar a tarefa a tempo. “Na rotina caótica que estamos vivendo, fazer pausas ao longo do dia, nos momentos certos, é benéfico para mente e corpo. É como dar fôlego ao peso que a pandemia tem gerado nos últimos meses”, finaliza Vera Garcia.

 

A pandemia e o aumento dos distúrbios alimentares


Em tempos de pandemia é preciso cuidar da saúde mental, bem como da saúde física. Especialistas afirmam que durante a quarentena viram aumentar significantemente o número de pessoas com depressão, ansiedade e vícios por cigarro e bebidas alcoólicas. E nesse contexto, é necessário falar dos distúrbios alimentares que não ficaram fora da lista.

Mas afinal, o que a pandemia tem a ver com os distúrbios alimentares e a distorção de imagem? De acordo com a psicóloga especializada em Transtorno Compulsivo Alimentar (TCA), coordenadora do AMBULIM na USP, Valeska Bassan, o ser humano tem uma relação emocional com a comida durante toda a vida. “Estar em equilíbrio significa conseguir deixar corpo e mente sã, mas muitas vezes esquecemos que a saúde mental deveria vir primeiro do que a física, uma vez que estão intimamente ligadas”, explica.

A pandemia trouxe muita insegurança e incerteza para todos, gerando muita preocupação e ansiedade, o que naturalmente faz com o que a saúde mental seja bastante afetada, e com isso os transtornos tenham tomado uma proporção inimaginável.

“De forma consciente ou inconsciente é bastante comum que durante o afastamento você tenha pensado em uma comida especial que sua mãe faz ou aquela sopa deliciosa da sua avó e queira fazer em casa como forma de matar as saudades, de aliviar a dor”, diz. E essa relação de afeto e amortecimento com a comida é igual para todos.

Para a maioria, trabalhar em casa também foi um desafio e facilita ainda mais as “beliscadas” durante o dia e a ingestão de alimentos “gostosos”. Muitos pacientes relataram um significativo aumento de peso durante a quarentena, o que para Valeska é completamente normal. “Foram mudanças bruscas ao mesmo tempo e o stress no pico. O que deve ser percebido é a relação do peso com a imagem corporal, eles conversam. Muitos pacientes não conseguem enxergar o reflexo real do seu tamanho, percebem seu corpo muito menor ou maior do que realmente é”. Ela ainda acrescenta que, muitas vezes, a percepção real só acontece quando eles veem uma fotografia, vídeo ou uma imagem refletida de si mesmos.

Embora a distorção de imagem afete mais mulheres do que homens, eles não estão isentos disso. A bulimia e a anorexia são transtornos em que essa característica está bastante presente. A nossa percepção de imagem se desenvolve na medida em que crescemos e começamos a receber observações de membros da família, treinadores, amigos e namorados. Alguns traços de temperamento como o perfeccionismo e a autocrítica também podem influenciar para o desenvolvimento de uma autoimagem corporal negativa.

Muitos pacientes também relataram que ficar em casa com tempo livre foi bastante desafiador, não apenas pela solidão, mas pela presença de pessoas com corpos perfeitos nas redes sociais e na televisão, o que é um desejo bastante inalcançável. “As pessoas sentem a necessidade em se encaixar em padrões. Mulheres famosas que dizem que encontraram a beleza em jejuns, dietas milagrosas e exercícios rígidos faz com que isso seja possível para a maioria das pessoas. Mas vale lembrar que essa comparação é muito injusta com a maioria das pessoas. Dificilmente ela vai conseguir chegar num padrão do que é mostrado na mídia, muitas vezes tem edições de imagem e até mesmo uma doença grave por trás daquela aparência desejada. A comparação com outros corpos que não seja o seu é injusta e não deve ser feita”, comenta a especialista.

A psicóloga ainda reforça que, em muitos casos, o distúrbio alimentar pode ter se originado durante a quarentena e que é preciso procurar um especialista para entender o quadro clínico, e quais as melhores formas de tratamento. 

