Os dados são considerados hoje um dos principais ativos de uma
companhia. Isso porque ajudam a melhorar a operação em diversos aspectos, como
identificar riscos e oportunidades e, principalmente, tomar decisões
estratégicas. Alguns setores da economia já perceberam a importância desse tema
para o sucesso dos negócios, como o varejo, e por isso são bastante proativos
no uso inteligente dos dados. Na saúde, porém, isso infelizmente não é a
realidade de muitas instituições.
No segmento varejista, o uso de dados de forma estruturada e
integrada tem auxiliado as marcas a aumentarem suas vendas, otimizarem suas
operações, fidelizarem clientes e construírem estratégias de negócios mais
efetivas. Com o avanço da digitalização, o setor compreendeu a necessidade de buscar
plataformas de inteligência de dados que ajudem a entender toda a jornada do
cliente, personalizando as ofertas e a comunicação para se relacionar com o
consumidor em múltiplos canais.
Enquanto isso, o segmento da saúde vive uma realidade bastante
diferente. Apesar de estar avançando no processo de digitalização de forma
geral, o setor ainda não atingiu um nível de maturidade em relação à
inteligência de dados com foco em aprimorar a experiência do paciente. Isso
acontece devido à falta de uma cultura de dados mais efetiva nas instituições
de saúde, combinada com a dificuldade de integração entre os diferentes
sistemas que rodam nessas organizações.
Para superar esses desafios e transformar essa realidade, destaco
que a saúde pode – e deve – aprender com o varejo. Vejamos alguns exemplos: os
varejistas já entenderam que o uso de dados do histórico dos seus consumidores
auxilia em recomendações personalizadas de compra e na personalização de
ofertas. Gigantes do e-commerce, como a Amazon, já utilizam essa estratégia há
anos para oferecer uma experiência de compra mais satisfatória e fluida para
seus consumidores.
Fazendo um paralelo com o setor de saúde, os dados e o histórico
do paciente podem auxiliar no aprimoramento do serviço oferecido. O uso inteligente
de dados é muito importante, por exemplo, para trazer fluidez para a jornada de
saúde do paciente. Enquanto no varejo o consumidor é conhecido pela marca
independente do canal onde esteja (loja física, e-commerce, redes sociais), num
laboratório de exame na maioria das vezes o paciente precisa dar todos os seus
dados para agendar o exame, depois fazê-lo novamente para abrir a ficha no
local - e se ele voltar outras vezes a este mesmo laboratório, terá que repetir
o processo de novo! Ou seja: pouquíssima integração, ou intraroperabilidade,
dos dados em uma mesma instituição.
Além disso, o uso de dados também pode contribuir para o fomento e
avanço da medicina preditiva, que busca compreender a
probabilidade de uma pessoa desenvolver certa condição de saúde e, assim,
reduzir potenciais gastos associados com tratamentos.
Outra estratégia da abordagem de dados que se destaca no varejo
são as comunicações personalizadas. No que tange à área da saúde, por meio do
histórico do paciente é possível promover uma comunicação mais humana e
individualizada. Entre os exemplos está o envio de informativos
de prevenção a doenças crônicas para pacientes que tenham maior propensão a
desenvolverem aquela enfermidade, além de lembretes de exames e sugestões de hábitos
saudáveis adequados a cada paciente de acordo com seu histórico de
acompanhamento e pedidos médicos.
A inteligência de dados também é amplamente utilizada no comércio
para a gestão e a integração de diferentes canais de venda, auxiliando em
processos como controle de estoque, logística e gestão de custos. No caso da
saúde, os dados podem auxiliar na gestão estratégica de recursos das instituições,
como o melhor aproveitamento e distribuição de leitos, medicamentos, vacinas e
até profissionais, representando assim uma ferramenta poderosa para momentos de
alta demanda, como em cenários de surtos de doenças.
Por fim, o varejo tem usado a análise de dados para mapear tendências e hábitos dos consumidores. O que poderia ser replicado na saúde para antecipar e mapear possíveis surtos e epidemias e, assim, tomar todas as medidas necessárias para preveni-las ou amenizar seus impactos sobre a população. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu já uma ferramenta para detecção precoce, verificação, avaliação e comunicação de ameaças à saúde pública, a partir da inteligência de dados obtidos a partir de fontes públicas de informação.
Enfim, o uso inteligente dos dados, respeitadas todas as regras da
LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), representa a melhor alternativa para o
setor de saúde buscar formas de otimizar processos e custos, oferecendo uma
experiência melhor para todos os usuários, sejam eles os profissionais de saúde
e, sobretudo, os pacientes.
Rogério
Pires - diretor de produtos para Saúde da TOTVS
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