A maternidade vem ganhando uma série de novos significados no mundo contemporâneo, deixando de ser entendida como um destino do qual as mulheres não poderiam escapar. Mudanças no âmbito social, cultural e mesmo comunicacional têm influenciado o entendimento das mulheres sobre a maternidade. Neste ponto, a rápida circulação de informação nas redes sociais, fóruns de discussão que envolvem o tema, grupos no WhatsApp e perfis pessoais nas redes vêm dando cada vez mais espaço para que este universo seja debatido, questionado, repensado e constituído na sociedade.
Segundo Mariana Musse, professora e pesquisadora da
ESPM, a circulação de informação sobre a maternidade vai se modificando ao
longo do tempo. “Se em determinado momento essa informação circulava a partir
de relatos de pessoas próximas que narravam suas experiências e a passavam
adiante em um âmbito privado e familiar, aos poucos a mídia entra na jogada”,
diz.
O conhecimento chegava por meio de revistas
especializadas, manuais, livros voltados aos primeiros cuidados com o bebê e
também na figura de médicos e especialistas que assumem o papel de "voz do
saber" ao se tornarem fontes seguras de informação. Com a chegada das
redes sociais surge uma série de publicações, vídeos, cursos, mentorias e lives
que colocaram o debate sobre a maternidade e suas questões em outro patamar.
“Encontramos desde perfis de pediatras, obstetras, psicólogos, educadores,
influenciadores, e, finalmente, de pessoas comuns que utilizam as redes para
colocar sua voz no mundo”, diz Musse.
Ao explorar essas perspectivas e ter mais acesso ao
conhecimento, chamou a atenção da pesquisadora o momento do parto no processo
de tornar-se mãe. Se antes a maternidade se iniciava após o nascimento do bebê,
hoje ela começa com o teste de gravidez positivo. “Houve uma mudança de
perspectiva sobre o que este momento significa para a mulher. Se há alguns anos
existia pouca ênfase ao processo vivido pela mulher, hoje envolve seu
protagonismo neste cenário. Há toda uma preparação física, mental, espiritual e
intelectual antes de viver este momento”, diz Musse.
De acordo com a pesquisadora da ESPM, este contexto
ganha visibilidade a partir do Movimento pela Humanização do Parto, que ganhou
força a partir da década de 90 no Brasil e no mundo. Este movimento visa, entre
outras coisas, menos intervenções médicas desnecessárias no momento do
nascimento e o respeito pela vontade da parturiente, ao longo do trabalho de
parto.
Este vasto universo também movimenta o mercado e
abre portas para o consumo. Novos serviços começam a ser oferecidos em
hospitais, profissionais relacionados à assistência ao parto se tornaram
produtos que podem ser consumidos, além das ofertas de cursos e preparações
para o Chá Revelação e o Chá de Bebê. “Vimos também diversos exemplos de
mulheres que a partir do sucesso de suas postagens no Instagram sobre a sua
experiência na gestação, no parto e no puerpério, por exemplo, passaram a
trabalhar oficialmente como influenciadores deste nicho”, diz a pesquisadora
que cita como exemplo a influenciadora ViihTube, que anunciou a segunda
gravidez e criou uma marca de produtos infantis, após o sucesso de suas
postagens durante a primeira gestação sobre a "maternidade
real".
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