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sábado, 4 de maio de 2024

Redefinindo a maternidade. Mudanças sociais, culturais e comunicacionais têm influenciado o entendimento das mulheres sobre a maternidade

 A maternidade vem ganhando uma série de novos significados no mundo contemporâneo, deixando de ser entendida como um destino do qual as mulheres não poderiam escapar. Mudanças no âmbito social, cultural e mesmo comunicacional têm influenciado o entendimento das mulheres sobre a maternidade. Neste ponto, a rápida circulação de informação nas redes sociais, fóruns de discussão que envolvem o tema, grupos no WhatsApp e perfis pessoais nas redes vêm dando cada vez mais espaço para que este universo seja debatido, questionado, repensado e constituído na sociedade.

Segundo Mariana Musse, professora e pesquisadora da ESPM, a circulação de informação sobre a maternidade vai se modificando ao longo do tempo. “Se em determinado momento essa informação circulava a partir de relatos de pessoas próximas que narravam suas experiências e a passavam adiante em um âmbito privado e familiar, aos poucos a mídia entra na jogada”, diz. 

O conhecimento chegava por meio de revistas especializadas, manuais, livros voltados aos primeiros cuidados com o bebê e também na figura de médicos e especialistas que assumem o papel de "voz do saber" ao se tornarem fontes seguras de informação. Com a chegada das redes sociais surge uma série de publicações, vídeos, cursos, mentorias e lives que colocaram o debate sobre a maternidade e suas questões em outro patamar. “Encontramos desde perfis de pediatras, obstetras, psicólogos, educadores, influenciadores, e, finalmente, de pessoas comuns que utilizam as redes para colocar sua voz no mundo”, diz Musse. 

Ao explorar essas perspectivas e ter mais acesso ao conhecimento, chamou a atenção da pesquisadora o momento do parto no processo de tornar-se mãe. Se antes a maternidade se iniciava após o nascimento do bebê, hoje ela começa com o teste de gravidez positivo. “Houve uma mudança de perspectiva sobre o que este momento significa para a mulher. Se há alguns anos existia pouca ênfase ao processo vivido pela mulher, hoje envolve seu protagonismo neste cenário. Há toda uma preparação física, mental, espiritual e intelectual antes de viver este momento”, diz Musse. 

De acordo com a pesquisadora da ESPM, este contexto ganha visibilidade a partir do Movimento pela Humanização do Parto, que ganhou força a partir da década de 90 no Brasil e no mundo. Este movimento visa, entre outras coisas, menos intervenções médicas desnecessárias no momento do nascimento e o respeito pela vontade da parturiente, ao longo do trabalho de parto. 

Este vasto universo também movimenta o mercado e abre portas para o consumo. Novos serviços começam a ser oferecidos em hospitais, profissionais relacionados à assistência ao parto se tornaram produtos que podem ser consumidos, além das ofertas de cursos e preparações para o Chá Revelação e o Chá de Bebê. “Vimos também diversos exemplos de mulheres que a partir do sucesso de suas postagens no Instagram sobre a sua experiência na gestação, no parto e no puerpério, por exemplo, passaram a trabalhar oficialmente como influenciadores deste nicho”, diz a pesquisadora que cita como exemplo a influenciadora ViihTube, que anunciou a segunda gravidez e criou uma marca de produtos infantis, após o sucesso de suas postagens durante a primeira gestação sobre a "maternidade real". 

 

Fonte: Mariana Musse - professora da ESPM e membro do Grupo de Pesquisa Consumo e Sociabilidade da ESPM


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