Com perdas econômicas superiores a 800 bilhões de reais, a enxaqueca prejudica a produtividade no país. Medidas no local de trabalho são consideradas como fundamentais para minimizar os efeitos, especialmente entre mulheres e trabalhadores informais
Um estudo recente do Instituto WifOR, solicitado pela Federação
Latino-Americana da Indústria Farmacêutica (FIFARMA), revelou que o impacto
socioeconômico da enxaqueca no Brasil ultrapassa 800 bilhões de reais em um
período de cinco anos. A doença, que afeta cerca de 31,4 milhões de
brasileiros, é responsável por perdas que representam cerca de 1,6% do Produto
Interno Bruto (PIB) do país.
A enxaqueca é uma das principais causas de incapacitação, especialmente
entre pessoas de 15 a 49 anos. No Brasil, 63% dos afetados são mulheres, o que
agrava as desigualdades de gênero. Apenas 40% das pessoas que convivem com a
doença estão expostas e recebem tratamento adequado.
Segundo o Dr. Marco Aurélio Bussacarini, especialista em saúde
ocupacional da Aventus, a enxaqueca tem um impacto econômico expressivo, não
apenas pelos custos diretos com tratamentos médicos, mas também pela perda de
produtividade. "Em média, uma pessoa com enxaqueca perde cerca de 19 dias
e meio de trabalho por ano. Isso significa um custo significativo tanto para o
trabalhador quanto para as empresas", afirma o especialista.
A perda de produtividade é um dos maiores desafios resultantes da
enxaqueca, com prejuízos tanto pelo absenteísmo (falta ao trabalho) quanto pelo
presenteísmo (quando o trabalhador está presente, mas não consegue ser
produtivo). "O presenteísmo é uma realidade difícil de medir, mas
extremamente prejudicial. Mesmo quando o colaborador está no ambiente de
trabalho, ele não desempenha suas atividades com a eficiência necessária devido
à dor e ao mal-estar da enxaqueca", complementa Dr Marco.
Esse quadro afeta diretamente a economia do país, prejudicando as
empresas e gerando um impacto financeiro significativo. Os trabalhadores
informais, que representam uma grande parcela do mercado de trabalho no Brasil,
são os mais vulneráveis a esse cenário.
"A situação é ainda mais crítica entre os trabalhadores informais,
que não têm acesso a benefícios ou condições que lhes permitam lidar de forma
adequada com os dias de incapacidade. Eles sofrem diretamente com a perda de
renda e oportunidades", ressalta Marco Aurélio Bussacarini.
Além do efeito sobre o trabalho remunerado, a enxaqueca também afeta as
atividades não remuneradas, como o cuidado com a casa e a família, o que agrava
ainda mais o impacto social da doença. Além disso, segundo o especialista, o
estudo destaca que as populações de baixa renda são particularmente
prejudicadas, e isso aumenta as disparidades econômicas e sociais no Brasil.
O levantamento sugere que medidas mais eficazes de diagnóstico precoce e
tratamento da enxaqueca são essenciais para mitigar esse impacto econômico.
"Precisamos de um esforço coordenado, não apenas entre médicos, mas também
em políticas públicas para garantir que as pessoas tenham acesso ao tratamento
adequado. Conscientizar a população e os trabalhadores sobre os impactos da
enxaqueca é crucial para reduzir esses prejuízos", aponta o Dr Marco
Aurélio.
Algumas diretrizes pontuam que a criação de um ambiente de trabalho mais
adequado para pessoas com enxaqueca — com ajustes na iluminação, redução de ruídos,
pausas regulares e acesso a atividades físicas leves — pode ajudar a diminuir a
frequência e a intensidade das crises. Além disso, é importante que o paciente
adote hábitos de vida saudáveis, como praticar exercícios físicos regularmente,
identificar e evitar alimentos que possam desencadear as dores, além de manter
um sono de qualidade. Essas medidas, combinadas, podem contribuir para a
prevenção e o controle das crises.
As novas abordagens terapêuticas, aliadas a um grande esforço para
identificar antecipadamente a enxaqueca e tratar seus sintomas, podem ajudar a
reverter o cenário atual, melhorando a qualidade de vida de milhões de
brasileiros. “É fundamental que todos entendam que a enxaqueca afeta
diretamente a economia e o bem-estar da população. Quanto mais cedo agirmos,
menores serão os danos”, conclui Dr. Marco Aurélio.
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