 

Revisões de aposentadoria pós reforma da Previdência

A reforma da Previdência, que está em vigor desde novembro do ano passado, dificultou o acesso dos segurados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a alguns benefícios, como, por exemplo, a aposentadoria. Entretanto, quem já conseguiu sua aposentadoria pode, em meio a pandemia e crise econômica provocada pelo coronavírus (Covid-19), ter direito a pedir uma revisão dos valores e conseguir um reajuste em seu benefício mensal.

O aposentado pode requisitar a revisão, em alguns casos, pela via administrativa, ou seja, diretamente no INSS, ou ingressar com uma ação no Poder Judiciário. E mesmo com as agências e os fóruns fechados, os servidores estão avaliando os processos e emitindo parecer de forma bastante rápida.

Neste artigo vamos tratar das revisões que podem ser pleiteadas para quem conseguiu a sua aposentadoria pelas regras novas da Previdência, com pedidos de benefícios posteriores a data de 13 de novembro de 2019. Importante destacar que para aposentadorias concedidas após esta data, mas onde o segurado já preenchia os requisitos da lei antiga podem caber também outras revisões, como exemplo a "vida toda".

Vou tratar abaixo das 5 principais revisões que entendo cabíveis para quem se aposentou pelas regras novas do INSS: 

- Adicionais de ação trabalhista: Se o aposentado obteve aumento de salário resultante de uma ação trabalhista, ou até mesmo conseguiu reconhecer um vínculo empregatício, ganhará em sua aposentadoria mais tempo de contribuição, horas extras ou adicionais, dentre outros. Pode pedir a inclusão dessa diferença no cálculo da sua aposentadoria e, assim, aumentar o benefício. É importante observar que o período reconhecido pela ação trabalhista seja anterior à concessão de aposentadoria. Por exemplo, um segurado se aposentou em janeiro de 2020 e a ação trabalhista acabou neste mês de julho, porém, o período que ele pediu o reconhecimento do vínculo foi de 1993 a 1998, ou seja, antes da concessão do benefício.

- Erro de cálculo: Muitos aposentados têm, principalmente após a promulgação das novas regras previdenciárias impostas pela reforma, sido vítima do erro do INSS no cálculo dos valores mensais de seu benefício. Assim, para ter certeza de que o valor do seu benefício está correto, o aposentado pode pedir uma cópia do seu processo e identificar possíveis erros. Caso o valor realmente esteja errado, o segurado poderá pedir uma revisão por erro de cálculo pelo INSS. E os erros mais frequentes do órgão são: erro na regra mais favorável a ser aplicada; falta de inclusão de períodos especiais no cálculo; ausência de vínculos na aposentadoria e; a não inclusão der salários de contribuição menores que os recolhidos ou, até mesmo, inexistentes.

- Insalubridade: Outra possibilidade de aumentar o valor da aposentadoria é a inclusão de período em que o trabalhador exerceu uma atividade que colocava a sua saúde em risco. Exemplo: exposição a ruídos, frio ou calor. Nesses casos, os pedidos de revisão podem ser feito para quem apresentou documentos que asseguravam a exposição e não tiveram o reconhecimento administrativo desse período de atividade insalubre. É importante destacar que, após 13 de novembro de 2019, o período não será mais convertido de especial em comum, porém mesmo sendo requerida a aposentadoria após esta data as atividades exercidas anteriormente deverão ser convertidas (em regra multiplicando em 1,4 para homens e 1,2 para mulheres).

- Tempo trabalhado no regime próprio: Já o segurado do INSS que trabalhou por um tempo como servidor público vinculado a um RPPS (Regime Próprio de Previdência Social) poderá contabilizar esse período no cálculo da aposentadoria do regime geral. Para isso, ele deve solicitar a emissão da CTC (Certidão do Tempo de Contribuição) para o RPPS e enviar o pedido de análise ao INSS. É importante destacar que se o segurado optar por transferir este período para o INSS, não poderá utilizar esse tempo no regime anterior, caso queira reivindicar a previdência no RPPS.

