Gaslightting é um tipo de violência psicológica que tem como vítimas, na maioria dos casos, as mulheres. Entretanto, alguns homens também podem ser vítimas desse tipo de violência. Infelizmente, as estatísticas mostram que é pouco provável que uma mulher, no decorrer de sua vida, nunca tenha sido vítima de Gaslightting, seja no âmbito familiar, em uma relação afetiva, no ambiente laboral ou em outro meio social frequentado.
O Gaslightting baseia-se,
essencialmente, em obter controle sobre os demais através de táticas de
persuasão para diminuir a autoestima da vítima. Na medida em que a vítima vai
aceitando o comportamento manipulativo, o nível de manipulação vai aumentando
gradativamente.
Os Gaslighters são as
pessoas que cometem o Gaslightting, podendo ser praticados por homens e
mulheres. Alguns são fáceis de identificar, enquanto outros desafiam uma
percepção mais aguçada e possuem uma série distinta de comportamentos. O que
todos têm em comum é a manipulação enquanto estilo de vida para obter controle
sobre os demais, tirando o equilíbrio emocional da pessoa e fazendo com que ela
se questione sobre a sua própria realidade.
Exemplos de comportamentos
assim podem ser citados: o namorado extremamente controlador e ciumento, mas
que envolve a parceira por ser charmoso e autoconfiante, fazendo com que a
namorada acredite que o ciúmes é prova de amor; o assediador que culpa a vítima
por uma violência cometida contra a mesma, dizendo que ela foi a causadora da
situação, e/ou que está “maluca” e enxergando coisa onde não existe; o chefe
que sempre dá um jeito de levar o crédito pelo trabalho que você faz, ou,
então, que tenta invisibilizar – de forma direta ou velada – a sua competência
técnica, fazendo com que você se questione se realmente é uma boa ou bom
funcionário; o presidente de uma empresa que atormenta e intima os seus
subordinados, jogando um contra os outros para desviar a atenção do seu próprio
comportamento antiético no trabalho.
Discórdia e coleta de dado:
sim, eles vão além
Outra tática comum dos
Gaslighters é coletar informações fornecidas pela própria vítima e,
posteriormente, utilizá-las contra elas de forma a prejudicá-las. Eles tratam a
vulnerabilidade da vítima como uma fraqueza a ser explorada e, em muitos casos,
espalham boatos a respeito das vítimas para enfraquecê-las emocionalmente.
Causar discórdias entre as pessoas é algo que atende muito bem a necessidade
que eles têm de dominar e controlar, pois, assim, eles fazem com que as pessoas
concordem com eles, maculando o caráter da vítima, evitando o confronto direto
e evitando as responsabilidades por suas ações.
Um exemplo corriqueiro
desse tipo de conduta é quando a mulher, vítima de algum tipo de violência, decide
procurar ajuda e denunciar o que está acontecendo. Ao invés de ser acolhida
como deveria, o seu discurso é desqualificado e desacreditado, além de ser
acusada de estar expondo o seu agressor (que pode ser uma pessoa ou uma
instituição). A vítima, então, se torna algoz. Ela sofre um processo de
revitimização, se sente acuada e não sabe mais para quem recorrer pedindo
ajuda. Os perpetradores da violência usam o Gaslightting como maneira de
convencer as vítimas de que elas estão loucas, aumentando o ciclo de violência
que pode levar à depressão e, em alguns casos, ao suicídio. Para evitar esse
tipo de situação, está a importância da capacitação adequada dos profissionais
que atendem vítimas de violências.
No âmbito doméstico,
familiar e afetivo, o Gaslightting cometido contra a mulher pode configurar
violência psicológica a atrair a incidência da Lei Maria da Penha. Caso tal
fato ocorra contra a vítima mulher em outro ambiente, pode configurar o crime
de violência psicológica contra a mulher previsto no artigo 147-B do Código
Penal.
Se você é vítima de
Gaslightting, não hesite em procurar ajuda!
Flávia
Albaine - Graduada em Direito pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Especialista em Direito Privado pela Universidade Estadual do Rio de
Janeiro. Mestra em Direitos Humanos e Acesso à Justiça pela Universidade
Federal de Rondônia com pesquisa no tema sobre atuação estratégica da
Defensoria Pública em prol da inclusão social de pessoas com
deficiência.Fundadora e coordenadora do Projeto
Juntos pela Inclusão Social em prol das pessoas com deficiência e das
pessoas idosas. Coautora de livros sobre os direitos das pessoas com
deficiência. Palestrante. Autora de artigos acadêmicos e artigos de educação em
direitos sobre os direitos das pessoas com deficiência e direitos dos idosos.