A sociedade sempre quer deixar as mães em um
pedestal, o que paradoxalmente, torna esse papel ainda mais difícil
Como diz o poema de Coelho Neto “ser mãe é padecer no
paraíso”. Ainda que aparentemente a conhecida frase seja compreensível
para todos, quem realmente a entende são as mulheres que verdadeiramente vivem
a maternidade. O paraíso é a parte mais lembrada por todos, em dias especiais,
como o dia das mães. Afinal, se tornar mãe vem junto com um sentimento de
plenitude, emoções e momentos únicos independentemente se for através de uma
gravidez ou da realização do sonho da adoção. De fato, a experiência de olhar
para o filho e saber que ele faz parte de você é única e até inexplicável. “A
mãe nasce junto com o filho e o amor de um para o outro vai se desenvolvendo
desde o ventre materno e ganhando força ao longo da vida”, comenta Cris Poli
(ex-SuperNanny Brasil), que tem 3 filhos, 5 netos e um bisneto, e é
coordenadora educacional, na EDF-Escola do Futuro Brasil.
Mas, conforme citado na frase popular, ser mãe
também envolve o ‘padecer’, já que a forte emoção vivida, vem marcada por
algumas aflições desde o início. Afinal, cuidar e educar uma criança é um
grande desafio e, por isso, também um aprendizado, meio que na marra, pois, as
crianças ‘não vêm com bula ou manual de instrução’. E não há livros que
ensinem o que a prática de fato nos mostra!
Segundo Priscila Moraes, que também é coordenadora na EDF, as mães oferecem aos filhos um
conforto para a vida. “Ter alguém que te ajude a se tornar ou não um ser humano
social e amoroso, passa muito por como as mães educam os filhos. Elas têm um
poder, que vem junto com a sentença: ‘a minha mãe falou’. E, essa fala,
carregamos por toda a vida. Como mãe de 4 filhos, psicopedagoga e
estudante de psicanálise, hoje eu entendo o quanto é necessário rever a nossa
própria criação e alguns ‘a minha mãe falou’, que ficaram guardados lá no
inconsciente, já que elas são humanas, e nem tudo que foi feito ou falado faz
bem aos filhos. Contudo, a sociedade sempre quer deixar as mães em um pedestal,
o que paradoxalmente, torna esse papel ainda mais difícil. Não podemos errar.
E, como não errar, se somos humanas, demasiadamente humanas?”, comenta.
Maternidade e paternidade equilibrada
Segundo a educadora, a
sociedade cobra as mães de uma maneira absurda e muitas vezes, elas permitem.
“Felizmente, cada vez mais vemos movimentos que buscam dividir a
responsabilidade do cuidado com as crianças, tirando o peso único das costas
das mulheres, mas, isso ainda é um longo processo a ser percorrido. Afinal, uma
cultura não muda tão rapidamente. Além disso, tem outras questões, como o de
rever o papel do homem na criação dos filhos e de como deveria ser uma proposta
real de conjunto e de igualdade na criação das crianças, e não o é. Entretanto,
há exemplos mundo afora, onde já se pensa em políticas que trazem a questão
paterna ao papel ativo no cuidar das crianças, começando por licença
maternidade e paternidade equilibradas, o que é ainda bem distante da realidade
do Brasil”, explica.
Isso se comprova em uma recente pesquisa do
Datafolha, que mostra que 69% dos brasileiros acreditam que a mulher ainda deve
ser a principal responsável pelo cuidado dos filhos e de crianças recém
nascidas. “Isso é um bom retrato de como estamos distantes dessa
corresponsabilidade para o cuidado dos filhos. Não tem como equilibrar
sozinha o papel de mãe, esposa, vida profissional e pessoal, sem ter
responsabilidades divididas, a conta não fecha. Algo sempre vai ficar com menos
atenção e para piorar a sobrecarga e a culpa disso ainda recai sobre a mulher”,
comenta Priscila Moraes.
Para Cris Poli, os homens devem equilibrar o peso da
responsabilidade de criar e educar um filho, evitando que as mulheres fiquem
sobrecarregadas. “O pai deve ser uma presença forte e precisa assumir a
liderança, orientar, estabelecer o caminho e a base para seus filhos,
crescerem, serem autônomos e terem habilidade para resolver os problemas. Isso
é como deveria ser, mas infelizmente o mundo tem desvirtuado esse
posicionamento do homem. Cabe aos pais colaborarem o máximo possível, se
organizando e participando mais na dinâmica familiar. As mães também devem
incluir esses pais nas atividades e tarefas de casa e com as crianças, para que
se envolvam efetivamente na ativamente em tudo que está relacionado a família e
a vida, criação e a educação dos filhos”, declara.
O apoio da escola
Entretanto, apesar de toda a
dura realidade que cerca o ser mãe, ter uma boa rede de apoio pode fazer toda a
diferença, independentemente de a atuação paterna ser atuante ou não. “A escola
faz parte dessa rede, que consegue amparar com algumas das responsabilidades.
Principalmente com as crianças menores, que são cuidadas neste ambiente
escolar, dando um respiro para as mães ficarem um pouco mais livres para outras
atividades. Deixar seu filho em um lugar onde está sendo cuidado e amado, faz
toda a diferença para aliviar o peso maternal. Receber notícias de quando algo
acontece, um lembrete do que pode ser feito para ajudar em determinada
situação, feito em parceria, acolhe o coração”, explica Priscila, que é coordenadora do infantil da EDF.
Mães têm um apego enorme aos filhos, e esse
sentimento se aflora quando chega a hora de deixar a criança sob os cuidados de
uma escola, nos primeiros anos de vida. “É um processo ambíguo, querer ver seu
filho crescer e querer que ele fique pequeno para sempre. Dói demais e as mães
sofrem e chegam a chorar. O pensamento é: ‘quem poderá cuidar do meu filho
melhor do que eu?’ É preciso conquistar a confiança, afinar a comunicação e
mostrar que é possível a criança receber cuidados tão amorosos como o da mãe, e
claro, mostrar todos os ganhos sociais que estar no coletivo proporciona a
qualquer criança. A mãe não pode dar sozinha tudo o que uma criança precisa
para crescer saudável holisticamente, mas pode permitir que a criança tenha
contato com tudo o que precisa, mesmo longe dela. Ser mãe também é permitir ir
para que o crescer aconteça”, completa.
Cris Poli, reforça a importância de a escola ser parceira
da mãe e da família: “Pois, a função educacional da instituição é importante,
pois a criança precisa compartilhar dos mesmos princípios da família, ter o
mesmo olhar, um cuidado semelhante, para que o estudante não fique dividido em
direcionamentos diferentes. As crianças e os adolescentes são beneficiados
quando há um alinhamento entre escola e família, sem medo. Essa colaboração é
fundamental. Porém, nem todas as escolas fazem isso, por isso, a escolha da
instituição deve ser criteriosa”.
A porção ‘paraíso’ do ser mãe merece sim ter
bastante destaque, já que gerar e criar uma criança é uma experiência muito
intensa e compensatória, mas, aliviar o fardo, para que elas não ‘padeçam’ é o
papel do pai, da família, da escola e da sociedade como um todo. “É difícil,
porém é possível! Todas as crianças precisam da mãe, mas também precisam do
pai, dos parentes e da escola, pois o afeto é básico para educar, para
corrigir, para disciplinar e orientar. Já a mãe tem um papel fundamental e
intransferível nisso, pelo vínculo de nascimento que tem com os filhos”,
completa a coordenadora da Escola do Futuro.
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