- PCD: Com a reforma da Previdência, as regras de concessão e também de cálculo da aposentadoria da pessoa com deficiência (PCD) não foram alterados, porém em muitos casos o INSS não irá descontar os 20% menores salários de contribuição, o que é um erro e causa prejuízo na renda do aposentado. Caso isso ocorra, o aposentado PCD poderá ingressar com ação judicial para que haja desconto dos 20% menores salários, não sendo os mesmos considerados na aposentadoria.

Essas são possibilidades reais em que o aposentado do INSS pode solicitar a revisão do seu benefício e garantir o aumento de sua renda mensal, com o pagamento dos atrasados desde a concessão do benefício.

 

 

João Badari - advogado especialista em Direito Previdenciário e sócio do escritório Aith, Badari e Luchin Advogados.


Paulo Alvarenga diz que é preciso entender os cinco estágios de luto para conseguir sair da falência emocional

Saiba o que é falência emocional e como evitá-la : 5 estágios ligados a nossas necessidades  e carências

Especialista em ambientes psicologicamente saudáveis, Paulo Alvarenga diz que é preciso entender os cinco estágios de luto para conseguir sair desse estado

Nos últimos 4 meses, lemos ou assistimos notícias sobre o índice de empresas e negócios que faliram. Tão habitual e real quanto a insolvência econômica, apesar de pouco debatida, é a falência emocional.

Como será que essas pessoas que perderam seus empregos, negócios e renda ou, até mesmo, as que não fazem parte desse cenário, mas que também vivem a crise, estão fazendo para sobreviver emocionalmente a esse período de insegurança e incerteza? O especialista em ambientes psicologicamente saudáveis e escritor dos best-sellers “Atitude que te move” e "Dance com os Seus Medos" dá dicas de como superar esse momento difícil e direcionar os seus esforços para o futuro.

"O primeiro passo é entender qual é o significado da palavra falência, que em nosso imaginário é sempre povoada pela esfera financeira, pela “quebra”, ruína, fracasso, decadência de algum negócio.E para que você entenda de maneira objetiva, vou usar essa analogia do mundo dos negócios, que faz parte do nosso imaginário, para você assimilar o que é Falência Emocional.Trabalho com CEOs e grandes organizações no Brasil há mais de 20 anos e, geralmente, quando uma empresa decreta falência, o principal motivo é porque a taxa de mudança externa dessa organização é maior do que a taxa de mudança interna. Ou seja, quando as mudanças no ambiente são maiores do que as mudanças de cada indivíduo, ela está fadada ao fracasso e à falência.Porque o mundo, o mercado, o posicionamento, tudo está mudando e, se a empresa não muda os seus processos, valores, posicionamento, tecnologia, ficará designada à falência.E quando olhamos para nós, podemos imaginar a mesma situação", pontua o mentor.

Alvarenga destaca que estamos no meio de uma crise sem precedentes, vivenciando inúmeras mudanças em um curto espaço de tempo e tendo que lidar com todo tipo de sentimento e emoção: ansiedade, medo, frustração, raiva, vazio, oscilação de humor, impulsividade..

"Por isso, da mesma forma como acontece nas organizações, se a taxa de mudança externa for maior do que a taxa de mudança interna, esse indivíduo está predisposto a viver uma Falência Emocional. Se você se torna uma pessoa rígida, que não se adapta, que segue apenas as próprias regras, que é obsessivo por emoções e pensamentos negativos, vai chegar um momento em que você vai nutrir apenas emoções desgastantes", explica o coach.

Ele diz que esse sentimento de falência emocional está diretamente conectado à nossa carência e necessidades emocionais.

E quando o indivíduo decreta falência emocional, ele está num forte estágio de sobrevivência, literalmente, lutando para sobreviver. Ele não consegue nutrir boas emoções e se percebe sempre sem direção, ansioso, com medo, o que intensifica ainda mais essas emoções, levando a casos de depressão, síndrome do pânico, burnout…

O empresário diz que para sair desse estado de Falência Emocional é preciso entender e respeitar os 5 estágios de luto. São eles: negação, raiva, tristeza, barganha e aceitação.


