Em tempos de pandemia é preciso cuidar da saúde
mental, bem como da saúde física. Especialistas afirmam que durante a
quarentena viram aumentar significantemente o número de pessoas com depressão,
ansiedade e vícios por cigarro e bebidas alcoólicas. E nesse contexto, é
necessário falar dos distúrbios alimentares que não ficaram fora da lista.
Mas afinal, o que a pandemia tem a ver com os
distúrbios alimentares e a distorção de imagem? De acordo com a psicóloga
especializada em Transtorno Compulsivo Alimentar (TCA), coordenadora do AMBULIM
na USP, Valeska Bassan, o ser humano tem
uma relação emocional com a comida durante toda a vida. “Estar em equilíbrio
significa conseguir deixar corpo e mente sã, mas muitas vezes esquecemos que a
saúde mental deveria vir primeiro do que a física, uma vez que estão
intimamente ligadas”, explica.
A pandemia trouxe muita insegurança e incerteza
para todos, gerando muita preocupação e ansiedade, o que naturalmente faz com o
que a saúde mental seja bastante afetada, e com isso os transtornos tenham
tomado uma proporção inimaginável.
“De forma consciente ou inconsciente é bastante
comum que durante o afastamento você tenha pensado em uma comida especial que
sua mãe faz ou aquela sopa deliciosa da sua avó e queira fazer em casa como
forma de matar as saudades, de aliviar a dor”, diz. E essa relação de afeto e
amortecimento com a comida é igual para todos.
Para a maioria, trabalhar em casa também foi um
desafio e facilita ainda mais as “beliscadas” durante o dia e a ingestão de
alimentos “gostosos”. Muitos pacientes relataram um significativo aumento de
peso durante a quarentena, o que para Valeska é completamente normal. “Foram mudanças
bruscas ao mesmo tempo e o stress no pico. O que deve ser percebido é a relação
do peso com a imagem corporal, eles conversam. Muitos pacientes não conseguem
enxergar o reflexo real do seu tamanho, percebem seu corpo muito menor ou maior
do que realmente é”. Ela ainda acrescenta que, muitas vezes, a percepção real
só acontece quando eles veem uma fotografia, vídeo ou uma imagem refletida de
si mesmos.
Embora a distorção de imagem afete mais mulheres do
que homens, eles não estão isentos disso. A bulimia e a anorexia são
transtornos em que essa característica está bastante presente. A nossa
percepção de imagem se desenvolve na medida em que crescemos e começamos a
receber observações de membros da família, treinadores, amigos e namorados.
Alguns traços de temperamento como o perfeccionismo e a autocrítica também
podem influenciar para o desenvolvimento de uma autoimagem corporal
negativa.
Muitos pacientes também relataram que ficar em casa
com tempo livre foi bastante desafiador, não apenas pela solidão, mas pela
presença de pessoas com corpos perfeitos nas redes sociais e na televisão, o
que é um desejo bastante inalcançável. “As pessoas sentem a necessidade em se
encaixar em padrões. Mulheres famosas que dizem que encontraram a beleza em
jejuns, dietas milagrosas e exercícios rígidos faz com que isso seja possível
para a maioria das pessoas. Mas vale lembrar que essa comparação é muito
injusta com a maioria das pessoas. Dificilmente ela vai conseguir chegar num
padrão do que é mostrado na mídia, muitas vezes tem edições de imagem e até
mesmo uma doença grave por trás daquela aparência desejada. A comparação com
outros corpos que não seja o seu é injusta e não deve ser feita”, comenta a
especialista.
A psicóloga ainda reforça que, em muitos casos, o
distúrbio alimentar pode ter se originado durante a quarentena e que é preciso
procurar um especialista para entender o quadro clínico, e quais as melhores
formas de tratamento.
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