Embora seja vetado para procedimento estético dos glúteos, clínicas clandestinas ou de baixa qualidade continuam usando o componente e provocando sequelas e até mortes
Realizar uma
cirurgia de aumento na região dos glúteos é um sonho que ocupa o imaginário de
muitas mulheres, mas que, ao mesmo tempo, faz disparar fortes sinais de alerta.
Não tanto pela impossibilidade da mudança estética, mas pelos caminhos que
muitas pacientes insistem em buscar para realizar o desejo.
Embora seja
condenado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pela
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC) e por outras entidades
representativas, o polimetilmetacrilato (PMMA), um composto derivado do
plástico e bastante semelhante ao silicone, continua sendo adotado por clínicas
clandestinas ou por profissionais pouco qualificados.
O cirurgião
plástico Dr. Felipe Villaça, da clínica FVG, especializada em procedimentos
estéticos, faz o alerta para que os pacientes jamais utilizem esse tipo de
material. “As organizações de saúde são bem enfáticas ao condenar o uso do PMMA
para cirurgias estéticas. É um produto com funções muito específicas, mas que
definitivamente não servem para aumentar nenhuma região corporal”, avisa.
Segundo ele,
a única função do polimetilmetacrilato recomendável para mudanças estéticas é a
diminuição das rugas, cuja aplicação não é considerada cirúrgica. “É o único
caso aceito pela Anvisa. O resultado é um preenchimento localizado, bastante pequeno,
minimamente invasivo. Ainda assim, é mais recomendável o uso de ácido
hialurônico, por exemplo. Mas em maior volume, como é o caso do bumbum, o PMMA
não deve em hipótese alguma ser introduzido no corpo”, afirma Dr. Felipe
Villaça.
“Há
registros de mortes, inclusive recentes, de mulheres que se dispuseram a
realizar o procedimento estético com polimetilmetacrilato e que vieram a óbito
por conta disso. Uma vez aplicado, é bastante difícil, para não dizer
improvável, sua total extração. A consequência pode ser a ocorrência de
inflamações, infecções e até de necrose. Por isso, o risco de haver algum
efeito colateral e até de morte é elevado no caso da cirurgia de aumento dos
glúteos”, avisa.
Cirurgia cresce em todo o mundo
A procura
pela cirurgia de aumento e contorno das nádegas tem aquecido o mercado de
cirurgias estéticas em todo o mundo. No Brasil, foram mais de 200 mil
procedimentos no bumbum só em 2022 – algo próximo dos 10% de todas as cirurgias
plásticas feitas no país. Os dados são da Sociedade Internacional de Cirurgia
Plástica (ISAPS, na sigla em inglês).
Em âmbito
global, as cirurgias de aumento cresceram 137% entre 2018 e 2022, e estima-se
que este mercado avance 22% até 2028, elevando o faturamento para a marca de
US$ 1,5 bilhão. “A região dos glúteos também é uma parte cuja transformação
promove uma elevação da autoestima feminina. Sentir-se bem consigo mesma traz
efeitos positivos para a saúde mental, mas antes é preciso pensar na
integridade física. E isso é algo que o PMMA não garante”, atenta o cirurgião
plástico.
O médico da
FVG garante que é possível alcançar o resultado desejado nos glúteos, mas a
partir de outras técnicas, e com materiais mais seguros. “A primeira orientação
é: esqueçam o PMMA! A segunda medida é buscar uma clínica especializada,
responsável, e conversar com um profissional especializado, capaz de oferecer
opções confiáveis, priorizando a integridade física e o resultado. É ele quem
poderá dizer qual o procedimento mais adequado para cada caso. Fora desse
cenário, descarte qualquer recomendação”, pontua.
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