Primeiro estágio: negação

"É nesse estágio que a pessoa mais sente e nega que chegou à falência emocional. Existe muita confusão, choque e um medo excessivo. E faz parte negar, evitar e reagir com oposição à esse sentimento de falência"

"É importante respeitar esse processo, principalmente, num momento forte de crise, mas tendo consciência de que isso vai passar. A dor existe, e ficar preso ao sofrimento e a negação é uma questão de escolha. Mas passar por esse estágio faz parte da vida".

Segundo estágio: raiva

"Nesse estágio, a pessoa entra num processo de irritação, frustração, muita raiva e ansiedade e, assim como no estágio de negação, é preciso reconhecer que a raiva também é uma emoção que existe e que faz parte da nossa vida".

"A diferença está em quanto tempo a pessoa foca e permanece nisso, Se ela fica obsessiva em sentir raiva, ou, presa a situação que ocasionou isso, consequentemente ficará cada vez mais num estado de falência emocional. É muito importante respeitar cada estágio, mas reconhecer que é preciso avançar".

Terceiro estágio: tristeza

"O terceiro estágio, na maioria das vezes, é o lugar em que as pessoas só conseguem focar na perda, e isso gera um desgaste profundo. Quando por exemplo, se perde alguém, o emprego, uma oportunidade, um estado emocional.. e para esse indivíduo o único caminho é enxergar a perda, como se não houvesse outra saída"

"Falta disposição, falta vontade, é como “jogar a toalha”. A pessoa não tem força para brigar, discutir, não se posiciona, é uma crise de energia".

Quarto estágio: barganha

"É nesse estágio que a pessoa começa a lutar para encontrar um novo significado além da falência emocional. É a grande virada e é quando ela começa a se preparar para sair disso. Ela quer contar uma nova história para si mesmo, quer trocar de experiências, de estado emocional, e isso gera um novo significado interno"

"Nessa luta, ela começa a ter mais clareza de que é possível vencer a falência emocional, e é quando ela entra no último e quinto estágio, o de aceitação".

Quinto estágio: aceitação

"Aqui, o indivíduo percebe claramente que passou por um processo de falência emocional e, por aceitar isso, consegue colocar um novo plano em ação. No estágio de aceitação é quando ele se move, é quando ele consegue colocar com vigor um plano em ação para realmente sair do estado de falência emocional".



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Como a saúde mental dos colaboradores impacta na reputação de uma marca empregadora


Prezar por uma boa saúde mental é imprescindível em qualquer cenário, principalmente nos ambientes corporativos. As dinâmicas que envolvem o bem-estar da instituição e a saúde mental dos colaboradores esbarram na sensibilidade das empresas em perceberem o quanto um corpo profissional desequilibrado emocionalmente poderá afetar e trazer prejuízos para a produtividade e o faturamento da empresa, arranhando, inclusive, sua reputação frente a clientes e parceiros - e acarretando sérios riscos para sua marca comercial.

Várias pesquisas sobre o tema apontam dados alarmantes. Conforme a OMS (Organização Mundial de Saúde), nosso país é o campeão em transtornos de ansiedade, com 9,3% dos brasileiros sofrendo deste mal. Além disso, cerca de um terço da população brasileira em atividade laboral ativa apresenta sinais de estresse, que é um importante fomento da Síndrome de Burnout - distúrbio emocional caracterizado pelo esgotamento mental que afeta profissionais em áreas distintas.

A mente humana é, sem dúvida, a parte do corpo mais exigida ao longo de uma jornada de trabalho, independente da função desempenhada pelo indivíduo. A capacidade de produção está diretamente ligada ao foco, a motivação, a concentração e ao comprometimento com os resultados, que só serão possíveis através do equilíbrio físico e mental, motivo pelo qual a maneira de encarar problemas de aspectos psicológicos deve ser repensada pelas empresas. Um colaborador em desequilíbrio psíquico pode, pela falta de motivação, ausentar-se de suas funções com maior frequência, além de apresentar uma incidência de atrasos constantes, implicando na elevação da taxa de absenteísmo. Outrossim, o Turn Over também pode acrescer impactando diretamente no capital intelectual, gerando a necessidade de investimentos em nova mão-de-obra e novos treinamentos, o que irá espelhar a elevação dos gastos mensais. Outro ponto crucial é o clima organizacional que, através dos conflitos nas relações interpessoais, das alterações de humor e falta de harmonia, poderá denunciar a presença de um claro desajuste funcional.

