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sábado, 4 de maio de 2024

A prazerosa e difícil tarefa de ser mãe

A sociedade sempre quer deixar as mães em um pedestal, o que paradoxalmente, torna esse papel ainda mais difícil


Como diz o poema de Coelho Neto “ser mãe é padecer no paraíso”.  Ainda que aparentemente a conhecida frase seja compreensível para todos, quem realmente a entende são as mulheres que verdadeiramente vivem a maternidade. O paraíso é a parte mais lembrada por todos, em dias especiais, como o dia das mães. Afinal, se tornar mãe vem junto com um sentimento de plenitude, emoções e momentos únicos independentemente se for através de uma gravidez ou da realização do sonho da adoção. De fato, a experiência de olhar para o filho e saber que ele faz parte de você é única e até inexplicável. “A mãe nasce junto com o filho e o amor de um para o outro vai se desenvolvendo desde o ventre materno e ganhando força ao longo da vida”, comenta Cris Poli (ex-SuperNanny Brasil), que tem 3 filhos, 5 netos e um bisneto, e é coordenadora educacional, na EDF-Escola do Futuro Brasil.

 Mas, conforme citado na frase popular, ser mãe também envolve o ‘padecer’, já que a forte emoção vivida, vem marcada por algumas aflições desde o início. Afinal, cuidar e educar uma criança é um grande desafio e, por isso, também um aprendizado, meio que na marra, pois, as crianças ‘não vêm com bula ou manual de instrução’.  E não há livros que ensinem o que a prática de fato nos mostra!

 Segundo Priscila Moraes, que também é coordenadora na EDF, as mães oferecem aos filhos um conforto para a vida. “Ter alguém que te ajude a se tornar ou não um ser humano social e amoroso, passa muito por como as mães educam os filhos. Elas têm um poder, que vem junto com a sentença: ‘a minha mãe falou’. E, essa fala, carregamos por toda a vida.  Como mãe de 4 filhos, psicopedagoga e estudante de psicanálise, hoje eu entendo o quanto é necessário rever a nossa própria criação e alguns ‘a minha mãe falou’, que ficaram guardados lá no inconsciente, já que elas são humanas, e nem tudo que foi feito ou falado faz bem aos filhos. Contudo, a sociedade sempre quer deixar as mães em um pedestal, o que paradoxalmente, torna esse papel ainda mais difícil. Não podemos errar. E, como não errar, se somos humanas, demasiadamente humanas?”, comenta.


 Maternidade e paternidade equilibrada

 Segundo a educadora, a sociedade cobra as mães de uma maneira absurda e muitas vezes, elas permitem. “Felizmente, cada vez mais vemos movimentos que buscam dividir a responsabilidade do cuidado com as crianças, tirando o peso único das costas das mulheres, mas, isso ainda é um longo processo a ser percorrido. Afinal, uma cultura não muda tão rapidamente. Além disso, tem outras questões, como o de rever o papel do homem na criação dos filhos e de como deveria ser uma proposta real de conjunto e de igualdade na criação das crianças, e não o é. Entretanto, há exemplos mundo afora, onde já se pensa em políticas que trazem a questão paterna ao papel ativo no cuidar das crianças, começando por licença maternidade e paternidade equilibradas, o que é ainda bem distante da realidade do Brasil”, explica.

 Isso se comprova em uma recente pesquisa do Datafolha, que mostra que 69% dos brasileiros acreditam que a mulher ainda deve ser a principal responsável pelo cuidado dos filhos e de crianças recém nascidas. “Isso é um bom retrato de como estamos distantes dessa corresponsabilidade para o cuidado dos filhos.  Não tem como equilibrar sozinha o papel de mãe, esposa, vida profissional e pessoal, sem ter responsabilidades divididas, a conta não fecha. Algo sempre vai ficar com menos atenção e para piorar a sobrecarga e a culpa disso ainda recai sobre a mulher”, comenta Priscila Moraes.

Para Cris Poli, os homens devem equilibrar o peso da responsabilidade de criar e educar um filho, evitando que as mulheres fiquem sobrecarregadas. “O pai deve ser uma presença forte e precisa assumir a liderança, orientar, estabelecer o caminho e a base para seus filhos, crescerem, serem autônomos e terem habilidade para resolver os problemas. Isso é como deveria ser, mas infelizmente o mundo tem desvirtuado esse posicionamento do homem. Cabe aos pais colaborarem o máximo possível, se organizando e participando mais na dinâmica familiar. As mães também devem incluir esses pais nas atividades e tarefas de casa e com as crianças, para que se envolvam efetivamente na ativamente em tudo que está relacionado a família e a vida, criação e a educação dos filhos”, declara.

 O apoio da escola

 Entretanto, apesar de toda a dura realidade que cerca o ser mãe, ter uma boa rede de apoio pode fazer toda a diferença, independentemente de a atuação paterna ser atuante ou não. “A escola faz parte dessa rede, que consegue amparar com algumas das responsabilidades. Principalmente com as crianças menores, que são cuidadas neste ambiente escolar, dando um respiro para as mães ficarem um pouco mais livres para outras atividades. Deixar seu filho em um lugar onde está sendo cuidado e amado, faz toda a diferença para aliviar o peso maternal. Receber notícias de quando algo acontece, um lembrete do que pode ser feito para ajudar em determinada situação, feito em parceria, acolhe o coração”, explica Priscila, que é coordenadora do infantil da EDF.

 Mães têm um apego enorme aos filhos, e esse sentimento se aflora quando chega a hora de deixar a criança sob os cuidados de uma escola, nos primeiros anos de vida. “É um processo ambíguo, querer ver seu filho crescer e querer que ele fique pequeno para sempre. Dói demais e as mães sofrem e chegam a chorar. O pensamento é: ‘quem poderá cuidar do meu filho melhor do que eu?’ É preciso conquistar a confiança, afinar a comunicação e mostrar que é possível a criança receber cuidados tão amorosos como o da mãe, e claro, mostrar todos os ganhos sociais que estar no coletivo proporciona a qualquer criança. A mãe não pode dar sozinha tudo o que uma criança precisa para crescer saudável holisticamente, mas pode permitir que a criança tenha contato com tudo o que precisa, mesmo longe dela. Ser mãe também é permitir ir para que o crescer aconteça”, completa.

Cris Poli, reforça a importância de a escola ser parceira da mãe e da família: “Pois, a função educacional da instituição é importante, pois a criança precisa compartilhar dos mesmos princípios da família, ter o mesmo olhar, um cuidado semelhante, para que o estudante não fique dividido em direcionamentos diferentes. As crianças e os adolescentes são beneficiados quando há um alinhamento entre escola e família, sem medo. Essa colaboração é fundamental. Porém, nem todas as escolas fazem isso, por isso, a escolha da instituição deve ser criteriosa”. 

 A porção ‘paraíso’ do ser mãe merece sim ter bastante destaque, já que gerar e criar uma criança é uma experiência muito intensa e compensatória, mas, aliviar o fardo, para que elas não ‘padeçam’ é o papel do pai, da família, da escola e da sociedade como um todo. “É difícil, porém é possível! Todas as crianças precisam da mãe, mas também precisam do pai, dos parentes e da escola, pois o afeto é básico para educar, para corrigir, para disciplinar e orientar. Já a mãe tem um papel fundamental e intransferível nisso, pelo vínculo de nascimento que tem com os filhos”, completa a coordenadora da Escola do Futuro. 


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