Médico explica quando exame de cortisol deve ser solicitado
“O cortisol
salivar é um exame bastante interessante quando falamos da Síndrome de Cushing,
pois ele permite detectar precocemente a perda do ritmo circadiano, que é um
dos primeiros sinais de hipercortisolismo. Portanto há critérios clínicos para
solicitação da dosagem deste hormônio; o cortisol não deve ser dosado nas rotinas
de check-up, como temos visto acontecer em excesso”, explica Dr. José Viana
Lima Junior, endocrinologista da Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP).
Ao comparar
diferentes métodos de diagnóstico — cortisol salivar, cortisol urinário e
cortisol pós 1 mg de dexametasona —, Dr. Viana enfatiza que o exame salivar é o
primeiro a ser alterado na presença da Síndrome de Cushing e possui a vantagem
de não sofrer interferência de proteínas carreadoras, como a globulina ligadora
de cortisol (CBG). “A coleta de saliva é menos invasiva e mais prática,
facilitando o acompanhamento clínico e a adesão dos pacientes”, comenta o
endocrinologista.
Segundo Dr. Viana,
a dosagem de cortisol não deve ser utilizada como um exame de rotina. “Para
solicitar um exame de cortisol, é necessário haver uma suspeita clínica bem
estabelecida”, reforça. Entre os sinais que indicam a necessidade de
investigação estão hipertensão arterial fora da faixa etária habitual,
obesidade centrípeta, fraqueza muscular e a presença de hematomas espontâneos.
Além disso, o
endocrinologista explica que o exame deve ser realizado em horários
específicos, respeitando o ritmo natural de produção do hormônio no corpo
humano. “Se a suspeita é de excesso de cortisol, como na Síndrome de Cushing, a
coleta deve ser feita entre 11 horas da noite e meia-noite, quando os níveis
hormonais deveriam estar baixos. Já no caso de suspeita de deficiência de
cortisol, como na insuficiência adrenal, a dosagem deve ser feita entre 7 e 9
horas da manhã, momento em que os níveis deveriam estar altos”, orienta.
O endócrino também
alerta para as influências de outras condições clínicas no resultado dos exames
de cortisol. Pacientes com diabetes tipo 2 ou hipertiroidismo, por exemplo,
podem apresentar resultados alterados devido às mudanças nos níveis de
proteínas transportadoras do hormônio. “É preciso ter cuidado ao realizar
testes em mulheres que fazem uso de anticoncepcionais à base de estrógeno, pois
esses medicamentos podem interferir nos níveis sanguíneos de cortisol”, comenta
o médico.
O diagnóstico de
excesso ou falta de cortisol, portanto, deve partir de uma boa anamnese e exame
físico. “Infelizmente, hoje observamos um número crescente de diagnósticos
feitos apenas com base em resultados de exames, sem considerar o contexto
clínico do paciente. É fundamental tratar a clínica, não apenas os números”,
conclui Dr. Viana.
SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Estado de São Paulo)
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