É muito importante que o olhar das empresas esteja voltado para a gestão da saúde e da promoção da qualidade de vida no ambiente corporativo. O cenário atual trouxe insegurança e a necessidade de sérias adaptações laborais. E cada indivíduo irá reagir a elas de forma diferente. Alguns conseguem adaptar-se com mais facilidade, outros nem tanto. E está tudo bem. Só é necessário prezar pelo bem-estar de todos, levando em consideração os dilemas pessoais, emocionais, físicos e até socioambientais.

O momento exige a valorização do cuidado da mente por parte das corporações, através do desenvolvimento de estratégias que contribuam para motivar, acolher e fortificar, intimamente o funcionário. Oferecendo, por meio de uma análise minuciosa do perfil de sua estrutura, condições para uma progressão profissional e pessoal, que estimule a execução das atividades diárias com qualidade e, consequente, entrega de resultados satisfatórios.

Algumas ações podem atenuar a situação e promover um ambiente corporativo mais confortável e atraente, no qual as pessoas sejam incentivadas a buscar ajuda profissional e a falar sobre suas aflições internas. Ao passo que poderão aprender a governar suas emoções com mais propriedade, tratando sintomas como ansiedade, insônia e até mesmo depressão. O fortalecimento da empresa está, de certa maneira, ligado à saúde e ao bem-estar de todos que a integram. Aumentando a confiabilidade e amparando os funcionários é possível promover o engajamento destes com a marca empregadora.

A empatia na gestão, os treinamentos por meio de rodas de conversa, mesmo que virtuais, incentivam uma comunicação mais transparente através da possibilidade da verbalização dos sintomas e das sensações. Estratégias que agregam de forma positiva os programas voltados para a revisão da relação com os colaboradores. O grande desafio aqui é perceber os sinais de que algo está errado. O resgate humano do cuidado é fundamental para o sucesso das implementações empresariais voltadas para o socorro emocional de cada um. Não podemos esquecer que as empresas são reflexos da sociedade e quanto mais saudável for seu ambiente, maior será o impacto positivo na saúde mental de seus funcionários, através do equilíbrio entre vida pessoal e carreira.

Infelizmente, a possibilidade de adoecimento psíquico por questões laborais ou por conta de um cenário adaptativo, ao qual todos estão sendo forçados a se encaixar, é uma realidade. Sensibilizar-se com a integridade física e psicológica do outro é um grande diferencial hoje em dia. Porém, o livre acesso ao suporte emocional e a escuta ativa nas companhias ainda é muito deficitário, motivo pelo qual é importante frisar que jamais a conversa sobre saúde mental deve ser evitada. Os tabus sobre o tema negligenciam a dignidade e o crescimento humano. Ao passo que as emoções influenciam os relacionamentos em ambientes de trabalho, seja na produtividade, na motivação, no humor ou no entusiasmo das pessoas.

Grandes instituições já entenderam a real necessidade do equilíbrio mental de suas equipes e estão investindo em ações a longo prazo que trazem impactos positivos através de políticas estruturadas na prevenção e no autoconhecimento dos indivíduos. Os resultados ecoam em mensagens subliminares de desejo de um crescimento pessoal e profissional para cada um.

Enfim, o colaborador ao se sentir acolhido, dominando de forma adequada  suas emoções, classificando sem neuroses seus sentimentos e aprendendo a dominar seu nível de estresse frente às pressões diárias, através do suporte psicológico recebido por parte da empresa, terá uma maior capacidade em reverter seu equilíbrio mental em resultados financeiros e entregas mais favoráveis para a marca empregadora que, consequentemente, estará apta a competir com mais força e destaque no mercado empresarial.

 

 

Dra. Andréa Ladislau - Doutora em Psicanálise, Psicóloga, Palestrante, Colunista, Menbro da Academia Fluminense de Letras, Gestora em saúde Repres. Intern. (USA) da University Miesperanza

 

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