Pesquisa mostra que óculos melhoram o aprendizado de 51% das criança. Na pandemia, aulas online fizeram a miopia aumentar.
Em agosto as escolas estaduais
que estão fechadas desde o início da pandemia reabrem em 24 dos 27 estados
brasileiros. Ficam de fora Acre e Paraíba que reabrem em setembro após a
vacinação dos professores e Roraima que não têm previsão de reabertura.
Para o oftalmologista Leôncio
Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier na volta às aulas presenciais o exame
de vista deveria ser obrigatório. Isso porque, o
baixo rendimento escolar está associado à falta de óculos para 51% das
crianças. É o que indica pesquisa feita com 36 mil alunos
matriculados nas escolas municipais de Campinas. O levantamento foi realizado durante programa social realizado
sob a direção do oftalmologista pelo braço social do hospital em parceria com a
Secretaria de Educação de Campinas. Na iniciativa as crianças receberam óculos
doados por empresas do setor óptico após triagem visual e exame médico. “O estudo é resultado da avaliação dos pais e professores
após um ano de uso dos óculos” afirma. Para o médico o resultado explica porque
o relatório do pnud (programa das nações unidas para o
desenvolvimento) revela que 1 em cada 4 crianças brasileiras abandonam
a escola no ensino básico.
Aumento da miopia
Recentes pesquisas desenvolvidas na América Latina e China mostram que a miopia, dificuldade de enxergar à distância, aumentou entre crianças durante a pandemia. Os pesquisadores atribuem este crescimento à falta de exposição ao sol no isolamento. Isso porque, a radiação solar estimula a produção de um hormônio, a dopamina, que monitora o crescimento do olho, maior nos míopes.
Queiroz Neto afirma que as
aulas online também contribuem. Isso porque, um levantamento realizado pelo
médico com 360 crianças que permaneciam conectadas seis horas/dia encontrou
miopia em 21% contra a prevalência de 12% apontada pelo CBO (Conselho
Brasileiro de Oftalmologia) do qual o médico faz parte. “Isso acontece porque
os músculos do olho sofrem um espasmo causado pelo excesso de esforço visual
para perto”, explica.
Maioria nunca foi
ao oftalmologista
O especialista diz
que 7 em cada 10 crianças que participaram do programa realizado no
hospital nunca tinham passado por consulta oftalmológica. A estimativa do CBO
(Conselho Brasileiro de Oftalmologia) é de que na infância 20% precisam
corrigir a refração.
“Na pandemia as crianças
deixaram de usar a visão à distância e muitas não percebem que estão míopes. No
hospital, comenta, tem sido recorrente crianças que nunca usaram óculos
chegarem à primeira consulta com dificuldade de enxergar. O problema de
refração mais comum tem sido a miopia que está se tornando uma verdadeira
epidemia global. No mundo todo a preocupação é impedir a progressão. Isso
porque, acima de seis graus aumenta o risco de catarata precoce, glaucoma, descolamento
e doenças degenerativas na retina que levam à perda irreparável da visão. Para
controlar a progressão, recentemente chegou ao país uma lente de contato para
até 12 anos que estabiliza o grau impedindo o alongamento do olho. “As
primeiras prescrições mostram boa adaptação das crianças”, afirma. Outros
problemas comuns na infância são a dificuldade de enxergar de perto ou
hipermetropia, e visão desfocada para perto longe, o astigmatismo. Na infância o exame oftalmológico é essencial porque o olho
está em desenvolvimento até a idade de 8 anos.
“A falta de tratamento adequado neste período pode se transformar em
deficiência visual grave e até levar à perda da visão”, alerta.
Olho preguiçoso
pode cegar
Este é o caso da
a ambliopia ou olho preguiçoso que atinge 4% das crianças
brasileiras. Acontece quando o desenvolvimento de um dos olhos fica
comprometido pelo estrabismo (olhos desalinhados), catarata congênita
unilateral e diferença importante refração entre os olhos.
O tratamento deve ser feito antes
do olho completar o desenvolvimento. Consiste em ocluir o olho de melhor
visão para forçar o desenvolvimento do outro. Isso porque, a criança só
usa o olho bom e o outro fica cada vez mais fraco.
Ele diz que a oclusão é
suficiente para alinhar casos leves de estrabismo e fundamental para restaurar
a visão após a cirurgia de catarata congênita unilateral. Nem todo estrabismo,
destaca, pode ser percebido pelos pais. Há casos em que a doença é latente e só
pode ser notada nos testes de motilidade ocular feitos no
consultório. Dores de cabeça e torcicolo frequentes podem indicar
necessidade de consultar um oftalmologista para diagnosticar desvio latente do
olho.
Sinais de
problemas de visão
As
dicas de Queiroz Neto para descobrir se a criança tem algum problema de visão
que requer consulta imediata são:
Até 2
anos:
· Não
reage a estímulos luminosos
· Lacrimejamento
excessivo.
· Falta
de interesse pelo ambiente à sua volta.
·
Olhos desviados para o nariz ou para fora.
· Reflexo
luminoso na pupila.
· Pupila
muito grande, de cor acinzentada ou opaca.
Dos
três aos cinco anos:
· Desvio
dos olhos.
· Quedas
frequentes.
· Se
aproxima muito da TV
· Inclina
a cabeça para um dos lados ou para um ombro
· Vira
um dos olhos para fora quando está distraída
· Fecha
um dos olhos em locais ensolarados.
· Coça
os olhos, especialmente quando manipula o celular ou assiste TV
· Queixa-se
de visão dupla ou embaralhada
No
início da alfabetização:
· Faz
careta ou franze a testa para enxergar.
· Cansaço
nos olhos e dor de cabeça.
· Olhos
vermelhos quando esforça a visão
· Dificuldade
para enxergar o que está escrito na lousa.
· Aproxima
o rosto do caderno, livro ou celular.
·
Baixo rendimento escolar.
· Desinteresse
na sala de aula.
· Não
participa de atividades esportivas.
· Tem
dificuldade em distinguir ou combinar cores.