Um anel de silicone anel que libera a medicação no
olho lentamente, ao longo de seis meses, pode ajudar a reduzir o risco de perda
de visão entre pacientes com glaucoma
Instituído pela Lei
Nº 10.456/02, o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma, dia 26 de maio, é
uma data propícia às reflexões sobre esta doença, principalmente, em como ela
afeta a qualidade de vida dos pacientes que são acometidos por este mal.
Prevenir a cegueira ainda é um dos grandes desafios da Oftalmologia.
“No Brasil, ainda não existe a consciência da gravidade do glaucoma. É preciso
apostar na promoção da visão, que consiste em repassar informações à população
sobre os meios de evitar doenças ou a perda visual. O glaucoma faz parte
de um grupo de doenças oculares que, gradualmente, ‘roubam a visão’, sem aviso
prévio e, não raro, sem sintomas. A perda da visão é causada por dano no nervo
óptico. Durante muito tempo, acreditou-se que a pressão intraocular (PIO) alta
era a principal causa desse dano ao nervo óptico. Embora a pressão intraocular
alta seja um fator de risco, atualmente, é sabido que outros fatores também
devem ser levados em conta”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion (CRM-SP 13.454),
diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
O glaucoma é uma
doença que apresenta desafios para o paciente e para o oftalmologista. Quando o
glaucoma é tratado em seus estágios iniciais, a perda da visão pode ser
prevenida.
“No entanto, os
estudos mostram que mais
da metade dos pacientes com glaucoma não aderem aos planos de tratamento
prescritos devido a fatores que incluem dificuldades em aplicar
colírios, falta de educação sobre a medicação e esquecimento. Muitos pacientes lutam diariamente para aderir ao
tratamento do glaucoma, especialmente os que estão gerenciando outros problemas
de saúde ao mesmo tempo. Mas, para cada dificuldade, há uma solução, que pode
ser desenvolvida para cada paciente. Não tenha medo de perguntar ao
oftalmologista tudo o que você precisa saber sobre o tratamento do glaucoma”,
defende a especialista em glaucoma do IMO, a
oftalmologista Márcia Lucia Marques (CRM-SP 110.583).
Um estudo, publicado no Archives of Ophthalmology – Impact of a Health Communication Intervention to Improve Glaucoma Treatment Adherence – destaca a ideia de que a adesão do paciente ao tratamento é realmente um grande desafio no caso do glaucoma. Nem mesmo quando recebem um telefonema diariamente, para lembrá-los da medicação, os pacientes com glaucoma se sentem motivados a participarem mais ativamente do tratamento. Um outro estudo, publicado no Journal of Glaucoma – Evaluating Eye Drop Instillation Technique in Glaucoma Patients – revelou que 9 em cada 10 pacientes com glaucoma não são capazes de instilar o colírio corretamente, o que pode ser uma importante causa da falta de adesão do paciente ao tratamento médico proposto.
Esperança
para os pacientes com glaucoma
Diante de uma doença de manejo tão complexo, um novo
dispositivo que libera lentamente a medicação diretamente na superfície ocular
pode ser uma opção promissora para muitos pacientes com glaucoma que lutam com
a administração diária de seus colírios.
“Uma nova pesquisa revela que um anel de silicone medicinal colocado
sobre a superfície do olho reduziu a pressão intraocular em pacientes com
glaucoma em cerca de 20%, ao longo de seis meses. A primeira pesquisa publicada
sobre esta tecnologia de administração contínua de drogas para glaucoma foi
publicada on-line no Ophthalmology,
revista da Academia Americana de Oftalmologia”, diz a oftalmologista Márcia
Lucia Marques.
Apesar da disponibilidade de terapias eficazes, o
glaucoma continua a ser uma das principais causas de cegueira. Cerca de 3
milhões de pessoas nos Estados Unidos têm a condição. No Brasil, a doença
atinge 2% dos brasileiros acima dos 40 anos (cerca de 1 milhão de pessoas). Muitas vezes, a doença é
caracterizada por pressão ocular interna elevada, chamada pressão intraocular.
“Os colírios ministrados diariamente ou duas vezes por dia reduzem a pressão
ocular interna para ajudar a prevenir danos no nervo óptico. Mas os estudos mostram
que muitos pacientes não conseguem instilar o medicamento apropriadamente
devido a fatores tais como o esquecimento ou limitações
físicas, como a artrite. Alguns estudos
mostram que metade dos pacientes param de usar os colírios prescritos para o
glaucoma depois de um ano, deixando-os vulneráveis à perda de visão”, diz a
médica.
Diante desses desafios do manejo do glaucoma, os
pesquisadores desenvolveram uma nova abordagem para instilação das drogas que
tratam a doença. Uma tecnologia que envolve um anel de silicone fino que libera
o medicamento para tratar a doença, lentamente, ao longo do tempo. Um
oftalmologista encaixa o anel no olho do paciente. Não é necessária uma
cirurgia. O anel foi concebido para ser substituído a cada seis meses. Isso
elimina a necessidade dos pacientes com glaucoma instilarem regularmente no
olho os medicamentos.
Oftalmologistas em 10 locais de todo os EUA testaram o
anel em um ensaio clínico de fase 2 em pacientes com glaucoma ou hipertensão
ocular. No estudo, 64 doentes receberam a inserção ocular tópica contendo a
droga bimatoprost para tratar o glaucoma. Eles também receberam lágrimas
artificiais. O grupo controle de 66 pacientes usava uma inserção
semelhante, sem nenhuma droga, mas, duas vezes por dia, utilizava 0,5%
de timolol, o marco regulatório para medicamentos de glaucoma. A pressão
ocular no grupo do bimatoprost caiu de 3,2 a 6,4 mmHg, ao longo de seis meses,
em comparação com 4,2 a 6,4 mmHg com o grupo do timolol. “No geral, a pressão
ocular diminuiu cerca de 20%, a partir das medições iniciais, ao longo de seis
meses, no grupo que usou o anel bimatoprost”, afirma Márcia Marques.
Segundo os autores, o dispositivo era bem tolerado e
seguro, com uma elevada taxa de retenção de 89% para ambos os grupos, em seis
meses. O anel ficou desalojado em 15 pacientes, mas foi substituído, em todas
as vezes, permitindo que a terapia pudesse ser contínua. Alguns doentes tiveram
coceira e vermelhidão nos olhos, o que não é incomum para pacientes que usam
medicação para glaucoma.
"Ao desenvolver tratamentos eficazes e fáceis para
os pacientes, a esperança é que possamos reduzir a perda de visão causada
pelo glaucoma, e, possivelmente por outras doenças. O que é interessante é que
este é apenas um dos vários métodos de instilação de medicamentos com liberação
prolongada projetados para ajudar os pacientes que têm dificuldade para
instilar os colírios diariamente”, diz a oftalmologista do IMO.
Um estudo de fase 3 com um grupo maior de pacientes
será iniciado ainda em 2016. Os autores notaram que o dispositivo também pode
ser usado para medicamentos não-glaucomatosos, com potenciais aplicações para
olho seco, alergias e inflamação. Além disso, a natureza não invasiva do
dispositivo e a área de superfície relativamente grande torna esta tecnologia
uma candidata potencial para a entrega de múltiplos medicamentos oculares de
uma só vez, reduzindo ainda mais a carga da auto-administração em pacientes.
IMO, Instituto de Moléstias Oculares